A cada dia que passa, a conta bate menos. Em uma ponta, a debandada de pacientes dos planos de saúde. De outro, o aumento da procura pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, para piorar o cenário, a redução no quadro de médicos na rede pública. Isso porque, entre 2014 e 2019, os hospitais e unidades públicas do DF perderam 347 clínicos.
Número que inclui pedidos de exoneração: do total, 184 solicitaram suas saídas. E a razão pela qual a equação não fecha é simples: falta de investimentos. As condições de trabalho na rede pública vão de mal a pior. Em alguns locais, não há sequer luvas para trabalhar. Em outros, faltam antibióticos e aparelhos essenciais para o atendimento à população.
Percentualmente, os números mostram que a rede pública perdeu 6,25% dos médicos em cinco anos. Em 2014, eram 5.546 clínicos para atender 2.852.372 habitantes. Hoje, são 5.199 para 3 milhões de pessoas, segundo o IBGE – sem somar o Entorno. Isso em um cenário em que, apesar dos esforços do SindMédico-DF, a atenção primária vive um verdadeiro caos e a privatização de hospitais e UPA’s segue em ritmo acelerado.
Uma realidade que confronta, inclusive, a recém-publicada Portaria 272/2019. No texto, a Secretaria de Saúde considera “a necessidade de estabelecer padrões para o atendimento humanizado, com respeito às individualidades de cada paciente”.
Parece piada. Na semana passada, estive no Hospital Regional de Ceilândia e ouvi, tanto de usuários da rede quanto de servidores, que “falta parede para encostar pacientes”. Isso porque não há nem maca suficiente e nem espaço físico para acomodar a quantidade de pessoas em atendimento, seja para serem medicadas ou à espera de uma vaga de UTI. O cenário é caótico. E tanto médicos quanto outros servidores se esforçam para dar conta de toda a demanda, tentando sanar problemas de gestão, de investimento no SUS, que decorrem há anos.
Importante salientar ainda que, quando observados por especialidades, os números de evasão da SES-DF revelam queda expressiva de pediatras: nos últimos quatro anos, o número de profissionais passou de 684 para 541. Na ginecologia e na obstetrícia, eram 667 médicos. Hoje, são 512. Entre os clínicos gerais, a o contingente saiu de 893 para 705.
E na cirurgia geral, a redução foi de 374 para 320. Porque é praticamente inviável salvar vidas em um sistema garantido constitucionalmente, mas ignorado na prática por sucessivos governos. Uma ferramenta que é, se não a maior, uma das maiores conquistas dos brasileiros. Mas, que precisa de boa gestão.E boa gestão se faz, antes de tudo, com conhecimento da realidade; o que parece não acontecer hoje no DF.