E por falar de amor, sem dor.
- Advertisement -
Vivem me condenando por nós dois. Por eu não ter esperado. Por eu não ter, mais uma vez, perdoado. Por eu não ficar para um novo sim, por não te aguardar no portão.
Sempre me olham como aquele que te deixou. Aquele que foi embora numa segunda-feira no meio do dia, sem cumprir as promessas da semana, sem deixar uns trocados de sentimento para a madrugada. Sempre me vêem como o cara que saiu, o injusto que partiu sem levar as chaves da casa, batendo a porta e o coração.
Eu sou o cara que interrompeu o álbum de fotos, os sorrisos posados nos almoços com os amigos, que atrapalhou as férias programadas para o feriado, que descumpriu os planos do verão. Eu sou aquele que esvaziou a cama, mas que esqueceu a escova de dente sobre a pia. Aquele que deixou, nas gavetas do guarda-roupas, mais espaço para a solidão.
Todos pensam que eu sou o cara que fechou as portas e abriu as feridas, o que parou no meio do caminho, quem fez os desvios, que seguiu na contramão. Sou quem deu adeus no meio da estrada, seguindo o próprio fluxo, que não repartiu mais a rota nem os sonhos. Sou quem deixou rastros de ilusão.
Para eles, sou o que pôs um fim. Quem retirou as reticências de nós dois.
É, eu sou o que teve a coragem de ir embora quando a casa já estava fria, quando as paredes ficaram escuras de tanta dor. Ninguém vê que eu sou aquele que de tudo fez para esticar a estadia, quem sempre te resgatou de suas covardias, o que não se calou, por não ter ouvidos, e o que ouvia cada vez menos ‘eu te amos’ e cada vez mais ‘perdão?’.
Eu sei, o amor é também paciência, é passo ao lado, é retenção. Mas, talvez eu tenha me cansado de te perdoar por nós, por sempre ter que dar espaço para suas justificativas, por sempre, sozinho, ter que por curativo na emoção. Talvez, o amor tenha gritado por limites, cansado de sobreviver da tua omissão.
Todos pensam que eu sou o cara que, intransigente, deixou de consertar as falhas e partiu sem deixar nenhuma explicação.
- Advertisement -
Ninguém vê que sou aquele que sempre sangrou detrás dos teus sorrisos. O que chorou os teus desavisos. O que engasgou a sua desatenção.
Ninguém sabe que eu sou o cara que sempre te deu motivos para ficar, que sempre te abriu as portas para entrar. Que sempre te deu a permissão.
Ninguém sabe que sou aquele que preferiu ir embora porque aprendeu que o amor é um pouco de dar motivos para o outro estar, um tanto de dar razões para não acabar, mas que amar é também como trocar toques entre campainhas. Um precisa ouvir o outro chamar. Ver o outro chegar. Os dois precisam acenar, refletindo reforços de direção.
Todos dizem que sou o cara que foi embora. E fui. Ninguém sabe que sou o cara que ficou sempre a espera. Que calejou os cotovelos na janela, enquanto você não chegava. Todos acham que te deixei, sem perceber que te abandonar foi minha proteção.
Sou o cara para você
Quero alguém que me namore
Um dia