Dia de luto e de luta pela saúde é uma chamada para que profissionais de saúde e usuários do SUS reflitam e cobrem do governo uma política eficaz nas unidades públicas de saúde
Gutemberg Fialho
Neste dia 14 de março, realizaremos uma mobilização em todas as unidades públicas de saúde do Distrito Federal. A ideia é usar preto para expressar a preocupação e a luta por melhores condições de assistência à população.
A pandemia da covid-19 lançou holofotes sobre o caos no SUS e a necessidade de uma boa estruturação. Ações emergenciais foram adotadas para o atendimento das vítimas da pandemia, mas a estrutura fixa do SUS no DF já vinha sucateada desde antes disso – o que se torna ainda mais gritante agora, quando os pacientes voltam a procurar as unidades de saúde por problemas não relacionados à covid-19 e não conseguem os atendimentos de que precisam.
Haverá quem diga que a saúde do DF tem grande aprovação popular. Mas essa é uma meia verdade. A avaliação positiva do sistema público do DF chega a 50% nas localidades onde a população é mais rica e não usa o SUS, porque tem plano de saúde. Quando se analisa os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios da Codeplan, nas localidades onde a renda é mais baixa e há mais pessoas dependentes dos serviços públicos, a desaprovação chega a 80%.
É uma parcela da população que sofre com a desassistência e dificuldade de acesso à assistência à saúde e que, quando consegue, padece com a falta de estrutura do sistema. O que ocorre é que a população cresce e envelhece, a Secretaria de Saúde do DF não contrata mais médicos e outros profissionais, nem resolve os problemas crônicos nos contratos de prestação de serviços e nos processos de aquisição e distribuição de medicamentos e insumos.
Levantamento feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 2020, mostra que 72% dos médicos brasileiros atuam no serviço público. Aqui no DF, no entanto, só 31% dos médicos estão a serviço da Secretaria de Saúde. Se considerarmos os que prestam serviços ao Instituto de Gestão Estratégica da Saúde (IGES-DF), esse percentual só chega a 37%.
O Conselho Regional de Medicina tem 17.436 registros médicos ativos e a Secretaria de Saúde emprega 5.422 deles (dados de janeiro deste ano extraídos do Portal da Transparência do DF). E esse número é ainda menor do que no início do atual governo, quando a SES tinha 5.679 médicos a serviço da população.
Está havendo uma substituição dos contratados por concurso público por celetistas contratados pelo IGES, onde a rotatividade de profissionais é enorme e impacta negativamente a qualidade da oferta de assistência aos pacientes.
A visão do que é a assistência à saúde no atual governo prioriza os atendimentos de pronto-socorro. Com isso, deixa-se de contratar pediatras, clínicos, anestesistas, cardiologistas e ginecologistas, entre outras especialidades médicas.
Resultado: o cidadão leva ainda mais tempo para conseguir uma consulta especializada e os problemas de saúde se agravam, demandam maior tempo de internação, procedimentos mais caros e, com a demora, aumenta o sofrimento do usuário do SUS e a quantidade de óbitos hospitalares evitáveis. Gasta-se mais para prestar um serviço de saúde pior.
O dia de luto e de luta pela saúde é uma chamada para que todos os profissionais de saúde e usuários do SUS reflitam e cobrem do governo uma política eficaz para melhorar a qualidade da assistência prestada à população nas unidades públicas de saúde.