Estou em alto mar, queimada de sol, contemplando o azul sem fim. Entre o mergulhar e o velejar, ela: a dúvida. Hesito. Estou cansada, a noite passada eu acordei e me dei conta de que tudo era um ir e vir entre tempestades e dias de avassaladora quietude. Ainda não sei o que mais me impacta, se o trovão ou o silêncio.
Então silencio. Apenas silencio, não me acalmo. Mar adentro, eu e as ondas – as do mar e as minhas. Nos quebramos a cada movimento. Eu e elas, as ondas. Abro os braços diante do mar, não há porto à vista. Só o vento que contorna meu corpo esculpindo vincos, desenhando trajetórias, brincando, desenhando rascunhos, reticências, palavras a completar.
Sinto o convite para navegar um pouco mais, ou talvez mergulhar, ainda não sei. Apenas ouço o barulho do vento e das ondas e dos dias passados e do tempo transcorrido e da areia escorrida entre os dedos. Ouço o tempo gritar silenciosamente dentro de mim.
Estou em alto mar, nada a esconder ou a declarar. Não é preciso qualquer véu. Somos somente nós dois, eu e meu infinito particular. As ondas me balançam, a água me lava e me leva e me pergunta: flutua ou mergulha?
Salto, braços estendidos, afundo, profundo, fundo, para o lado escuro do mar e de mim. Agora sou toda oceano. Viro onda, espuma. Sou arrebentação. Me desfaço, me refaço e volto pro mar.