Desde meados da década de 1990, a cada quatro anos acontece uma disputa paralela às campanhas eleitorais no Distrito Federal. A briga é para saber quem pode se apresentar como aliado, amigo, parente ou herdeiro político do ex-governador Joaquim Roriz. Hoje, aos 81 anos, adoentado e afastado da vida pública há uma década, quando renunciou ao mandato de senador por causa de denúncia de corrupção, ele continua sendo o político mais popular de Brasília.
Roriz encerrou seu último mandato como governador há doze anos, mas ainda tem tamanha popularidade que é comum vários políticos se apresentarem como seus herdeiros. Ou como responsáveis por obras feitas durante seus governos. A primeira batalha ocorreu em 1994, quando o cacique apadrinhou o então senador Valmir Campelo Bezerra na disputa por sua sucessão. À época, o então ex-secretário de Obras José Roberto Arruda disputou o apoio de Roriz, mas foi obrigado a concorrer ao Senado.
Eleito, Arruda provocou o primeiro grande racha no rorizismo. Disposto a seguir caminho próprio, criou a chamada Terceira Via em 1998, tentando colocar-se como uma alternativa na dicotomia Roriz X PT (azuis contra vermelhos) na capital da República. Adotando a cor verde, Arruda ficou em terceiro lugar e não declarou apoio nem a Roriz nem ao concorrente petista, Geraldo Magela, no segundo turno. Dois anos mais tarde Arruda acabou enredado no escândalo da violação do painel eletrônico de votação do Senado, sendo obrigado a renunciar ao mandato.
Obra viva
Enquanto isso, Roriz mantinha intacta sua popularidade. Ao todo, foram quatro mandatos (três pelo voto direto e um por indicação do ex-presidente José Sarney) e 14 anos como governador. Nessa década e meia Roriz passou a ter seu nome colado à ideia de benfeitor dos mais pobres. Por isso, seu sobrenome continua rendendo votos a quem se apresenta como seu discípulo. Sua obra como administrador continua vivíssima. O próprio Roriz, em seu curto mandato como senador, afirmou, num pronunciamento, ser merecedor de aplausos não apenas dos pobres, mas também de moradores de áreas nobres do Distrito Federal. E citou benfeitorias em setores longe do que se chama periferia.
“Com o intuito de preservar Brasília, a capital da República, iniciamos o processo de retirada de todas as 64 favelas da cidade, ainda no meu primeiro governo. Imaginem o problema social em Brasília, nos dias de hoje, se tal empreitada não tivesse sido realizada?!”, afirmou no plenário do Senado em 22 de março de 2007.
Em seguida, enumerou no mesmo discurso: “Não esqueci a classe média. Criamos e urbanizamos a cidade de Águas Claras. São milhares de apartamentos avaliados acima de R$100 mil. Também não me esqueci da classe média alta. Criamos e urbanizamos o Setor Sudoeste, onde os apartamentos são avaliados entre R$ 300 mil a R$ 1 milhão. Deixei lançado o Setor Noroeste para as classes de maior poder aquisitivo”.
Cidades-satélites
Mas é no meio dos menos afortunados que o nome de Roriz reina absoluto. Afinal, como governador ele transferiu 64 favelas, construindo oito cidades-satélites, beneficiando mais de 500 mil pessoas com casa própria, todas com saneamento básico. Aliás, até onde hoje há o valorizadíssimo Noroeste, existia um favelão. “Acabei com todas as favelas. Minha missão é cuidar do pobre. Uma cidade não pode ser só dos ricos”, disse Roriz no início de 2005. Naquele ano, a revista IstoÉ escreveu sobre o então governador: “Outras obras do governo mudaram a cara do DF, que tem 97% da população com água potável e 98% das crianças de sete a 14 anos na escola”.
E acrescentou: “Entre elas, os 26 quilômetros de metrô, as centenas de vias e viadutos e a ponte JK, eleita a mais bonita do mundo em 2003. Atualmente, o governo desenvolve 75 projetos sociais para a melhoria da qualidade de vida do morador de Brasília, única cidade latino-americana com 100% de saneamento básico, graças à construção de estações de tratamento de esgoto”.Diante da boa imagem, apesar das denúncias de corrupção que o envolveram, Roriz lançou as duas filhas na política ― Jaqueline e Liliane, e até a mulher, Weslian ― e teve agarrados a seu nome políticos que com ele trabalharam, como Jofran Frejat, José Roberto Arruda e Tadeu Filippelli. Em comum, os três propagandeiam no DF realizações que comandaram durante os governos Roriz.
A realidade acabou tornando premonitório um slogan do ex-governador: “Foi Roriz fez é Roriz que faz”.
(Continua na próxima edição)