No último dia 6, o ministro da Economia disse, durante uma transmissão ao vivo sobre o iminente envio da proposta de reforma administrativa ao Congresso Nacional, que “o modelo antigo levou à corrupção na política e à estagnação na economia”.
Um dia depois, comparou servidores públicos a parasitas. Passada uma semana, com sua retórica eivada de estereótipos, falou das domésticas passeando e continuou descarrilhado ao dizer que o parasita é o Estado.
O ministro pediu “desculpas”, que não foram e não serão aceitas por nenhum servidor público do País. A ofensa em si é antiética e fere o decoro do cargo público. A ideologia que dá margem aos arroubos de Paulo Guedes, no entanto, é o que mais preocupa.
Ao rotular, pejorativamente, os servidores públicos, recorrendo a estereótipos como “privilegiados” e “parasitas”, ele não faz mais do que dar continuidade à campanha em curso para voltar a opinião púbica contra o conjunto dos servidores, para facilitar as reformas que propõe. Na época da reforma da Previdência, a palavra era “privilegiados”.
Desmoralizar os servidores públicos e fazer campanha midiática contra eles se presta ao intuito de reduzir a presença do Estado e abrir concessões para o mercado. O que significa menos oferta de serviço público e mais espaço para exploração do lucro naquilo que o Estado oferece sem custo além dos impostos existentes. E é isso e não eventual redução de salários que vai diminuir os gastos do governo: Deixar de prestar serviços diretos à população.
Mas, ao deixar de prestar esses serviços, o governo impõe ao cidadão o custo da prestação pela iniciativa privada. E o discurso de eventual queda de impostos cai no vazio. A vida do brasileiro vai ficar mais cara – nem as domésticas (que dificilmente teriam ido) nem as patroas (que deixarão de ter empregadas domésticas) vão passear despreocupadas na Disneylândia.
Com relação à corrupção, o que se tem notícia ao longo dos anos é que políticos e seus apadrinhados, nomeados pelos mandatários para ocupar cargos comissionados (não concursados) e de direção, é que têm comandado esquemas de corrupção em órgãos e empresas públicas.
Quem tem denunciado e dado combate à corrupção não são outra coisa que não servidores públicos concursados e que só o fazem por compromisso com a coisa pública e porque têm o respaldo legal da estabilidade para cumprir seu compromisso de trabalho e de vida.