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Estatais ligadas ao governo federal repassaram nos últimos dois anos quantias milionárias de patrocínio a um instituto ligado ao sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes.
Petrobras, BNDES, Caixa Econômica e Banco do Brasil pagaram, com dispensa de licitação, um total de R$ 2,9 milhões para o Instituto Pela Produção, Emprego e Desenvolvimento promover eventos culturais na cidade natal do ministro, Santo Angelo (RS), que tem 79 mil habitantes, e em um município vizinho.
O instituto tem entre seus responsáveis Carlos Juliano Nardes, investigado na Operação Zelotes da Polícia Federal, que apura a compra de anistia de multas no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
Investigadores suspeitam que o sobrinho e o ministro tenham recebido dinheiro de empresas envolvidas.
O instituto que recebeu verbas de patrocínio se apresenta na internet como formulador de estudos e \”projetos novos\” para congressistas. Não há menções a promoção de eventos culturais.
Só a Petrobras pagou em 2014 R$ 1 milhão para o festival \”Natal Cidade dos Anjos\”. O valor é o equivalente ao repassado pela entidade para eventos mais tradicionais e com maior público, como a Bienal de São Paulo ou a Virada Cultural paulistana.
O instituto foi fundado em 2003 com o apoio de Augusto Nardes, então deputado federal pelo PP do Rio Grande do Sul. À época, ele mesmo declarou que a ideia era criar uma entidade que representasse empresários junto ao Legislativo.Na internet, Carlos Juliano se apresenta como vice-presidente e secretário-executivo da entidade.
NATAL
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O instituto está em nome de Mário Augusto Ribas do Nascimento, ex-prefeito pelo PP de São Miguel de Missões, município beneficiado com R$ 1,6 milhão de patrocínio do BNDES em 2013 e 2014 para um evento musical.
Nascimento, que se diz amigo de Nardes, afirma que buscou todos os recursos sozinho junto ao governo e que os Nardes não participaram da articulação.
O PP, partido de familiares de Nardes e ao qual ele também foi filiado, governa a Prefeitura de Santo Ângelo. O ministro visita a cidade com frequência e prestigiou o festival de Natal nos últimos anos.
OUTRO LADO
Augusto Nardes, que foi o relator do processo que recomendou a rejeição das contas da presidente Dilma Rousseff em 2014 no Tribunal de Contas da União, disse, por meio da assessoria, que não possui nenhuma relação com o instituto. Também afirmou que não ter ligação com o patrocínio para os projetos.
Carlos Juliano disse à reportagem que está afastado da entidade e que não participou da negociação por verbas das estatais. \”Eu saí\”, disse. Na página da entidade no Facebook, aparecem o número de telefone e atualizações recentes feitas por ele.
O ex-prefeito Mário Augusto diz que sua experiência no Conselho Nacional de Turismo ajudou a obter as verbas de patrocínio. Também ressaltou o potencial turístico, já que a região é conhecida por ruínas jesuitas do século 17.
A Petrobras afirmou que o patrocínio está \”alinhado à diretrizes de responsabilidade socioambiental da companhia\”. A Caixa disse que desconhece o parentesco entre o autor da proposta de patrocínio e o ministro. Também afirmou que o apoio obedece á política de incentivo a manifestações culturais regionais.
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