O Brasil é o quinto país no ranking mundial de feminicídio. Trocando em miúdos, nós mulheres podemos dizer que estamos sendo assassinadas covardemente. E o pior: muitas vezes, por nossos próprios companheiros. Somos treze vítimas diárias desse tipo de crime, que deveria ser classificado como hediondo.
Apenas na Delegacia da Mulher do Distrito Federal existem mais de 4 mil processos. Em plena Capital da República, 1,2 mil mulheres são violentadas todos os meses. O Distrito Federal é um dos recordistas no registro deste tipo de crime em todo o país. Estes dados podem parecer repetitivos, entoados dia a dia, como um mantra. Eles são o nosso sofrimento em roupagem numérica.
Pelos cálculos estatísticos, a cada 7 minutos registramos ocorrências de violência contra a mulher. Só durante o tempo que gastei escrevendo o primeiro enunciado deste texto, duas mulheres foram agredidas.
São desconhecidas. Em sua maioria, vivem em situações de vulnerabilidade. Mas isso me parece muito mais um disfarce social. A violência está em todas as camadas da sociedade, muito embora algumas se esforcem mais para jogar a sujeira para debaixo do tapete. Parecem estar distantes da realidade.
Quase 90% das usuárias de transportes públicos afirmam já terem sido abusadas ou sofrido situações de constrangimento. Não temos direito de ir e vir, consagrado na Constituição Cidadã. Nossos trajetos são mais perigosos; podemos não voltar. Temos medo de andar pelas ruas. Que Estado de direito é esse?
Meu pesar é saber que existe uma tendência a menosprezar nosso pleito. Embora sejam visíveis os esforços dos governos em instituições para frear os casos de violência, ainda não chegamos ao ponto primordial: precisamos ser combativos contra o machismo.
Precisamos de uma cultura de paz, de convivência harmoniosa, de discurso propositivo. Precisamos combater a impunidade, precisamos de políticas positivas e estruturantes. Precisamos de tecnologia aliada à segurança. Precisamos dos homens caminhando junto com a gente, lado a lado, contra o machismo que mata.
Necessitamos de mais representação. Precisamos de um novo pacto social em que seja um pesar para todos enterrar mais uma filha ou mais uma mãe. Abracemos a ideia de queo Brasil não tolera violência contra a mulher.
É cruel conviver com o medo de virar mais um número nessa estatística funesta. Quando lemos dados, não conseguimos assimilar as realidades. Para a maioria de nós, estatística. Para os familiares e amigos, histórias de vida abruptamente encerradas.
Elas devem sempre ganhar um nome e um rosto. Poderia ter sido eu ou você, mas foram Anne Mikaelly, Palloma Lima, Clésia Andrade, Ieda Rizzo Adriana Castro Rosa, Louise Ribeiro, Janaina Romão, Jessyka Laynara, Carla Grazyele, Marilia Jane e tantas outras.
(*) Rayssa é pré-candidata a deputada federal e ativista da causa das mulheres