Provavelmente, você leu o título deste artigo cantarolando “Zé do Caroço”, música de Leci Brandão, gravada em 1978, que trata de um personagem imortalizado por mais de uma dezena de artistas brasileiros, como Seu Jorge e o Grupo Revelação.
Zé do Caroço foi um líder comunitário no Morro do Pau da Bandeira nos anos 1970, que prestava serviços à favela. Por exemplo: comunicava vacinação pública e vendia espaços publicitários com promoções nas quitandas da comunidade.
Apesar da sua importância reconhecida pelos moradores, Zé incomodava a esposa de um militar da comunidade, já que passava em frente à casa dela na hora da novela.
A partir daí, a cantora e compositora Leci Brandão, que anos depois viraria deputada estadual pelo PCdoB do Rio de Janeiro, compôs e cantou a história (real) do Zé do Caroço.
Na última semana, os sambistas de Brasília foram impactados por uma notícia triste: o Bar do Calaf, no Setor Bancário Sul, vai fechar. O Calaf foi, entre outras, palco da mais tradicional roda de samba da Capital, às terças-feiras, com o grupo 7 na Roda, outrora chamado de Adora Roda.
O samba era passagem quase obrigatória para artistas que estivessem em Brasília no meio da semana. Lembro-me de encontrar Serginho Meriti buscando uma cerveja no bar como fosse “um qualquer”. Meriti é compositor, por exemplo, de Deixa a Vida Me Levar, eternizada por Zeca Pagodinho.
O Calaf também foi palco para artistas locais, como este que vos escreve. Um dia, nos tempos do grupo Tamo Junto participei de uma apresentação ali, tocando pandeiro profissionalmente, ao lado do meu irmão Gabriel (Foto/banjo).
Alguns dos componentes do Tamo Junto, depois seguiram carreira artística e emergiram para o cenário nacional, e hoje integram grupos de pagodeiros como o Menos é Mais. Uma galera que sempre aproveitava os dias de folga durante a semana para participar da roda, sem avisar a ninguém e sem cobrar pelas “canjas”.
E não eram somente músicos os assíduos às terças no Calaf. Certo dia, logo após as eleições de 2022, encontrei o deputado distrital Fábio Félix (Psol) comemorando a maior votação da história do Distrito Federal. Os colegas jornalistas e profissionais de várias outras áreas também eram figurinhas carimbadas no samba do 7 na Roda.
A essa altura, você já se convenceu da importância do Calaf para a cultura brasiliense. Por isso, torço para que este “breck” nas atividades daquele espaço não seja o fim definitivo, e que, em breve, nasça um novo líder no lugar do eterno (tal qual Zé do Caroço) Calaf.
Afinal, como diz Arlindo Cruz, a vida é um grande show, e todo show tem que continuar.