A delação do tenente-coronel Mauro Cid sobre sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro promete movimentar os corredores do Supremo Tribunal Federal nas próximas semanas. Com o aceite do ministro Alexandre de Moraes, da colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a grande dúvida que paira sobre a cabeça do ex-mandatário provavelmente seja: até onde Cid revelou?
Que o tenente-coronel era o braço operacional para as transações pouco republicanas de Bolsonaro, a maioria em dinheiro vivo, não resta mais nenhuma dúvida entre os policiais federais envolvidos no caso. Tampouco para Moraes. Porém, se trata de um ex-presidente que conta com o apoio de praticamente metade dos eleitores do País, e qualquer iniciativa açodada contra ele pode criar um clima de instabilidade entre as instituições, que já não andam lá às mil maravilhas.
Um exemplo disso foi a imediata reação da Procuradoria Geral da República contra a delação homologada. Na manifestação do órgão, o subprocurador-geral afirmou que a PF não tem legitimidade para fechar um acordo de delação premiada.
O posicionamento foi defendido pelo procurador-geral Augusto Aras, que comparou o caso com os das delações feitas pelo ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e pelo ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que depois sofreram questionamentos e não renderam condenações.
Vexame – Apesar da manifestação contrária do parquet, Moraes decidiu homologar a delação. Com o sinal verde do STF, a PF inicia uma nova fase na investigação: a checagem das informações oferecidas por Cid em seus depoimentos.
Até para evitar o vexame que se tornou a delação de Palloci, cujas acusações não foram comprovadas, os policiais responsáveis pelo caso irão colher novos elementos para dar respaldo às declarações feitas por Mauro Cid.
Impactos – O ex-ajudante de ordens, agora em liberdade provisória, terá que cumprir diversas medidas cautelares determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, como o uso de tornozeleira eletrônica, limitação de sair de casa aos fins de semana e à noite, afastamento das funções no Exército e proibição de contato com outros investigados.
No lado do front em que se encontram Bolsonaro e seus aliados, as expectativas em relação ao que Cid possa ter relatado às autoridades têm variado bastante. Os militares não acreditam em maiores impactos, nem que o tenente-coronel tenha feito denúncias inéditas contra o ex-chefe.
Clima pesado – Já entre os quadros do PL, partido do ex-presidente, o clima é bem mais pessimista. Na leitura de políticos aliados, o fato de Moraes, desafeto notório de Bolsonaro, ter achado a delação boa o suficiente para conceder liberdade provisória a Cid é um indicativo de consistência das informações oferecidas, e com grande potencial de dano.
Bolsonaro insiste em reafirmar não temer nenhuma informação dada pelo seu ex-ajudante, mas demonstrou apreensão ao ter negado o pedido de acesso à íntegra da delação. Já a ex-primeira dama, Michelle, há muito já demonstra profundo temor com o que pode acontecer em um futuro próximo.
Pelo sim, pelo não, Bolsonaro tratou de se internar na segunda-feira (11) num hospital particular em São Paulo. Avisou que fará três cirurgias nos próximos dias. Agora é aguardar os resultados das operações (cirúrgicas e da PF) para desvendar as cenas dos próximos capítulos…