No dia 23 de agosto, uma segunda-feira, o professor Josias Salgado (*) retomou às atividades presenciais. Foi a primeira vez, desde março de 2020, que ele saiu do trabalho remoto e entrou novamente no CED São Bartolomeu, onde acompanha cerca de 100 estudantes da unidade de internação de São Sebastião.
Três dias depois, na quinta-feira (26), Josias retomou o trabalho in loco. O professor, vacinado e fiel cumpridor dos protocolos de segurança sanitária, começou a sentir dores no corpo. Ao aferir a temperatura, o termômetro marcou quase 38 graus. Ele pensava que era uma gripe; mas estava com covid-19.
Para Josias, foi difícil acreditar no exame PCR-RT, que saiu na segunda-feira (1º/9), comprovando a infecção pelo vírus que já tirou a vida de mais de 10 mil pessoas no Distrito Federal (580 mil em todo Brasil).
Ele, que seguiu criteriosamente as recomendações de segurança sanitária durante toda a pandemia, disse que jamais imaginou que seria mais uma vítima da covid-19 ao retornar presencialmente à escola.
Do hospital, com medicação venal para normalizar a pressão arterial, o professor disse, por telefone, que está “abalado, preocupado”.
A esposa de Josias, de 49 anos, vacinada contra covid-19, e o filho, de nove anos, que está em aula presencial, também apresentaram sintomas semelhantes ao dele.
“Faltar para a família é o meu maior medo”, desabafou Josias, que preferiu não divulgar o nome verdadeiro por medo de retaliação ao falar sobre os problemas inseridos na equação volta às aulas presenciais/covid-19.
O cenário de angústia imposto ao professor Josias e à sua família não é um caso isolado. Quem frequenta as escolas públicas do DF vem vivendo o mesmo drama desde que o governo local determinou o retorno presencial às atividades escolares, no dia 5 de agosto.
335% de aumento
Segundo levantamento realizado pelo Sinpro-DF, em 16 dias, o número de escolas com casos de covid-19 aumentou mais de 335%. No dia 16 de agosto, 14 escolas registraram pelo menos uma pessoa infectada pelo vírus. Até o fim da tarde de segunda-feira (1º), o número chegou a 61 escolas.
“A gente vê os casos de covid-19 aumentando de forma assustadora nas escolas, mas não vemos ainda um empenho adequado do GDF em mitigar o risco de infecção pelo vírus no ambiente escolar.
Embora o Sinpro-DF venha fazendo uma série de cobranças, levantadas a partir de reuniões com delegados sindicais e com gestores, ainda não há um protagonismo de atuação por parte do governo.
Medidas básicas para coibir a proliferação do novo coronavírus, como testagem em massa, não vêm sendo adotadas nas unidades escolares”, denuncia a diretora do Sinpro-DF, Rosilene Corrêa.
Num esforço contínuo em defesa da vida, o Sinpro-DF está em negociação permanente com a Secretaria de Educação.
Desde o início da pandemia, em março do ano passado, garantias importantes foram conquistadas, como o ensino remoto – que durou por quase um ano e meio –, a vacinação de todas/os as/os trabalhadoras/es em educação e a garantia do emprego de 11 mil professoras/es em regime de contratação temporária.
Entretanto, outros pontos essenciais reivindicados pelo Sindicato continuam sem resposta.