“Ser a senadora do Lula no DF me motiva”
Chico Sant´Anna e Orlando Pontes
“Não podemos eleger pessoas que sustentam esse projeto bolsonarista, que traz a fome e tudo de ruim que nós estamos vivendo. Brasília não pode apoiar parlamentares que votam a favor da retirada de direitos das crianças, não defendem as creches públicas, não fiscalizam as ações nefastas do governo, são favoráveis ao homeschooling, à escola sem partido”. A declaração é da pré-candidata da federação PT-PV-PCdoB ao Senado, Rosilene Corrêa, em entrevista ao programa Brasília Capital Notícias, parceria da TV Comunitária com o jornal Brasília Capital e o blog do Chico Sant’Anna. A professora diz que ser a senadora do Lula a motiva.
“Precisamos ter gente lá que sustente o nosso presidente”.
Pesquisas mostram um retrato não muito bom para os partidos progressistas. Como a senhora analisa o cenário atual da campanha no DF? – Primeiro, tem muito pouco tempo que confirmamos nossas pré-candidaturas. Não se pode comparar o período de campanha de quem tem mandato e o de quem se coloca agora. Mas estamos com uma agenda intensa, andando pelas cidades, conversando com as pessoas. Isto tem sido feito há pouco tempo. Talvez este seja o que influenciou no resultado dessas pesquisas. Isso não nos assusta. Até porque nós estamos com um desempenho melhor. Isto mostra que à medida que a gente se apresenta, a tendência é aumentar o nosso potencial de voto.
A preferência por nomes do centro e da direita para o GDF e para o Senado não impõe a necessidade de os partidos progressistas repensarem a estratégia? – O PT sempre insistiu nesse caminho da unidade dos partidos progressistas. Ainda temos tempo até o início de agosto. E isso pode acontecer. Há algumas pedras no tabuleiro para serem mexidas.
É coerente uma das pesquisas mostrar que boa parte do eleitorado do Lula no DF vota na candidata do PL, Flávia Arruda, para o Senado? – O Lula é o candidato da maioria da população brasileira. E é muito recente a minha pré-candidatura e a do Leandro Grass, que somos a chapa do Lula em Brasília. Então, as pessoas já têm a opção pelo Lula. É claro que à medida que tomarem conhecimento de que o Lula tem uma candidata ao Senado aqui, há uma tendência natural de mudança. Se essas pessoas estão optando pelo Lula, é porque entendem que é preciso mudar o País.
“Para isso, o Lula precisa ter uma bancada no Senado e Câmara. E à medida que conheçam que tem uma chapa do Lula, a tendência é de que deem sustentação às nossas candidaturas.”
Um dos problemas que vocês têm é o desconhecimento junto à população... – Eu era apenas uma liderança do sindicato da minha categoria (professores). Não se pode comparar com o peso do mandato de uma deputada federal, por exemplo.
Qual impacto terá o pacote de bondades do Bolsonaro na campanha e no resultado da eleição? – Quando se fala de necessidade e carência, especialmente com as mulheres que estão com os filhos passando fome, não tem como cobrar que não aceitem qualquer benefício. Essa pessoa que está precisando e que quer matar a fome do filho não está errada em aceitar ajuda. Não é dela que temos que cobrar. Não se brinca com fome. Não dá para esperar. O que está errado é políticos agirem assim.
E esse pacote tem data de vencimento marcada… – Exatamente. O governo nem está mentindo, porque está dizendo que é até dezembro.. Está muito na cara que é só para enganar durante o processo eleitoral. E aí é bom lembrar que era proposta do PT e da oposição, ainda em meio à pandemia, que o benefício fosse de 600 reais e o governo não aceitou. E agora, na véspera das eleições, toma essa medida, assim como a redução do ICMS, que é outra farsa. Nós somos favoráveis a reduzir impostos para o consumidor. Mas não tirando da Saúde e da Educação, que já não têm, como foi feito pela Emenda Constitucional 95.
Ibaneis reproduz Bolsonaro no DF? – Estamos assistindo aqui a cópia do que se faz lá. A reforma da Previdência local foi mais dura do que a Reforma Previdenciária federal. Ibaneis aplicou uma alíquota para os aposentados maior do que o Bolsonaro. Precisamos nos unir contra as práticas maléficas de Ibaneis e Bolsonaro, como militarizar escolas e privatizar a Saúde e a CEB.
Qual é a estratégia da federação para enfrentar as máquinas do GDF e do governo federal? Militância de rua e cyber-militância? – Tem que ter uma combinação das duas coisas. Nas últimas eleições, as redes sociais – fake news especialmente – tiveram um peso gigante. E as mentiras vão continuar, infelizmente. Tenho andado pelo DF. E posso afirmar com muita segurança: nada substitui a militância na rua. Faz a diferença a pessoa olhar no olho do candidato. Nada substitui isso.
E o PT tem tradição de fazer campanha na rua… – Exatamente. Agora mesmo nossa militância está dando uma demonstração de responsabilidade. Todo mundo acompanhou a decisão da federação de que o candidato ao governo seria do PV e abraçou a campanha do Leandro Grass. Estamos caminhando juntos, e a militância está fazendo bonito, como sempre fez, com toda a empolgação. Nós temos um carro-chefe, que é o presidente Lula, e temos aqui um governador aliado do Bolsonaro que, sozinho, não daria conta de fazer tudo de ruim que está fazendo. Então, é preciso que as pessoas compreendam que precisamos derrotar o Bolsonaro, mas também derrotar os aliados que sustentam tudo isso.
E não só no Executivo… – Exatamente. As deputadas federais do DF, com exceção da Erika Kokay, sustentam esse projeto que está aí, que traz a fome e tudo de ruim que estamos vivendo. Votam a favor de todos os projetos que retiram direitos das crianças, não defendem as creches, não fiscalizam as ações nefastas do governo, são favoráveis ao homeschooling, à escola sem partido. Enfim, andam na contramão e fazem um discurso de boa mãe.
Qual a sua estratégia para evitar as abstenções e votos nulo para senador, que em 2018 chegaram a 50% dos eleitores que foram às urnas? –O Senado elitizou-se demais. Há um distanciamento do Senado da vida das pessoas. E resulta nisso. É como se não fosse importante votar no senador. Meu mandato tem que mudar essa lógica desse Senado lá longe, tomando decisões sem prestar contas de nada.
Você já tem algum projeto para esse mandato? – Temos de criar mecanismos para um mandato participativo. Na própria categoria dos professores eu percebo que existe um questionamento sobre de que forma o Senado vai alterar a vida das pessoas. Mas o Senado tem outros poderes. E isto não é muito falado.
Há três meses, em entrevista ao Brasília Capital, a senhora disse que em hipótese alguma disputaria outro cargo que não fosse de governadora. O que a fez mudar de ideia? – A coletividade. Quando coloquei meu nome para discussão para o GDF eu tinha muita clareza do que eu queria, que era estar com as pessoas, falando dos interesses diretos delas, desde o buraco da rua, ao atendimento no hospital, da árvore no Plano Piloto que não tem em Taguatinga. Nas a gente precisa ter compromisso. E a necessidade de apoio ao Lula é maior, é central. Quando eu pude argumentar, eu o fiz. Mas não poderia discordar da decisão tomada. Aí veio a discussão do Senado. Foi uma decisão coletiva, porque uma candidatura não é de uma pessoa, é do partido. E, no nosso caso, da federação. Houve um debate e o convencimento. Eu insisti na candidatura ao governo porque entendia que seria a oportunidade de o PT reafirmar o seu nome, de se reapresentar para a população do DF.
Há muito tempo o PT não tem um senador no DF… – Aí vem exatamente a discussão do espaço estratégico que é o Senado. De também ser uma candidatura majoritária, de também fazer a defesa do partido e, principalmente, porque precisamos ter gente lá que sustente o Lula. Então, tornar-me a senadora do Lula foi algo que motivou.
A sua motivação de ser candidata a governadora era porque tinha projetos e ideias para aplicar no Executivo. Eles foram absorvidos pelo Leandro Grass? – Sim. Eu estava na coordenação do Muda DF, que era a construção do programa de governo do PT e que agora é dos três partidos. Tudo está sendo recepcionado pela federação. E as bandeiras do Leandro são as mesmas nossas. Fazendo essa caminhada com ele, cada dia fica mais claro que ele realmente representa esse campo dos partidos da federação.
Há possibilidade de aproximação com o PSB? – Sempre foi disposição nossa. Estamos aguardando que o PSB-DF tome essa decisão. Ainda há tempo. Entendemos que é preciso seguir o exemplo do nacional e de outros estados, Tem espaço para todo mundo. Há condições de construirmos esta aliança.
Os rancores pessoais atrapalham? – Acredito que não. Assim como o Psol tem uma necessidade legítima de protagonismo, isto também ocorre no PSB. A candidatura majoritária coloca o partido no protagonismo.
Seria uma unidade mantendo os nomes já escolhidos pela federação PT-PV-PCdoB ou há espaço para mudanças? – A princípio, não há nenhuma intenção de mudança, até porque insistimos muito, antes que esses nomes fossem definidos, e não houve possibilidade. Nada é definitivo. Não tem registro ainda, e mudanças sempre poderão acontecer. Mas a disposição de nossa parte é de agregar sem causar crise interna. Mas estamos abertos ao diálogo. Até 5 de agosto tudo é possível, e nós queremos muito que outros partidos venham integrar o nosso time.
Como vocês estão se preparando para ir às ruas nesta campanha que promete ser uma das mais violentas da história, tomando por base o assassinado do militante petista em Foz do Iguaçu? – O risco é imenso. Às vezes, mesmo sem você aceitar a provocação, pode ser agredido, Para tudo tem um limite, e a gente precisa ter controle disso. É muito grave e triste o que aconteceu, e sabemos que não é um fato isolado e que estamos correndo risco sim. É possível que tenhamos a campanha mais violenta, sem sombra de dúvida.
E pensar que já tivemos uma “guerra” de bandeiras azuis contra vermelhas… – Mas naquele tempo as pessoas não andavam armadas. E agora há uma motivação e incentivo para isso.
Como evitar esse confronto com possível derramamento de sangue? – Há uma preocupação muito grande por parte dos dirigentes, orientando os militantes para evitar andar sozinhos. Tem muita gente, inclusive, insegura para colocar um adesivo no carro, para vestir uma camiseta. Está muito grave. A gente precisa falar disso. Queremos resgatar a democracia e o espaço para o bom debate. Precisamos falar de política, conversar sobre política. E não bater ou agredir os políticos.