Orlando Pontes
Pré-candidato do PSB ao Buriti, Rafael Parente, 44 anos, garante que seu palanque será o do presidenciável do PT no DF. Em entrevista ao programa Brasília Capital Notícias, parceria da TV Comunitária com o jornal Brasília Capital e o blog do Chico Sant’Anna, ele afirmou que negocia com outros concorrentes para formar uma frente única de oposição a Ibaneis Rocha e Bolsonaro. Mas que não há hipótese de abrir mão da cabeça de chapa. Ex-secretário de Educação, ele diz ter sido enganado por Ibaneis. “É o pior governador da história do DF, o mais arrogante, mais incompetente e insensível”.
O senhor é o único dos pré-candidatos ao GDF que nunca foi testado em urnas. Acha que isso atrapalha as tratativas com os outros partidos?
Estou sendo super testado em pesquisas (risos). A gente tem dados. Eu sou cientista. Acredito nas pesquisas. Todo mundo (marqueteiros e cientistas políticos) se embasa em dados para criar suas estratégias. A última pesquisa pública, do Metrópoles, colocou que na estimulada o Reguffe estava à nossa frente. Mas eu estou empatado com a senadora Leila. Na espontânea, eu estou em segundo lugar, logo depois do Ibaneis. Depois aparecem Leila e Reguffe.
O presidente do PT, Jacy Afonso, disse que o interesse da federação, que inclui o PV e o PCdoB, é uma coligação com o PSB e o Psol. O que o senhor acha disso?
A gente tem conversado tanto com a federação do PT quanto com outros partidos. Há conversas avançadas com o grupo do senador Reguffe e da senadora Leila com o ex-deputado Joe Vale. Mas a gente continua acreditando que aconteça uma coligação com a federação do PT.
O senhor abdicaria da sua candidatura para a construção de uma frente mais ampla?
De jeito nenhum! A minha candidatura vai até o fim.
Então, a condição para uma frente única teria que ser em apoiamento ao seu nome ao GDF?
De acordo com todas as pesquisas que todos os pré-candidatos fazem, o meu nome é o que tem a curva mais inclinada. O segundo ponto é que, de acordo com as nossas pesquisas quantitativas e qualitativas, a gente é quem mais amplia. Desde o início, eu propus que a gente tivesse critérios claros de como essa chapa fosse construída e que a gente fizesse pesquisas juntos e pudéssemos negociar. Propus isso há mais de seis meses. Eu quis que essa construção fosse coletiva, porque o nosso campo é democrático. A gente não pode aceitar que essa construção ocorra em cima de carteirada ou de chantagens. Mais do que nunca, nós precisamos de um grupo unido, que defenda a democracia e o estado de bem-estar social, e defenda os valores democráticos. A gente precisa desse resgate de valores, e ele precisa ser feito dentro de uma discussão democrática.
Então, na hipótese de não haver essa construção, o senhor seguirá numa candidatura solo do PSB?
Quero deixar bem claro que a minha candidatura segue até o final. Ou meu nome não é Rafael Parente. Sou 100% favorável à união do campo democrático, mas eu não posso aceitar que um projeto que comprovadamente está sendo o de melhor aceitação, que amplia mais do que os outros, que tem um candidato com mais experiência que os outros pré-candidatos, que pode fazer uma campanha melhor do que os outros, não prevaleça. Pragmaticamente, quando a gente leva em consideração todos os outros elementos, não tem nenhuma razão para que eu abra mão desse projeto.
O que lhe inspira tanto? Qual o seu projeto? O que o senhor mudaria em Brasília? Afinal, o seu principal cabo eleitoral é o ex-governador Rollemberg, que perdeu para o atual governador. O que o senhor mudaria em relação aos dois últimos governos?
A gente sabe que o DF está completamente abandonado. Este é o pior governador da história do DF, o mais arrogante, mais incompetente e insensível.
Mas o senhor foi secretário dele…
Exatamente. Eu não sabia que ele ia ser tudo isso. Ele chegou para mim e falou: “olha, Rafael, você vai fazer uma revolução na Educação. Você vai ter completa autonomia para ter sua equipe, para implementar todas as políticas públicas que você achar que vai conseguir os melhores resultados. A gente vai ter um governo progressista. O PCdoB está com a gente. A gente tem o Cidadania… Você é dessa cota progressista. Você vai fazer uma revolução na Educação. Venha comigo”.
E aí impôs a militarização das escolas…
Não só isso. Ele muito rapidamente provou que estava me enganando. Eu, como a maior parte da população, fui enganado. O que está acontecendo com o DF, na saúde, na educação, no transporte, na segurança, na iluminação, na limpeza, enfim, em todas as áreas, é um descalabro.
Dia 5 de janeiro de 2023, data da posse dos novos governadores, seu primeiro ato seria revogar a militarização das escolas?
O que a gente pode fazer como governador e secretário de Educação é oferecer novas propostas, mais modernas e efetivas para as escolas. Isto implica que as escolas, na gestão democrática, devem escolher o que é melhor para as comunidades escolares.
Como pedagogo, não acha que, quando tem essa votação nas escolas, o que vem à mente de muitos pais, e até de professores, é a questão da violência que circunda a escola e que, às vezes, entra pelo portão principal?
Se a gente oferecer uma solução de cima para baixo, estará sendo contraditório com a ideia da gestão democrática.
Então, o que eu acho que precisamos é oferecer a todas as comunidades escolares uma solução que resolva o problema da violência, da indisciplina, da falta de respeito. E que coloque na mão dos professores e dos diretores essa solução. E que eles entendam que é uma forma mais moderna, mais efetiva, que vai levar às crianças e aos jovens uma educação do século 21, que não é essa educação que aí está.
Mesmo diante da nova postura do Ministério Público, que revogou a nota técnica que dava sustentação à militarização, o senhor cogita em manter onde a comunidade entender que deve manter?
Se o Ministério Público sugerir ao governo que este modelo seja extinto, então a gente extingue o modelo. Se não há sustentação legal, então precisa ser revogado.
O senhor ampliaria ou reduziria o número de administrações regionais? Há uma proposta de dividir Planaltina em duas regionais e estudos para criar a do Assentamento 26 de Setembro, uma área que ainda é irregular.
A questão não é quantas administrações a gente tem, mas se elas conseguem oferecer um serviço de qualidade para a população. Para quê aumentar o número de administrações se elas não conseguem oferecer esses serviços? Elas precisam atuar como mini prefeituras. É preciso dar às administrações autonomia para que elas possam oferecer à população serviços de qualidade.
Como seria essa autonomia?
Elas precisam, por exemplo, tapar buraco da rua. O Na Hora pode estar relacionado às administrações regionais. A gente está estudando juridicamente a possibilidade de dar orçamentos para elas, como existe o PDAF para as escolas. Assim, as administrações poderão ter algum tipo de autonomia orçamentária para fazer pequenos consertos.
Mas isso não implicaria nas administrações terem seu próprio pessoal – engenheiros, arquitetos – para, por exemplo, emissão de Habite-se?
Nós deveríamos ter menos administrações, e elas funcionarem como prefeituras, descentralizando essas questões todas para que elas pudessem ter mais autonomia para oferecer serviços para a população.
Qual seria sua política habitacional, principalmente para a classe média? Investiria, como Ibaneis, na Cidade Urbitá, que será construída com financiamento de R$ 20 bilhões do BRB?
Não. O problema no DF é que a gente nunca conseguiu ter um planejamento urbano à frente do crescimento populacional. Hoje, não ocorre um crescimento urbano tão acelerado como teve nos anos 1990. Então, não tem porque ter essa agonia. É preciso dar uma freada e fazer com que esse crescimento seja de fato organizado.
Estudos técnicos anteriores à criação de Brasília diziam que é necessário preservar 50% do bioma Cerrado do DF, por conta da questão da água. Hoje, se considerar as áreas exploradas pelo agronegócio, as manchas do Cerrado são mínimas. E o GDF criando loteamento atrás de loteamento. Qual a sua proposta ambiental para o DF, face a essa expansão urbana?
Eu não sou contra o desenvolvimento econômico. Mas a gente precisa ter um desenvolvimento sustentável e olhando para essas questões ambientais. Um desenvolvimento verde. Inclusive, trazer muito mais investimentos internacionais, desde que respeitem essas regras. A gente não pode colocar em risco as nossas bacias e continuar esse crescimento desordenado sem respeitar os nossos biomas.
Nesse crescimento econômico, qual a sua proposta para a geração de emprego?
Em primeiro lugar, a gente precisa trazer mais investimentos nacionais e internacionais. Eu acredito que tenho mais condições do que os demais candidatos de conseguir atrair investimentos. Tem muito dinheiro em São Paulo. A gente pode trazer novas empresas, novas indústrias.
Para que setores?
Turismo, indústria criativa, tecnologia. A gente precisa criar estímulos para as empresas e indústrias que já estão aqui para que criem mais empregos. E pode utilizar – aí lembrando dos educadores sociais voluntários, não como uma questão de precarização do emprego, mas pensando numa política que foi implementada pelo Márcio França, ex-governador de São Paulo, do nosso partido – o Serviço Civil Voluntário. Se a gente pensar nas pessoas que estão desempregadas, que hoje são cerca de 300 mil no DF, e oferecer a 100 mil dessas pessoas uma bolsa, formação, e a possibilidade de elas fazerem algum tipo de serviço na Educação, na Saúde, numa delegacia, num parque, e elas receberem uma bolsa de R$ 600 a R$ 1.200, é melhor do que deixá-las paradas, trancadas dentro de casa. Ao mesmo tempo que estarão fazendo algum tipo de serviço, que não seja uma precarização de emprego, estarão se formando, se qualificando para voltar ao mercado de trabalho.
Como está sua interlocução com o setor produtivo para a implementação desse tipo de proposta?
Está muito bem. Tenho recebido sugestões do Sebrae e de outros interlocutores que têm me passado contatos e feito pontes com empresários locais. Obviamente, também trazem sugestões para diminuir, dentro do possível, os impostos, para estimular o desenvolvimento econômico.
Nós temos vivenciado um fenômeno muito comum em momento de pré-privatização de estatais, que é a precarização do Metrô. Qual a sua política para essa área? O senhor defende a privatização do metrô, do VLT, da saúde?
Não. Eu acredito que para que uma privatização aconteça é preciso ter certeza de que o setor privado vai prestar um serviço melhor, mais efetivo, e que a população vai de fato ter um ganho. E isso pode acontecer, como foi no setor de telefonia, quando a privatização gerou uma competição entre empresas e provocou melhoria e barateamento do serviço. Isso não acontece no caso de empresas que não terão concorrentes, como o Metrô e a Neoenergia. Portanto, eu não sou absolutamente contrário à privatização, mas o que aconteceu com a CEB foi um absurdo. O GDF privatizou uma parte da empresa e a gente passou a ter um serviço muitas vezes pior. Enquanto na maior parte do mundo, inclusive em países extremante capitalistas, acontece um movimento contrário, de reestatização de empresas estratégicas que haviam sido privatizadas. Até nos Estados Unidos a gente está vendo reestatizações. Então, esse movimento não pode acontecer. O metrô pode ser uma empresa lucrativa, com parcerias de comunicação, de propagandas. O BRB pode ser um banco mais lucrativo, de fomento, para ajudar a desenvolver o Distrito Federal economicamente, patrocinar e reabrir o Teatro Nacional, o desenvolvimento social, econômico e cultural de diversas formas. Eu realmente não vejo por que falar em privatizações.
O senhor seguiria algum modelo de onde a estatização de serviços tem funcionado?
Acompanhei, no Maranhão, a criação de uma empresa pública para resolver os problemas da saúde. E fiquei encantado com o que vi. Lá, não faltam medicamentos para os cidadãos, não tem fila. As pessoas conseguem atendimento, conseguem fazer cirurgias. É outro mundo. O ex-governador Flávio Dino tem uma equipe sensacional, e se eu conseguir me eleger, vou querer trazer o Carlos Lula para ser o secretário de Saúde do DF. Ele é genial. Vi o Hospital da Ilha que eles acabaram de abrir. Não perde em absolutamente nada para qualquer hospital privado aqui do DF. Impressionante!
Para chegar ao Buriti, como sua candidatura está se colocando nesse cenário de pré-campanha?
A gente tem uma situação mais confusa aqui no DF do que em outros entes federados. Felizmente ou infelizmente, a situação pode ser clareada no começo de julho e mostrar quais serão realmente os candidatos, devido a indefinições relacionadas à Justiça. Tem também a briga política no bolsonarismo. O presidente tem se articulado com seus ministros do Supremo e o governador Ibaneis com a sua influência sobre o Judiciário. Bolsonaro quer uma chapa para chamar de sua no DF. O que as pessoas comentam é que ele não confia no Ibaneis. Já Ibaneis, atira para todo lado e continua tentando enganar todo mundo. Por isso é chamado de ‘Inganeis’. Promete o que pode e o que não pode. Diz que quer conversar com Lula, mas coloca todo mundo para falar que o palanque dele é bolsonarista. Promete coisas para os bolsonaristas, para a esquerda, para o centro. Atira para todos os lados, mas não quer se comprometer com ninguém.
E o senhor? Qual o seu palanque?
É o palanque do Lula. Não tem o que questionar. O Brasil está numa luta a favor ou contra a nossa democracia. A gente tem de um lado o Alckmin com o Lula e do outro um projeto fascista. Todas as pessoas que querem a continuidade da democracia no Brasil e veem todos os retrocessos na educação, na saúde, no meio ambiente, na imagem do Brasil no exterior (que nunca foi tão ruim), precisam se unir. São tantos absurdos de violência e truculência acontecendo no País! São retrocessos na democracia e aumento da miséria e da fome. Então, não tem muito o que questionar. Estamos com Lula já no primeiro turno.