Entre tiros e bibliotecas
Orlando Pontes e Chico Sant’Anna
Pré-candidato ao Senado, o empresário Paulo Octávio, 72 anos, espera a definição do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, sobre o apoio a Lula ou a Bolsonaro para montar seu palanque no DF. Em entrevista na segunda-feira (4) ao programa Brasília Capital Notícias, parceria da TV Comunitária com o jornal Brasília Capital e o blog do Chico Sant’Anna, ele reforçou sua preocupação com a preservação do Plano Piloto: “Brasília tem que ser totalmente preservada. O projeto urbanístico de Lúcio Costa é campeão e não pode ser mudado jamais”.
Estamos a três meses das eleições. A qual cargo você vai concorrer? –Minha expectativa é de concorrer ao Senado.
Dizem que a cadeira de vice está reservada para você… – Eu quero somar, quero participar dessa eleição porque acho que com a experiência que tenho, é bom estar presente no quadro político local. Gostaria de sair candidato ao Senado, mas numa composição tudo é possível.
O PSD não firmou nenhum compromisso nacional e liberou os estadospara fazer acordos locais. No DF, vocês já descartam alguma aliança? –Eu tive, de fato, conversas com todos os partidos. O senadorIzalci (Lucas, PSDB) convidou a minha esposa para ser vice dele. O PT quer fazer uma aliança conosco como fizeram em Minas Gerais, de lançar um candidato ao governo e fazer umacordo com o PSD. Conversei com o PDT. Portanto, as conversas estão abertas.
É mais fácil, hoje, no plano nacional, apoiar Lula ou Bolsonaro no segundo turno? – Esta conversa vai depender muito do (Gilberto)Kassab (presidente nacional do PSD).
Mas ele disse que pretende escutar os estados… – Ele vai escutar os estados, e cada estado vai dizer. Então, essa definição do segundo turno eu acho que a gente vai deixar mais para a frente.
E quem estará no seu palanque no primeiro turno? – Depende do candidato ao governo. Se for apoiado pelo Bolsonaro, nós estaremos apoiando o Bolsonaro. Se for o Lula, apoiaremos o Lula. Realmente é uma situação que vai depender do candidato ao governo.
Lula disse que transformaria os clubes de tiro em bibliotecas. Você ficaria confortável no palanque de um candidato que defende mais as armas do que escolas? – Os dois candidatos têm seus pontos positivos e negativos. Eu sou um defensor da educação. A gente só vai desenvolver este país com educação. Não sou contra os clubes de tiro, até porque tem muita gente que gosta. Acho que tem que ter liberdade para os clubes de tiro. Agora, as bibliotecas devem ser preservadas e incentivadas.
O que você gostaria de ter feito, quando estava no governo junto com Arruda, mas não teve tempo porque o mandato foi abortado – Além de vice-governador eu era secretário de desenvolvimento econômico. Foi um momento em que a gente conseguiu gerar muitos empregos, ativar o setor produtivo. Quando chegou a crise que nós vivemos, eu entendi que a crise era tão profunda e estava afetando tanto a vida da cidade que era melhor não deixar crise na cidade. Então entendi que o presidente da Câmara Legislativa assumir não tinha nenhum problema. O Wilson Lima assumiu e deu uma pacificada. Brasília estava se tornando uma referência negativa para o Brasil todo.
O que você chama de “crise” foi, na verdade, o maior escândalo de Brasília – a Caixa de Pandora. E foi o segundo momento em que o então governador se envolveu num escândalo (ele já tinha violado o painel do Senado e teve que renunciar). Esse ex-governador pode voltar a ser inocentado e reabilitado a disputar uma eleição. Você o apoiaria pela terceira vez? – Já se passaram 12 anos e pouca coisa foi provada. Até hoje não se tem ainda uma prova de que se estava comprando os deputados. Tanto é, que os deputados foram absolvidos.
E as supostas notas de compra de panetones? – Os panetones existiam realmente. Ele doava panetones para a população. Entregava para as pessoas no Natal. Se ele recebeu dinheiro de uma pessoa para comprar os panetones, é preciso deixar bem claro que aquilo não era governo. Era o Arruda deputado federal. Isso tudo veio bem antes do período de governo. A coisa foi tomando uma proporção muito grande. O DEM não foi um partido correto naquele momento de dar uma sustentação política. A crise tornou-se nacional, maior do que os fatos. A imprensa explorou bastante e os adversários aproveitaram bem.
Repetindo a pergunta: se o Arruda conseguir voltar a ser elegível e se colocar na disputa, você vai apoia-lo? – Como eu disse, tenho conversado muito com os políticos de Brasília. Inclusive,com a esposa dele, que é candidata ao Senado. A corrente política que a gente vai estar junto depende das articulações da convenção.
Ano que vem estará em pauta o PPCub (Projeto de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília). Qual a sua visão de proteção do projeto de Lúcio Costa?– Brasília tem que ser totalmente preservada. O projeto urbanístico de Lúcio Costa é campeão e não pode ser mudado jamais. Logicamente a cidade cresceu. Por exemplo, o Setor Gráfico hoje quase não tem gráficas na proporção que tinha antigamente. O Setor Comercial Sul está abandonado. Não defendo residências ali, mas uma certa flexibilidade. Porque não fazer faculdades lá? Tem que dilatar a ocupação de atividades que podem gerar ocupação. Mas no PPCub defendo a preservação do Plano Piloto com muita firmeza. Minha mulher preside o Memorial JK, que protege a história da cidade. Nós temos um compromisso efetivo com Brasília.
Falando em família, você está preparando um sucessor político, o André, pré-candidato a deputado federal ou distrital. Se eleito distrital, será um dos 24 deputadosa discutir o PPCub. – Graças a Deuso André se interessa por política há muitos anos e, felizmente lançou seu nome como candidato a deputado. Eu tenho gostado demais de ver meu filho caminhar pelas cidades.
E ele tem caminhado com quem? – Como não tem nada formado, ele tem caminhado muito sozinho e com meu grupo político.
Na sua propaganda, você fala em plano de metas… – Tudo na vida tem que ter projeto. Por exemplo, eu fiz um seminário das Organizações Paulo Octávio. Reuni os 500 gerentes e diretores do nosso grupo e tracei as metas até 2030. No Brasil, prefeitos, governadores e presidentes não lançam projetos e acabam com os dos antecessores. JK deu certo porque na eleição ele lançou um plano de metas e a meta-síntese era Brasília. Cumpriu todas.Candidato a presidente ou a governador tem que dizer o que vai fazer nos quatro anos e cumprir.
Na campanha, Ibaneis disse que não privatizaria CEB e que reverteria o Instituto Hospital de Base e fez tudo ao contrário. Qual o projeto do PSD para o DF. Seria um governo da privatização? – De maneira nenhuma. Há quatro anos se falava da privatização do BRB, que não apresentava resultados. Mudou-se a gestão, trouxe um diretor da Caixa Econômica. Nesse ponto o governador foi muito sábio, deu carta branca.
E uma bandeira do Flamengo(risos) – Deu a bandeira do Flamengo também. Mas deu carta branca para nomear os diretores e para gerir e tomar conta do banco. O BRB se transformou. As ações do banco que não valiam nada hoje estão valorizadas na Bolsa de Valores. O BRB está ativando a economia da cidade.
Quando a CEB foi privatizada era a quarta melhor empresa de energia do Brasil e, segundo algumas análises, foi vendida a preço de banana. Esse dinheiro está sendo bem usado? – Foi feito um leilão. Teve um ágio enorme. E esse dinheiro está sendo usado aqui na cidade. Como? Aí é o Tribunal de Contas que tem que dizer. A empresa que entrou, a Neoenergia, se comprometeu em fazer investimentos. A CEBnão conseguia fazer investimentos, Brasília precisa investir em energia. Agora, privatizar a Caesb, o BRB, sou contra. Acho que não tem que se mexer mais.
E o metrô? – Não tem necessidade. Talvez preciseter uma maior agilidade no funcionamento, na gerência. O GDF deve estar investindo meio bilhão por ano para manter o metrô.Tem que investi. Esses equipamentos envelhecem. Tem que botar dinheiro.
Você votaria contra ou a favor do pacote de bondades que Bolsonaro está propondo? – O Brasil nunca esteve tão pobre. O que estou vendo aqui em Brasília é muita carência. Acovid fez com que as famílias pobres ficassem mais carentes. Então eu defendo pacote, acho que é necessário esse sacrifício da nação.
O pacote com o aumento dos auxílios associado com a redução de impostos em combustíveis, em energia eem telecomunicações não vai desandar as contas públicas? – Vai ter a crise fiscal. Você tem que fazer a opção entre atender os mais necessitados e ter uma perspectiva de mais inflação, de mais emissão de moedas para cobrir esses pagamentos. O endividamento do País vai aumentar. O País tem que crescer e não pode deixar desassistidos. Pessoas estão passando fome. Este é o grande debate: não adianta crescer, apresentar projetos bonitos e deixar as pessoas mais carentes esquecidas.
Você acha que a propagando do GDF corresponde aos fatos, ao dizer que a maior obra do Ibaneis é a social, mesmo com aquelas filas nos Cras e nos hospitais? – Existem 670 mil pessoas atendidas no social aqui no DF. Existe o Vale Gás, os restaurantes comunitários, que atendem milhares de pessoas, e vários benefícios sociais. O governo tem feito obras que estavam atrasadas. O governo equilibrou as contas. Você não vê ninguém reclamando que está com conta a receber do GDF. Os salários estão em dia, os fornecedores estão em dia, os empreiteiros estão em dia.