Única filha de um dos criadores de Brasília, a arquiteta Maria Elisa Costa, 80 anos, mora no Rio de Janeiro, onde preside a Casa de Lúcio Costa, um museu dedicado à obra de seu pai. Mas tem uma forte relação afetiva com a cidade. “Fui a primeira pessoa a ver como Brasília ia ser”, conta ela nesta entrevista concedida no dia 23 de abril, após ela fazer uma palestra para cerca de mulheres, no mezanino da Torre de Televisão. Maria Eliza fala de suas expectativas quanto à gestão de Rodrigo Rollemberg no Palácio do Buriti e lembra dos tempos em que vinha regularmente passar as férias de julho com sua filha Julieta Sobral. Aqui – a exemplo do que aconteceu na última semana –, sempre se hospedou na casa da cunhada Tereza Rollemberg, mãe do atual governador do DF. O marido de Maria Elisa, Eduardo Sobral, era irmão de Armando Leite Rollemberg, pai de Rodrigo Rollemberg.
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BC – Após 120 dias, o governo ainda não apresentou uma marca e o principal discurso é culpar o antecessor pela crise em que a cidade se encontra. Como a senhora vê esta situação de falta de investimentos em Brasília?
Maria Elisa Costa – Eu acho que vocês não podem ficar afobados, porque é um período ainda muito curto para se cobrar resultados. Esta é a primeira vez que Brasília tem um governador de Brasília. Eu sei de ouvir que existem essas dificuldades financeiras. Mas a gente sabe que o outro governo deixou uma situação completamente condenável. Sem dinheiro, déficit. Eu não sei como o Rodrigo teve coragem de se candidatar.
BC – Mas já que ele se candidatou e ganhou a eleição, o que a senhora acha que ele pode fazer para acelerar a recuperação da cidade?
Maria Elisa Costa – Sinceramente, não sei. Faltam-me informações suficientes para formar uma opinião. Agora, uma coisa que depois de completa vai ser muito boa, é considerar a Bacia do Paranoá como centro histórico da capital do Brasil. Aí se poderá – não é planejar nada – exercer um controle sobre toda e qualquer intervenção na Bacia do Paranoá. Qualquer alteração teria que ser aprovada por uma comissão. Seria mandar um recado para a tradicional especulação imobiliária: ‘nem vem que não tem’. Já dá um chega pra lá. Porque, para mim, o grande problema de quem administra Brasília é que você tem uma cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes, e que vai crescer, e essa cidade precisa ser preservada contra os especuladores.
BC – Há vários anos, estão parados na Câmara Legislativa o PPCUB (Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília) e a LUOS (Lei de Uso e Ocupação do Solo do Distrito Federal). Isto lhe preocupa?
Maria Elisa Costa – Desse PPCUB eu não tomei conhecimento. Eu o acho um corpo esquisito, porque ele é grande demais. Um catatau. E catatau é o sonho de consumo dos especuladores que querem burlar a lei. Eu acho confusa essa história, mas eu não conheço o PPCUB. Por isso não quero opinar como profissional. Mas acho que tem que se prestar muita atenção, pois sempre tem alguém querendo fazer besteira.
BC – Qual a sua relação com Brasília?
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Maria Elisa Costa – É uma relação de muito carinho e de amor. Primeiro porque minha cunhada, mãe do Rodrigo (Rollemberg), mora aqui desde os 1961. E sempre que venho fico na casa dela com minha família. Isto meu deu a oportunidade de acompanhar o crescimento de Brasília junto de uma família que não tinha arquiteto, o que é ótimo. Minha filha e eu vínhamos para cá sistematicamente todas as férias de julho . Isto consolidou muito essa relação com Brasília, essa relação familiar. Eu fui a primeira pessoa que viu como Brasília ia ser. Eu achei tudo normal. Na faculdade, no terceiro ano, meu pai me chamou e me mostrou um papel que tinha um esboço de Brasília. Ali ele me explicou como Brasília ia ser. Eu achei aquilo tudo normal. E agora eu estou aqui…
BC – Qual seria seu conselho para a população brasiliense neste momento de transição pelo qual passamos atualmente?
Maria Elisa Costa – Se vocês conseguirem tirar proveito desse amor que o Rodrigo sente por Brasília, do carinho que ele tem pela cidade, será uma grande vitória para todos. Organizem-se e defendam isto com todas as suas forças.
BC – Então a senhora acha que a grande virtude do governador é o carinho e o amor que ele sente pela cidade?
Maria Elisa Costa – Esta é a primeira de todas. O Rodrigo é uma pessoa que daqui. Ele cresceu aqui. Ele brincou com graminha. Ele conhece as coisas daqui. Conhece ao vivo. É o primeiro governador da geração Brasília. Eu espero que ele tenha fôlego para dar conta.
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