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Lira. É ássim que o deputado distrital eleito pelo PHS, Ivonildo Antônio Lira de Medeiros da Silva, 52 anos, gosta de ser chamado. Ele concorreu pela terceira vez à Câmara Legislativa e chegará à Casa, em 2015, como representante de São Sebastião, onde obteve mais de 90% dos 11.463 votos que lhe asseguraram o mandato. Formado em Jornalismo, Lira construiu sua trajetória política defendendo a fixação da antiga Agrovila, a criação de pólos industriais – que deram origem ao programa Pró-DF – e a valorização dos movimentos culturais. Liderou o Movimento dos Inquilinos de São Sebastião e foi presidente da Associação Industrial e Empresarial da cidade. “Eu fui eleito não para defender os ricos. Fui eleito para defender as minorias”, garante Lira, que na terça-feira (25 visitou a sede do Brasília Capital.
BC – O senhor obteve o primeiro mandato de deputado distrital após três tentativas anteriores. E chega à Câmara Legislativa como o representante de São Sebastião e com o cacife de ser um dos criadores do Pró-DF, um programa de incentivo às empresas e de geração de empregos. Como tudo isto aconteceu?
Lira – Quando eu cheguei à Agrovila São Sebastião, há 28 anos, existia um projeto do governo de construir a barragem de São Bartolomeu, que iria inundar toda aquela região. Fui o jovem da época que contestou. Fui para as ruas exigindo que não fizessem a barragem e, no lugar dela, deixassem o povoado da agrovila. Queríamos que fosse criada a cidade de São Sebastião. Brigamos por isso durante muito tempo e só conseguimos a vitória em 1993 com a criação da RA-XIV, a Região Administrativa de São Sebastião. Logo em seguida, comecei o movimento pela criação do pólo industrial da cidade, que levou muitos anos. No dia de aprovar esse projeto, na Câmara Legislativa, os deputados me informaram que não tinha como ter um pólo industrial numa cidade que não tinha empresários para que pudessem justificar a criação de um pólo industrial. Eu disse a eles: “É porque vocês não estão vendo o futuro”.
BC – E eles aprovaram o projeto?
Lira – Depois de muitas idas e vindas, em uma conversa eu sugeri para os deputados – o José Ornellas era líder do governo à época – para que, em vez de pólo industrial, levassem esse projeto para todo o Distrito Federal, para que todas as cidades-satélites tivessem um setor industrial. Foi aí que foram aprovadas as Área de Desenvolvimento Econômico, as ADE’s, que são os espaços físicos. O Pró-DF é o programa de incentivo fiscal das empresas que se instalaram nas ADE’s.
BC – Aquilo foi uma revolução, porque a Terracap passou a vender terrenos a preços subsidiados, em torno de 10% do valor de mercado e com prazo de 60 meses para pagar…
Lira – Eu me orgulho de ter contribuído com a geração de emprego e ter beneficiado os empresários com essa nossa luta do pólo industrial de São Sebastião.
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BC – Desde então, o senhor foi candidato três vezes a distrital…
Lira – Exatamente. Em 2006 tive 3.175 votos, pelo Prona. Em 2010, pelo PHS, pulei para 7.206. Faltaram 12 votos para eu assumir no lugar da deputada Luzia de Paula (PEN), que foi a primeira suplente do Alírio Neto (PEN). E em 2014, com o aprendizado das duas campanhas anteriores, cheguei ao meu objetivo.
BC – São Sebastião é uma cidade que tem tradição de sempre eleger um representante. O atual vice-governador, Tadeu Filipelli (PMDB), foi administrador da cidade e teve muito voto lá. Depois foi o Gilson Araújo e por último o Rogério Ulisses.
Lira – É verdade. Começou com o Gilson Araújo, que apresentou um projeto de fixação da agrovila. A princípio eu aplaudi, mas depois que descobri que era só para reconhecer como um bairro do Paranoá, achei que não servia para nós.
BC – O que o deputado Lira vai fazer de diferente em relação aos três anteriores?
Lira – Primeiramente, tentarei honrar a cidade que me elegeu. Nos últimos anos, a população tem se envergonhado com as notícias. Quero tirar a cidade das páginas policiais e colocá-la na de cultura, educação, economia e agricultura. Se faz isso com projeto, idéias e ouvindo a população.
BC – O senhor estará na base de apoio de governo Rollemberg?
Lira – Sim. Não adianta eu ir para a oposição e aqueles projetos que eu vejo como de interesse de São Sebastião e de todo o DF fiquem engavetados. Acredito que essa parceria com o governo me dará mais condições de fazer mais pelas pessoas e por Brasília.
BC – Na campanha, o governador eleito afirmou que não faria loteamento de cargos no governo dele. Mas a tradição de Brasília mostra que um deputado apóia em troca da indicação de administradores ou secretários. Como vai ser essa relação?
Lira – O governador não governa sozinho. Ele precisa de aliados. Não só do primeiro escalão como do segundo e do terceiro. Até agora não pedi cargos, mas acredito que ele vai me ouvir e me contemplar com alguma coisa.
BC – Uma preocupação do governador, hoje, é a questão orçamentária. Fala-se em um déficit de R$ 3 bilhões…
Lira – Até agora, o que se entende é que existe um déficit alto. O Rodrigo Rollemberg está muito preocupado como vai administrar Brasília a partir do próximo ano sem tantos recursos. Uma das coisas que queríamos ver é que ele vai enxugar a máquina, mas acredito que, mesmo enxugando a máquina, poderíamos fazer essa parceria com ele.
BC –E quanto ao compromisso de fazer eleições diretas para administradores regionais?
Lira – Não vejo como fazer eleição direta sem mexer na Constituição Federal. Para ter eleição direta para administradores tem que criar Câmara de Vereadores em cada Região Adminsitrativa.
BC – Como o senhor acha que vai ficar esse impasse dele com a sociedade? Afinal, foi um dos pontos fortes da campanha do Rollemberg a proposta de eleições para administrador. O senhor acha que ele vai conceder isso imediatamente ou vai existir uma fase transição?
Lira – Eu discordo que esse projeto na Câmara seja aprovado agora. Está no fim de um mandato. Torço para que essa discussão fique para a próxima legislatura, em respeito a quem vai chegar, porque a atual legislatura teve a oportunidade de fazer e não fez. Não pode ser feito no apagar das luzes.
BC – E quanto a essa proposta de blindagem dos parlamentares? Se o senhor já tivesse o poder do voto, seria a favor ou contra?
Lira – Foi feita essa pergunta para mim em outra ocasião e eu falei sem entender direito o conteúdo do projeto. Agora, conhecendo o projeto, diria que sou contra essa blindagem, porque o parlamentar que é eleito com o voto da população tem a obrigação de trabalhar direito. Se ele está fazendo tudo direito, não tem o que temer, mesmo que alguém venha a encaminhar um processo contra ele. No meu caso, tenho a consciência limpa.
BC – O que o senhor acha que pode ser feito para alavancar um pouco mais a cultura brasiliense?
Lira – Tenho percebido, ao longo do tempo, que Brasília é uma cidade sitiada. Não se pode fazer muitas coisa nas esquinas das ruas e nas praças. Tudo precisa de autorização de vários órgãos. Às vezes, para fazer uma pequena manifestação. Isso, de certa forma, inibe. Quando falo manifestação, é manifestação cultural, de cultura popular, que nasce no seio da sociedade de maneira espontânea. Na minha opinião é o que falta a Brasília. Essa burocracia acaba inibindo grupos folclóricos e de dança.
BC – Muitos desses grupos se organizam em busca de subsídios oficiais. Por exemplo, as escolas de samba cobram patrocínio do BRB, do GDF. Essas manifestações espontâneas a que o senhor se refere também dependem de recursos públicos?
Lira – Essas manifestações espontâneas não precisam de muitos recursos, ou quase nada, para sobreviver. Há muitos anos, eu criei a festa do Rei Clichá, em homenagens aos indígenas que viveram no Planalto Central. Quando começamos a fazer os ensaios em praças públicas, até mesmo para demonstrar nossa arte e cultura, logo vinha a Administração proibir, dizendo que precisávamos de autorização da PM. Já a PM transferia para outro órgão. Ou seja, você não conseguia sair dali. Isso que tem que ser mudado pelos governantes e diferenciar a cultura popular dos grandes shows eventos, geralmente superfaturados. Pagam R$ 500 mil para um cantor de fora e apenas R$ 3 mil para um de Brasília. As rádios têm que ser revistas também. Para tocar uma música de um cantor de Brasília, ou tem que ser amigo do dono da rádio, ou ter um patrocínio gigantesco. Eu quero mudar isso. Quero fazer com que, pelo menos 10% da programação seja destinadas a artistas da capital. Se não for viável das rádios comerciais, pelo menos das culturais, públicas e comunitárias.
BC – Aí seria uma briga, já que as emissoras querem tirar até a Voz do Brasil.
LI – Eu sou a favor da manutenção da Voz do Brasil. É um programa cultural e informativo. Eu fui eleito deputado distrital não para defender os ricos. Fui eleito para defender as minorias. Nesse rol entram as questões das rádios comunitárias e dos jornais alternativos. Dou total apoio aos jornais comunitários, que são os que mais conseguem entrar nas comunidades e casas a custo zero. Vou fazer o possível para tentar ajudá-los.
BC – Esse discurso de governar para as minorias não é novo. É o que mais a gente escuta quando as pessoas estão tentando se eleger. Mas parece que, depois de eleitas, acabam sendo sufocadas pelo sistema. O senhor teria, além do seu apoio individual, como articular uma frente ou um bloco dentro da Câmara que compartilhe desse objetivo?
Lira – Logo depois da eleição, a primeira coisa que me preocupei foi em formar um bloco. Procurei parlamentares que tivessem a mesma linha de pensamento que eu.
BC – Quem são eles?
LI – Há um entendimento entre nós para só anunciar o nascimento desse bloco oficialmente.
BC – São quantos?
Lira – Somos seis deputados, entre reeleitos e recém-eleitos. Nós temos a ideia de trabalhar pelas pessoas que estão na periferia, que são, de fato, as mais carentes.