O setor produtivo não permanecerá indiferente à inércia do Governo de Brasília frente à crise financeira que se abateu sobre a capital da República desde o início de 2015. Uma das entidades mais representativas do empresariado, o Sindicato do Comércio Varejista está na vanguarda de uma reunião maracada para o próximo dia 21 de setembro, para a qual serão convidados o governador Rodrigo Rollemberg, seus principais assessores da área econômica, os 24 deputados distritais e os oito federais e três senadores da bancada brasiliense no Congresso. À frente da iniciativa, o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, antecipa nesta entrevista ao Brasília Capital, concedida na quarta-feira (2), algumas das sugestões dos empresários para reacelerar a economia local. Entre elas, a celeridade na emissão de documentos como Habite-se e alvarás. “Temos mais de 200 mil desempregados no DF, sendo 12 mil só no comércio. Cabe ao governo resolver esse problema”.
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BC – Brasília está praticamente parada e o GDF não apresenta nenhuma iniciativa para tirar a cidade da inércia. O que o Sindivarejista teria a sugerir ao governo a retomada do desenvolvimento?
Edson de Castro – É simples: libere os Habite-se e alvarás. Assim, as pessoas que vão morar nesses imóveis passarão a gerar impostos. Além disso, viriam outras receitas, já que lojas de material de construção, imóveis, sapatos e roupas passarão a vender para essa clientela, que vai reformar e mobiliar seus novos apartamentos e renovar os seus guarda-roupas.
BC – E quanto aos alvarás?
Edson de Castro – A questão dos alvarás movimentaria as empresas que estão paradas. Se estivem ativas, produziriam novas oportunidades de trabalho. Os alvarás deveriam ser liberados de imediato, e logo depois os comerciantes teriam um prazo para quitar seus débitos com o governo. Não dá para ficar parado esperando!
BC- Tem também a ameaça de não pagamento dos salários, que paira sobre os servidores públicos desde o início do ano…
Edson de Castro – Isso para o mercado. Há secretários e até o próprio governador dizendo que não terá dinheiro para pagar o salário de dezembro. Então, é lógico todo mundo se retrai e evita contrair dívidas de longo prazo. A solução é moldar seu ato financeiro, para não entrar em enrascadas futuras.
BC- O que significa, em números, essa recessão?
Edson de Castro – Existem em torno de 700 mil pessoas endividadas no Distrito Federal, de acordo com levantamento da Fecomércio, o que significa 65% da população economicamente ativa. E essas dívidas são, principalmente, por conta do cartão de crédito.
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BC – Portanto, são pessoas impedidas de comprar…
Edson de Castro – Com a proximidade do final do ano, muitas já estão negociando, saindo da inadimplência. Essas negociações são propostas até para reabrir crédito. Porém, se estão abrindo crédito, financiando o débito, não estão investindo. Estão usando esse recurso para quitar dívidas anteriores. Para sair da inadimplência. Sabemos que para limpar o nome basta ter um débito no banco, ou loja, onde se renegocia e imediatamente seu nome sai do cadastro. Porém, a pessoa tem que pagar a dívida, senão será uma dívida em cima da outra.
BC – Como anda o desemprego no comércio?
Edson de Castro – A última pesquisa do IBGE apontou 12 mil pessoas desempregadas no nosso setor. O comércio fechou mais de duas mil lojas nesses oito meses. Cada loja contrata, em média, quatro funcionários. Muitos estão recebendo seguro desemprego, mas esse seguro vai acabar. E muitos não estão encontrando um emprego tão bom quanto o anterior. Isso propicia o crescimento da informalidade, dos sacoleiros, dos quiosques. É a causa principal da proliferação de ambulantes em todo o DF.
BC – A falta de incentivos tem feito empresas migrarem para outras unidades da Federação?
Edson de Castro – Muitas empresas de Brasília vêm se destacando em Goiás, Bahia, Minas Gerais. Essas empresas sondam migrar para outros estados onde há incentivo.
BC- Existe algum caso concreto?
Edson de Castro – Existem muitos casos, embora essas empresas continuem atuando aqui. Porém, abrem um novo CGC e CNPJ e acabam recolhendo esses impostos fora do DF. Brasília fica apenas recebendo notas fiscais com impostos pagos.
BC- Qual a parcela de culpa dos empresários que especulam sobre o valor dos alugueis de lojas em áreas como as avenidas W-3 Sul e Norte, no Plano Piloto, e Comercial, em Taguatinga?
Edson de Castro – A renda per capta de Brasília é a maior do País. São mais 450 mil funcionários públicos, que ganham salários altos. Por isso há esses apartamentos caríssimos, de R$ 3 milhões, R$ 4 milhões, muitos adquiridos mediante financiamentos. Contudo, no mercado não existem esses apartamentos caros. A grande oferta são os apartamentos baratos, que atingem outra camada.
BC – Aparentemente, 2015 será um ano perdido para o comércio. Quais as perspectivas para o próximo ano?
Edson de Castro – Tudo indica que 2016 será um ano muito difícil para o Distrito Federal. Está tudo parado. Os empresários terão que diminuir os preços dos imóveis. Não terão outra saída. Será um baque. Afinal, até há pouco, o lucro era incorporado antes da venda. Recebia-se antes. E isso vai mudar. Mas ainda temos uma esperança, pois o segundo semestre é sempre melhor.
BC – O que pode indicar essa melhora?
Edson de Castro – É o período em que o lojista sempre pensa em abrir um negócio. Temos muitas datas comemorativas dentro desse período, como o Dia dos Pais, das Crianças, Natal. Os empreendedores investem mesmo só a partir de julho. Entretanto, este ano com esta situação de falta de dinheiro no mercado, talvez mais negócios estejam sendo fechados do que abertos. Esta é a grande preocupação do empresário. Por isso estamos tentando sensibilizar o governo para que pondere sobre o futuro, pois ainda há muitos adimplentes.
BC- “Pensar no futuro” significa que o senhor concorda com algumas alas da oposição ao governador Rodrigo Rollemberg de que ele ainda está com o olho no retrovisor, pesando na herança maldita?
Edson de Castro – A nossa maior preocupação é ver Brasília melhorando. Mas para isso precisa-se de dinheiro. As empresas que construíram, não construíram para o antigo governador, e sim para o GDF. E hoje quem representa o GDF é o Rodrigo Rollemberg. Então, não é divida do antigo gestor, e sim dívida do Estado. O governo precisa assumir a dívida. Eles precisam receber. Outros fatores já começaram a surgir, como a falta de gasolina, a falta de medicamentos nos hospitais. Tudo isto está se tornando bem maior do que antes. Outra questão que vem alarmando a população é a insegurança. Já registramos 39 explosões de caixas eletrônicos este ano, enquanto de janeiro a dezembro do ano passado houve 11 explosões.
BC- Enquanto isso, os policiais civis estão em greve reivindicando aumentos salariais e a nomeação de 500 concursados…
Edson de Castro – Pois é. E o governo impedido de atender porque já extrapolou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, na maioria das vezes não é o governo ou o governador o culpado. Mas ele poderia contribuir criando meios para aumentar a arrecadação e assim superar a crise. Para se ter uma ideia, nos vinte shoppings do DF existem 314 lojas fechadas, o que representa um shopping inteiro de grande porte. Portanto, não adianta um empreendedor pensar em construir outro shopping em Brasília, pois há um shopping ocioso aguardando. E isto se resolveria com o apoio do governo.
BC – O Sindivarejista pensa em criar algum fórum para debater essas questões com a sociedade e com o governo
Edson de Castro – O deputado Bisbo Renato (PR) promoveu um almoço com 14 sindicatos do setor produtivo, a Associação Comercial e a CDL. Está ocorrendo um grande movimento em relação a esse problema. No dia 21 de setembro haverá uma reunião em que serão entregues ao governador algumas sugestões para recuperar o comércio.
BC – O senhor pode adiantar algumas?
Edson de Castro – A solução é simples. Precisa-se de dinheiro, e para que ele reapareça é necessário reativar o mercado. Nós, empresários, não levaremos apenas a ideia de gastos. Proporemos soluções para aumentar a arrecadação. Uma dessas soluções é a liberação dos Habite-se e dos alvarás. Se o governo quitar as dívidas com as empresas esse dinheiro será de alguma forma aplicado, porque ele volta para o mercado em outras construções, gerando empregos.
BC- Quanto representa esse dinheiro que está empacado?
Edson de Castro – Nem o GDF sabe. A priori, falava-se em R$ 1 bilhão, depois subiu para R$ 2 bilhões e já chegou a ser especulado R$ 3,5 bilhões. A verdade é que nem o governo sabe.