Chico Vigilante afirma também que Dilma Rousseff será reeleita no primeiro turno
- Advertisement -
Orlando Pontes
Em entrevista exclusiva para o Brasília Capital, o deputado distrital Chico Vigilante (PT), candidato a mais um mandato na Câmara Legislativa do Distrito Federal, ressalta que a Lei da Ficha Limpa é clara e que o ex-governador José Roberto Arruda (PR), que concorre ao governo do DF, será afastado da corrida ao palácio do Buriti. Para Vigilante, o atual governador, Agnelo Queiroz (PT), candidato à reeleição, será vitorioso, “até porque é o que mais fez por Brasília”. No nível federal, Vigilante também não tem a menor dúvida: “Dilma Rousseff (PT) será reeleita no primeiro turno e Lula (PT) voltará em 2018”.
BC – Na primeira pesquisa Ibope, o governador Agnelo Queiroz (PT) não apareceu bem. Está tecnicamente empatado na segunda posição com o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) e muito atrás do ex-governador Arruda (PR). A quê o senhor atribui esse resultado?
Vigilante – Isso derruba uma crença que a gente tinha de que Brasília era a cidade mais politizada do Brasil. Com essas pesquisas que têm aparecido, isso cai por terra, porque todo mundo fala que é importante a Lei da Ficha Limpa, um projeto de iniciativa popular, das igrejas, do movimento sindical. Donas de casa foram às ruas, coletaram mais de dois milhões de assinaturas e isso se tornou uma lei simples, de fácil aplicação. No artigo 19 ela diz que ninguém pode ser candidato se tiver sido condenado em segunda instância. Portanto, todo mundo que apresentou pedido de candidatura teria o protocolo acatado pelo Tribunal. Mas não quer dizer que seja candidato. Candidato só depois de homologado pelo Tribunal. Portanto, Arruda não está homologado, assim como outros candidatos também ainda não estão.
BC – Mas existem decisões anteriores da Justiça Eleitoral em que os candidatos que apresentam o registro de candidatura antes do julgamento em segunda instância são homologados…
Vigilante: Isso não existe! Isso é defesa de advogado que é pago para falar bem do cliente. No dia em que você ouvir um advogado falando mal do cliente, ele será demitido imediatamente. Essas são matérias que não se sustentam. A lei é absolutamente clara. Alguém só é candidato depois do registro. Portanto, ele (Arruda) não tem registro, assim como o Agnelo não tem ainda. Só a partir do momento em que for deferido. A lei também é clara quando diz que mesmo depois de candidato, se no processo da campanha você receber alguma condenação em segunda instância, não será diplomado. Porque mesmo depois de ganhar a eleição só será diplomado quem preencher todos os requisitos, e ele (Arruda) não preenche.
- Advertisement -
BC – O senhor acha que essa discussão vai dominar a campanha?
Vigilante – Esse é um debate político que a mim não interessa muito. O que eu quero saber é sobre o debate real que vamos fazer com a sociedade de Brasília. Mostrar quem fez mais e quem fez menos. Porque tem muita gente dizendo que fez muito e não fez nada. No caso do Agnelo Queiroz, em qualquer ponto que qualquer candidato, em qualquer tempo no DF, quiser debater conosco, vamos mostrar que nós fizemos mais. Seja na educação, na saúde, na segurança, na habitação, no transporte. Em qualquer ponto de vista que você pegar, a gente tem provas cabais de que fizemos mais.
BC – Mas não foi essa impressão que ficou no primeiro debate entre os candidatos, promovido pela Associação Comercial do DF…
Vigilante – O Arruda deixou uma UPA inacabada; o Agnelo inaugurou cinco. O Arruda fez a licitação das vans, que levou pais e mães de família ao suicídio, ao desespero, e deixou tudo sucateado nas mãos do Wagner Canhedo. Quem não se lembra da história da Fácil, que era gerida pelas empresas? Nós retomamos o controle, implementamos a licitação e já trocamos quase toda a frota velha, pois tinha gente andando dentro de ônibus com guarda-chuva. Trocamos tudo. Estamos na primeira cidade do Brasil cuja frota tem 100% de acessibilidade. E quem tem alguma dúvida da qualidade das obras é só comparar o transporte que vem do Gama e Santa Maria com a EPTG feita pelo Arruda e pelo Rosso. Daí cai por terra qualquer tese de que ele sabe fazer as coisas.
BC – Mas isso até agora não ficou claro, pelo menos no primeiro debate.
Vigilante – Em todas as eleições no DF, o PT nunca saiu na frente. Em 1990, o Saraiva, um ilustre desconhecido, teve 22% dos votos, faltando 2% para levar as eleições ao segundo turno. Depois veio o Cristovam com 3% e ele ganhou as eleições. Agora, o Agnelo está em segundo, com 17%. Eu estou feliz, pois tenho certeza de que ele vai ganhar as eleições. Disso não tenho dúvida nenhuma.
BC – E quanto à rejeição de 46%?
Vigilante – Eu diria que é um caso da população tomar conhecimento efetivamente do que está sendo feito e, na hora de fazer a comparação, essa rejeição vai diminuir. Até mesmo porque o Ibope sempre errou em Brasília. BC – Mas quem contratou foi a Rede Globo…
Vigilante – É só verificar que em Minas Gerais, por exemplo, todas as pesquisas davam Fernando Pimentel em primeiro lugar, e agora, nessa da Rede Globo aparece Fernando Pimentel empatado tecnicamente com Pimenta da Veiga. Em São Paulo, o Skaff em todas as pesquisas aparecia com 22%, e, nessa, ele aparece com 11%. Portanto, essa pesquisa tem que ser investigada. É uma pesquisa criminosa, para tentar induzir o eleitor de que o PT vai mal, dentro da velha tática de tentar desanimar o eleitor para ver se a direita ganha no Brasil.
BC – Então o senhor tem a mesma avaliação quanto ao desempenho da presidente Dilma Rousseff?
Vigilante – Com certeza. Ela vai ganhar a eleição em primeiro turno. Começa a cair por terra o discurso de bom moço do Aécio Neves. As pessoas estão vendo que de bom moço ele não tem nada. O Eduardo Campos está sendo batido pela Dilma até mesmo em Pernambuco, porque se tem uma coisa que eleitor não gosta é de traidor. E ele demonstrou nesse processo ser um sujeito que traiu a confiança do presidente Lula e, acima de tudo, a confiança da presidente Dilma. O (cartunista) Ziraldo, outro dia, deu um conselho para o Eduardo Campos: “Eu apoio a Dilma, porque numa mulher não se bate nem com uma flor. Muito menos em uma mulher, mãe e avó, que passou por tudo que a Dilma passou e agora fica sendo atacada de maneira impiedosa como está sendo”.
BC – Mas existe aquele ditado segundo o qual, em campanha, feio é perder. Se ela está no jogo, não tem que estar preparada para o mesmo tipo de ataque que sofrem os demais?
Vigilante – Não é bem assim. Isso faz parte de uma cultura machista de um país onde até a década de 1930 a mulher não votava, e só a partir de uma ampla mobilização das mulheres é que a gente passou a fazer com que elas saíssem dos grilhões. Um país que envergonhava a todos nós, que estava na legislação que adultério era motivo de dissolução de um casamento.
BC – O senhor é morador e tem como principal reduto a cidade de Ceilândia. Como avalia o desempenho do ex-administrador Ari de Almeida?
Vigilante – Surpreendente. Com certeza, ele foi um dos melhores administradores, sem querer fazer com que os outros fiquem enciumados. Ari conseguiu fazer uma coisa muito importante: administrou com todas as correntes políticas, ideológicas e religiosas da cidade. Ele tem contato permanente com pastores de todas as igrejas; tem reuniões constantes com a comunidade dos terreiros, onde os espíritas estão inseridos; reuniões com os padres, com as associações de moradores e com o empresariado. Ele conseguiu ser um verdadeiro líder na cidade.
BC – Por que ele não é candidato? O senhor pediu que ele renunciasse à candidatura?
Vigilante – Não, eu não pedi. O Ari é uma pessoa bastante ajuizada. Há pouco mais de um ano, o governador Agnelo o chamou para uma conversa e falou: “Ari, por tudo que o Chico fez, por toda a sustentação que ele tem dado ao meu governo, eu quero muito que o Chico seja reeleito deputado distrital”. O governador não pediu para ele não ser candidato. Ele só disse que queria muito que eu fosse reeleito. Ele compreendeu e hoje é o coordenador da minha campanha.
BC – O senhor acha que faltou essa compreensão do ex-governador Cristovam Buarque, em 1998?
Vigilante – Eu não tenho dúvida nenhuma quanto a isso. Certa vez, um artista famoso da TV Globo falou para o Cristovam: “Cristovam, você é um homem mau. Você jamais poderia ter permitido que o Chico Vigilante perdesse as eleições. O Chico é importante para a democracia, para a sociedade. O Chico é importante dentro do Congresso, porque é o único que consegue falar a língua do povo. Porque ele vai lá para representar os anseios do povo e não poderia perder aquela eleição em hipótese nenhuma”. Outro que escreveu centenas de artigos a respeito da minha derrota foi o Carlito Maia, filósofo, pessoa extraordinária.
BC – Esse homem mau hoje bate no seu candidato a governador. Ele está na coligação do Rodrigo Rollemberg e apoiando o candidato do PDT ao Senado, o Reguffe, que é tido como o favorito. Como fica essa história?
Vigilante – Eu tenho um respeito e um carinho enorme pelo Cristovam. Até porque, em 1994, quando ninguém acreditava na candidatura do Cristovam, eu e dona Gladis, o Hermes de Paula, funcionário da Caesb e depois secretário de Obras, e o Carlos Alberto Torres, que foi candidato a senador, fomos juntos às ruas fazer campanha para o Cristovam. E a gente o elegeu governador. Outro dia estive na casa dele e o convidei a dar uma volta na cidade para ele ver as escolas que o Agnelo está fazendo, em tempo integral, para ele ver que estamos fazendo aquilo que ele sempre sonhou. Ele não quis ir, mas eu ainda pretendo levá-lo nesse passeio.
BC – O senhor quer levá-lo agora ou só no segundo turno?
Vigilante – Quero levá-lo independente de campanha eleitoral, para que ele veja que tudo em que ele acredita, nós estamos fazendo.
BC – A participação dele na campanha pode ser decisiva?
Vigilante – Eu acho que ele vai ajudar muito. Ele já me disse mais de uma vez que nunca vai trabalhar contra o PT.
BC – E, pelo visto, nem a favor também…
Vigilante – Eu acredito que no segundo turno ele vai apoiar a gente. Ele tem as mágoas dele, com razão.
BC – A mágoa maior é por causa da demissão do cargo de ministro da Educação, por telefone, pelo ex-presidente Lula?
Vigilante – Na época eu falei para o Lula que se eu fosse ele não nomeava o Cristovam, porque ele não era bom para aquela pasta, porque ele era um sonhador.
BC – Ele não é um bom executivo?
Vigilante – Não que ele não fosse um executivo. É porque ele teria muita dificuldade. Uma das primeiras coisas que ele propôs foi separar o ensino superior. O MEC não responderia mais pelo ensino superior. Ele estava certo, mas a comunidade acadêmica caiu de pau nele. Mesmo sendo professor universitário e ex-reitor da UnB, ele foi minado pela própria comunidade acadêmica do Brasil. Foi essa proposta dele, que, repito, estava correta, que causou todo o desgaste.
BC – Será que o PT, caso mantenha-se no poder, vai chegar a fazer isso, uma vez que considera que é o correto?
Vigilante – A proposta do Cristovam de federalização do ensino é uma coisa correta e isso de certa forma começou com o piso nacional para professores. Tínhamos municípios brasileiros que pagavam um terço do salário mínimo e hoje temos um piso acima dos R$ 1,3 mil, que todos são obrigados a pagar. O PSDB entrou no STF para derrubar a lei. Para mim, a federalização é importante. É você fazer com que o governo federal cuide do ensino básico.
BC – O Rodrigo Rollemberg tem sido o alvo preferido do Agnelo. Por quê?
Vigilante – É porque o Rodrigo é um mal agradecido. Ele jamais teria sido senador da República sem o PT. Eu acho que dá para fazer política sem cuspir no prato em que comeu.
BC – Mesmo mal agradecido, ele foi um senador produtivo?
Vigilante – Tem uma coisa que tenho conversado muito com o governador Agnelo e com o vice, Tadeu Fillipelli (PMDB). Pela primeira vez a gente vai para uma eleição onde todo mundo já foi governo. O PDT, o PSB e até o PSol foi governo. Quando o Cristovam foi governador pelo PT, a secretária de Saúde era a Maninha, que é uma estrela do PSol, e o secretário de Administração era o Toninho, que depois virou administrador de Brasília. Então, todo mundo tem o que mostrar, ou não. Basta comparar quem fez mais.
BC – O que o Toninho fez?
Vigilante – Ele foi secretário de Administração e administrador de Brasília. Vamos comparar!
BC – E a Maninha?
Vigilante – Eu tenho um respeito profundo por ela. No dia que ela saiu do PT, eu disse: Maninha, não saia! Mas ela foi induzida ao erro e saiu do PT. Era uma companheira muito valorosa. Jamais deveria ter saído do partido.
BC – Como o senhor Imagina que o governador Agnelo poderá garantir a reeleição daqui a sessenta dias?
Vigilante – Espero que o eleitor analise a história dos candidatos e as propostas de cada um. Que faça a conta quando cada um propor alguma coisa, quanto vai custar e de onde vai tirar. Porque é fácil fazer propostas vãs, dizendo que vai custar tanto ou não dizendo nem de onde vai tirar. É importante que as pessoas votem com consciência. Acima de tudo, estávamos cansados de sair do DF e ser atacados. Teve gente lá fora, por causa da crise em Brasília, que não queria nem receber nossos cheques. Teve casos de carros com placa de Brasília sendo apedrejados e hoje estamos na cidade referência no mundo. Quem veio à Copa do Mundo quer voltar.
BC – O PT certamente será criticado pelo custo do estádio. No debate, o Arruda falou que faria com R$ 700 milhões e a obra custou R$ 2 bi.
Vigilante – O Arruda iria fazer uma reforma no estádio, talvez igual a que ele fez no Bezerrão, que não serve para nada. Está caindo aos pedaços. Nós construímos uma arena multiuso. Tem um shopping construído ali para ser licitado. Tem teatro, tem centro de convenções, tem tudo ali dentro. É um negócio que atrai cada vez mais investimentos para o DF. Por aí Brasília está descobrindo sua vocação, que é uma cidade de eventos. Cada vez mais a gente vai se apresentar para o mundo, porque todo mundo vai querer realizar atividades na capital da República. Tem uma maldade com o Agnelo, porque ele gastou R$ 1,2 bi no estádio, mas a partir de agora é só retorno.
BC – Esse dinheiro não seria melhor aplicado, por exemplo, na área social ou na contratação de pessoal?
Vigilante – O Agnelo ampliou os gastos com a folha de educação em R$ 1 bilhão por ano. Isso demonstra efetivamente o cuidado que ele tem com os professores. A fábrica social na Estrutural vale a pena ser visitada para se ouvir o depoimento daquelas pessoas que estão participando. Na Saúde, no dia em que o Agnelo assumiu, estávamos com o centro cirúrgico do Hospital de Ceilândia infestado de piolho de pombos. Estávamos com o hospital de Planaltina interditado. Tinha uma ação de despejo do Ministério da Saúde, porque estava devendo dez anos a uma igreja e não pagavam ao padre. Essa foi a realidade que encontramos. Salvo raras exceções, não se ouve mais falar em falta de medicamentos, especialmente os de alto custo, porque a gente descentralizou. As Upas funcionam plenamente. A saúde da família está crescendo para uma cobertura plena. Temos o Hospital da Criança, que é um hospital de referência. Quem vai lá não acredita que seja público, porque temos uma besteira no Brasil de que só é bonito o que é privado. Hoje, somos referência em transplante e tratamento de câncer. E quanto mais a gente melhorar, mais virá gente do Brasil todo para se tratar aqui.
BC – O que o senhor acha do movimento Volta Lula?
Vigilante – O Lula deixou muito claro, desde o primeiro momento, que não queria mais voltar, que iria trabalhar para a Dilma continuar. Ele disse também que se fosse necessário ele voltaria, mas não acho necessário.
BC: Mas ele tem até quinze dias antes das eleições…
Vigilante – Ele não vai fazer isso! Agora, a direita que se prepare, porque a Dilma ganhando, o Lula volta em 2018 para continuar consertando e mudando esse Brasil. São essas coisas que emocionam a gente, e isso faz com que eu continue na política, lutando pelo meu partido, o PT. Conheci a história do dr. Cícero, que era um catador de material reciclado, que comia do lixo e hoje é médico graças ao Prouni, graças a essa invenção do Lula e da Dilma, de fazer com que pobre possa fazer uma faculdade. O curso de medicina na faculdade onde ele estudou custa R$ 5,2 mil. Ele jamais seria médico. Esse é o novo Brasil.