Filho de engenheiro civil e de professora de idiomas, Chico Sant’Anna chegou a Brasília, ainda bebê, em 1958. Cresceu com Brasília. Se formou Jornalista, mantendo sempre seu compromisso com a cidade. Esteve sempre presente em todas as lutas em defesa dos maiores interesses da nossa população. Há 22 anos atua como jornalista e documentarista concursado da TV Senado, atuou nos principais meios de comunicação do Brasil. Edita dois blogs Brasília, por Chico Sant’Anna e Chico Sant’Anna e a Info Com. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF e vice-presidente mundial da Federação Internacional dos Jornalistas. É pai de três filhas brasilienses. Candidato a deputado distrital pelo PSol, tem em sua plataforma de campanha a mobilidade urbana, a preservação de Brasília como Patrimônio da Humanidade, retomar o programa Saúde em Casa e o Orçamento Participativo.
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Existem duas candidaturas ao GDF mais à direita (Arruda e Pitman) e quatro à esquerda (Toninho do Psol, Rollemberg e Perciliane Marrara e Agnelo Queiroz, do PT). Não há um congestionamento à esquerda que beneficia direita?
Não creio. Na verdade, temos uma única candidatura à esquerda, uma única candidatura de mudança, de rompimento com o passado: a de Toninho do Psol, em coligação com o PSTU e PCB, já que a candidatura do PCO não foi validada pelo TRE. Se olharmos bem, encontraremos o DNA rorizista em todas as outras coligações. A oficial, com Arruda, e a do Plano B, com Pitman, caso a Justiça Eleitoral invalide a primeira. Com Arruda estão personalidades que já deveriam ter abandonado a vida política, tais como Luiz Estevão e Gim Argelo. Com Pitman estão Maria de Lourdes Abadia, que foi vice de Roriz, e Eliana Pedrosa, que só não coligou com o Arruda porque o PPS a impediu. Na coligação de Agnelo estão o vice, Filippelli, que guarda relações familiares com o clã Roriz, e seus discípulos, muitos que integraram governos passados. Também a coligação Rollemberg tem influências rorizistas, já que o ex-governador-tampão, Rogério Rosso (PSD). Ele foi secretário de Desenvolvimento e administrador de Ceilândia no governo Roriz. Aliás, coube a ele nomear o vice da chapa. A coligação PSB-PDT-PSD-SD traz ainda Augusto Carvalho, secretário de Saúde do governo Arruda, e Celina Leão, até outro dia, chefe de gabinete de Liliane Roriz. O certo é que Roriz apostou fichas em quase todas as possibilidades. Somente a coligação liderada por Toninho do Psol não tem esta chacra correndo em suas veias.
Mesmo assim, trinta dias depois de começar a campanha, Toninho continua em penúltimo lugar. Quais as chances que ele tem de ir para o segundo turno?
As pesquisas que temos nos colocam numa situação de empate técnico no segundo pelotão, embolados com Rollemberg e Agnelo e à frente de Pitman. É uma situação bem mais confortável do que a verificada em 2010. Lembre-se que a visibilidade de Toninho e do Psol foi bem pequena, em Brasília. Não tivemos nenhum parlamentar eleito em 2010. Nos últimos quatro anos a grande imprensa de Brasília praticamente ignorou a existência do Psol, de seus quadros e de Toninho. Os demais candidatos estão na mídia todos os dias, possuem a máquina pública ou o poder econômico para apoiar suas atividades. Mesmo com esta desigualdade e só com o trabalho militante nas ruas, estamos entre os mais cotados. Em 2010 saímos de zero e chegamos a 14,5% do eleitorado, com cerca de 200 mil votos, na terceira colocação. Hoje, partimos dos 7% e as chances de crescer são grandes. Os debates na TV ajudarão o brasiliense a conhecer quem é quem. Estaremos no segundo turno, pois o brasiliense já sabe o que é o governo Agnelo e não quer voltar aos escândalos do passado. Este é o compromisso de toda a chapa do Psol. Eu mesmo, como candidato a distrital, venho há anos denunciando os desmandos e o conluio existentes entre determinados segmentos do GDF e grandes grupos econômicos, principalmente, na área imobiliária e de transporte público, que em muitos casos configurando um só grupo econômico.
Se não chegar ao segundo turno, o Psol apoiará alguém ou ficará neutro?
Em 2010, o Psol não ficou neutro. Pelo contrário. No segundo turno, com a responsabilidade de quem recebeu 200 mil votos(14,5%) –mesmo diante das ofertas de cargos e Secretarias – o Psol disse não e decidiu ficar contra as duas opções de governo. Nem Agnelo, nem Roriz representavam, como continuam não representando, os ideais e as propostas do Psol. O tempo mostrou que o Psol agiu certo. O tempo mostrou que o Psol é um partido diferente, não busca o poder pelo poder, nem cai no conto da sereia para ter cargos. Falar em segundo turno agora, é muito prematuro, possivelmente, serão as demais coligações que estarão querendo apoiar Toninho do Psol na reta final das eleições.
Que tamanho de bancada o Psol vislumbra eleger este ano para a Câmara Distrital?
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Em 2010, a deputada Maria José Maninha obteve 12.860 votos, 1% dos eleitores, estava entre os vinte candidatos mais votados, mas não se elegeu pois o Psol não obteve o coeficiente eleitoral necessário.
Este ano, Maninha, que é a puxadora de votos da legenda, já despontou em 15º lugar em algumas pesquisas. O Psol, que em 2010 tinha uma nominata de 26 candidatos, vem para esta eleição com 37. Dentre esses nomes temos o do maestro Jorge Antunes e o meu próprio. Nós dois fomos candidatos ao Senado em 2010 e obtivemos, respectivamente, 21 mil e 17 mil votos – em números redondos. É uma boa herança. Agora, o partido nos vê, ao lado de Maninha, com boa chance de chegar à CLDF. Temos candidatos em todas as cidades do DF, em todos os segmentos eleitorais – jovens, mulheres, professores, universitários, trabalhadores, servidores públicos, donas de casa, movimento LGBT… Há, inclusive, uma campanha nas redes sociais com este objetivo, denominada #souumdos60mil.
Que reflexos a morte de Eduardo Campos e a assunção de Marina terão nas eleições do DF?
Esse é mais um fenômeno que tende a embolar o cenário eleitoral local. Em 2010, Marina ganhou em Brasília. Sua presença com maior destaque nas eleições nacionais com certeza não vai beneficiar as candidaturas de Arruda, Pitman e Agnelo, já que ela representa oposição a estas propostas políticas. Como o partido dela, a Rede, não teve êxito em se formar, vários daqueles que possuem os mesmos ideais dela procuraram se abrigar em agremiações já existentes e neste cenário, se destacam o Psol, PDT e PSB. Se a candidatura de Eduardo Campos era um elo forte com Rollemberg, creio que a candidatura de Marina dilui um pouco esta concentração, beneficiando outras agremiações que pregam as mudanças de paradigmas. O Psol, que esteve lado a lado com os manifestantes de junho de 2013, encarna este sentimento de mudanças. Eu mesmo tenho apoiadores da minha candidatura que votam Marina para o Brasil, mas votam Psol para o GDF e para a Câmara Distrital.
O discurso por um modelo político baseado na ética é suficiente para ganhar a eleição? E uma vez no poder, como seria a governabilidade numa administração Psol, já que a bancada seria pequena?
Agir com ética, governar com ética não deveria ser bandeira de ninguém, mas sim uma obrigação, um prérrequisito para se chegar ao poder. Afinal, o eleito é sempre um gestor do patrimônio público, seja ele patrimônio material, seja ele o sonho de todos nós em termos uma vida melhor. Por isso, o Psol não é só um partido que propugna a ética em seu modo de atuar. Ele traz propostas diferenciadas para Brasília e para governar. Veja que os demais candidatos só falam em obras, obras e obras, algumas bilionárias, como o estádio Mané Garrincha e o BRT do Gama. Muitas das necessidades do brasiliense não precisam de obras bilionárias. No campo da mobilidade urbana, Brasília já possui uma linha férrea sai da Rodoferroviária vai até Luziânia e de lá pra São Paulo. Está pronta e poderia ser um metrô de superfície para os moradores do Entorno, Gama Santa Maria e várias outras localidades. O custo dela, segundo estudos feitos pela Sudeco, seria a terça parte do que se gastou no BRT do Gama e que não resolveu o problema de transporte. Mas as soluções eficazes e baratas não interessam às grandes empreiteiras, que querem grandes obras. Na Saúde, fizeram um monte de Upas e o problema continua. O Saúde em Casa, implantado e gerido pela então secretaria de Saúde Maria José Maninha, cobriu as carências de atenção à saúde de um milhão de brasilienses em 1998, quando Brasília tinha menos de dois milhões de habitantes. E nem uma obra faraônica foi feita. Pelo contrário, as equipes de médicos, dentistas, enfermeiros, técnicos e auxiliares faziam atendimento domiciliar. Mas para esses governantes, sem obras, não serve.
Tamanho da Bancada…
Já tivemos a experiência do governador Cristovam Buarque, que, mesmo sem maioria na Câmara, administrou Brasília com eficiência sem mensalões e panetones. Em primeiro lugar, precisamos profissionalizar o serviço público. Hoje são cerca de 25 mil cargos comissionados. Muitos desses sabem que só estarão em seus cargos por curto tempo e encontram fórmulas criativas de obter a própria independência financeira. Com servidores de carreira, bem remunerados e motivados, teremos uma administração pública mais eficiente e mais impermeabilizada às propostas de corrupção. As administrações regionais precisam ter seus próprios corpos de servidores de carreira e o administrador, segundo proposta que vem sendo construída no âmbito do Psol, teria um perfil de gestor técnico e seria escolhido dentre os servidores de carreira do GDF. Nada de indicações de parlamentares que transformam as administrações regionais em quartéis generais de cabos eleitorais. É necessário também reduzir essa imensidão de administrações regionais. É um desperdício de dinheiro do contribuinte e que não representa eficiência para o cidadão.
Num governo Psol haveria maior participação popular nas decisões e nas políticas públicas?
Cada vez mais o cidadão busca uma democracia direta e participativa. Ele quer atuar diretamente, como acontece na Califórnia ou na Suíça, na tomada de decisões. Não só com o já conhecido orçamento participativo, mas, principalmente, com a cessão do poder de deliberação aos cidadãos. Constrói-se hospital, ou estádio? Implanta-se um sistema de mobilidade, de transporte público, com base em ônibus ou sobre trilhos? Implanta-se UPAs ou retoma-se o Saúde em Casa? Vai ter hotéis na orla do Lago, ou não? O PPCUB, por exemplo, deveria ser submetido a um plebiscito. Eu defendo esta ideia. As novas tecnologias facilitam esta tomada de decisão popular. O poder público tem que estar atento aos novos anseios, caso contrário será atropelado por eles. O GDF e a CLDF não podem parar no tempo. A presença do cidadão na tomada de decisões, fiscalizando, exprimindo sua vontade, é o melhor antídoto para a corrupção e a melhor garantia de governabilidade que um governo pode usufruir.
Quais os compromissos de sua candidatura
Queremos modernizar e preservar Brasília. Sem deixar de atuar em todas as áreas importantes, os compromissos fundamentais da candidatura de Chico Sant’Anna à Câmara Legislativa são com a mobilidade urbana, a preservação do meio ambiente, o crescimento sustentável, o apoio à Cultura, enfim, à qualidade de vida dos brasilienses. Mesmo com recursos federais em caixa, o Buriti posterga, sem explicações, a ampliação do metrô, em Ceilândia, Samambaia e rumo à Asa Norte, e a introdução do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Fecha também os olhos ao dramático problema de quem mora nos municípios goianos limítrofes à Saída Sul e Norte do DF. O uso do trem para o transporte público para a saída sul reduziria o trânsito de veículos particulares. Em cada viagem poderiam ser transportadas 1.400 pessoas, o equivalente a 11 ônibus articulados do BRT. Isso é possível e já acontece no Ceará, entre o Crato e Juazeiro do Norte. É o VLT do Cariri. Uma ação firme, comprometida, da Câmara Legislativa, pode reverter este quadro. Um mandato sem rabo preso com os interesses dos grupos econômicos pode recolocar Brasília no seu rumo.
Como você vê o modelo de desenvolvimento econômico de Brasília? Como conciliar com um crescimento sustentável?
Penso que o lado institucional, governamental, a Brasília cidade administrativa exclusiva, se esgotou. Evidentemente, os governos federais e distritais sempre terão um peso importante na economia local – hoje estimado entre 30 e 40% do PIB do DF -, mas outras opções devem ser buscadas. Governos passados pensaram em industrializar a cidade. Lotes foram distribuídos a pequenos e grandes empresários. O modelo não me parece ter dado o resultado esperado. O desemprego há anos gira próximo dos 200 mil brasilienses. Brasília tem que se espelhar em cidades como Paris e Washington. Investir na economia sustentável. Produção de conhecimento, turismo e cultura são as melhores opções. Temos uma elevada concentração de produtores culturais – artistas, jornalistas, cineastas, vídeo makers, produtores de vídeogames, escritores. A cidade poderia ser um pólo de produtos culturais, se aqui houvesse uma política editorial pública. Brasília poderia ser um pólo editorial de livros, como se transformou Barcelona, na Espanha. Temos um parque gráfico competente, mas que a cada dia que passa se transfere para as cidades goianas vizinhas, por conta da alta carga tributária. O Pólo de Cinema está abandonado. Museus e bibliotecas caindo aos pedaços. Nos cofres do Banco Central existe o melhor acervo de Portinari do Mundo, apreendido de banqueiros falidos. Por que não temos um Museu Portinari em Brasília? Por que não criar o Museu do Homem Brasileiro, idealizado por Darcy Ribeiro? Por que não se criar um aquário com a fauna e a flora aquática do Centro-Oeste e da Amazônia? Tudo isso atrairia mais turistas e os reteria por mais tempo em Brasília, gerariam mais empregos, renda. O modelo econômico de Washington, capital dos Estados Unidos tem, basicamente, este tripé: Administração Pública, Cultura e Turismo. Brasília não possui nem espaço nem água potável para abrigar indústrias. A especulação imobiliária precisa ser freada. Nosso crescimento deve se basear na produção de conhecimentos, de idéias: informática, biotecnologia, nanotecnologia, etc. Só assim, iremos absorver os jovens que todos os anos são formados na Capital e são obrigados a buscar empregos em outras paradas. Está na hora de isso mudar!
Na área de Comunicação, o que pode ser feito em Brasília?
Brasília possui a maior concentração per capita de jornalistas, proporcionalmente à população. A cada semestre, centenas de jornalistas, publicitários, relações públicas, produtores de rádio, cinema e TV se formam nas faculdades da cidade. Isso, sem contar com os que vêm de fora para tentar a vida na Capital. Mas nossa imprensa é frágil. Temos menos veículos do que em várias outras cidades com menor poder aquisitivo do que o DF. A imprensa das cidades do DF, a webimprensa e as rádios comunitárias não podem ficar sem apoio. Elas são importantes para a democratização da informação e também na geração de emprego e renda. Aqui, falta uma política pública de comunicação, uma política pública editorial que incentive o surgimento não apenas de novos veículos de comunicação, mas que também viabilize o Pólo de Cinema, o apoio a vídeo e game makers e a desenvolvedores de aplicativos e softwares. Além disso, urge a criação de um sistema público de radiodifusão, com a revitalização da rádio Cultura, reabertura da TV Distrital e implantação do canal cultural a que o GDF tem direito, por lei, na TV a cabo. Brasília precisa de liberdade de expressão democratizada, precisa de liberdade de informação. O monopólio informativo é ruim para o cidadão e ruim para o crescimento econômico local.