Uma das responsáveis pela implantação da Carreta da Mulher no Distrito Federal, brizolista de carteirinha e ex-atleta do Sesi de Taguatinga durante 18 anos, Célia Romeiro disputa pela primeira vez uma cadeira de deputada distrital pelo PDT. Quer levar para a Câmara Legislativa o ideal de lutar de implantar, de fato, a escola de tempo integral em toda a rede pública de Brasília. Casada, dois filhos e dois netos, ela acumula experiências profissionais como assessora do ex-ministro Ronaldo Sardenberg, do Metrô, da multinacional Nestlé e da Câmara dos Deputados. Nesta entrevista ao Brasília Capital ela revela que, se eleita, formará um gabinete de assessores especializados nas áreas de Segurança, Educação, Saúde e Direitos do Consumidor, para apresentar projetos que resolvam as demandas da população.
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BC – O governo Agnelo tem usado a Carreta da Mulher na campanha do ex-secretário de Saúde como um grande avanço. Porém, recebe críticas dos adversários. Dizem que é um paliativo, pois o ideal seria construir hospitais. Qual a sua visão a respeito?
CR – A Carreta da Mulher é uma solução. Primeiro que, quem é contra, precisa conhecer. Quando se fala “A Carreta da Mulher”, imagina-se uma simples carreta. Mas a Carreta da Mulher do Distrito Federalé bem superior ao consultório ginecológico particular que eu pago uma consulta de R$ 300. No consultório particular tem uma salinha pequena, onde faço o exame Papanicolau e, saindo de lá, terei que marcar outra consulta particular para fazer os demais exames. Ou seja, tenho que me ausentar do trabalho um dia para fazer consulta, outro dia para fazer outros exames, e ainda retornar outro dia ao médico. Já a Carreta vai praticamente à cassa da mulher. Eu fui atendida. Lá encontrei uma mulher de 64 anos que nunca havia feito o exame Papanicolau e nem mamografia. Ela me explicou que para fazer uma consulta tinha que gastar o dinheiro com transporte e, assim, deixaria de comprar o pão. Logicamente, optou pelo pão.
BC – Então, sua candidatura é puxada pela Carreta da Mulher?
CR – Não, ela não é puxada pela Carreta da Mulher.
BC – O que puxa a sua candidatura?
CR – A indignação e o amor pela cidade.
BC – Indignação com o quê?
CR – Com tudo. Nós temos o costume de ficar em casa, na vida boa e reclamando dos serviços. Eu, como gestora, gosto de olhar as coisas mais à frente. Tenho certeza de que precisamos repensar Brasília para daqui a 5, 10 anos. As pessoas andam de carros novos, mas está todo mundo indignado com o governo, porque os serviços públicos não funcionam.
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BC – Você acha que eleger o senador Rodrigo Rollemberg para governador será a solução para a sua indignação?
CR – Eu, como eleitora, ainda não fui conquistada por nenhum dos candidatos ao GDF. Estou esperando ser conquistada. Existe o Agnelo que pegou uma Brasília de 10 anos de corrupção, que tem muitas falhas e poderia estar bem melhor. Mas o Rollemberg não me conquistou.
BC – Onde que está sua falta de convencimento com o Rollemberg, já que ele é candidato majoritário da sua chapa?
CR – Ele não me conquistou porque ele já está na política há muito tempo e os problemas que vivenciamos hoje na política brasiliense não são responsabilidade apenas de governadores. Eles passam por quem estava nos representando na Câmara Legislativa, na Câmara Federal e no Senado. Então, quem esteve nas casas legislativas não fica de fora dessa crítica. Eles estão diretamente ligados à ineficiência que a gente vive hoje no serviço público.
BC – Então o seu candidato ao Senado também não te conquistou?
CR – Não. A fala do Reguffe condiz muito com sua ação. E eu dou esse crédito a ele. Ele é uma pessoa que, se prometeu fazer, “A”, ele fez. Ele tem que fazer mais? Tem. Ele pode fazer mais? Pode.
BC – É exatamente a suposta inação no mandato dele a principal crítica dos principais adversários. O Magela, como ex-secretário de Habitação, diz ter entregue 100 mil moradias. O Gim fala ter trazido R$ 20 bilhões do orçamento do governo federal para Brasília. O Reguffe só economizou o dinheiro do corte de gastos no gabinete. Este é o perfil ideal para um senador?
CR – Dentro dos meus princípios de vida, a desonestidade tem que estar fora. Começa por aí. O desonesto uma vez, vai ser desonesto sempre. Eu não acredito nessa recuperação de pessoas como o senador Gim. Isso está na índole. Agora, o executor pode ser melhorado. O Reguffe mantém uma postura ética. Mas, que ele tem que fazer mais, tem. Cabe a nós cobrarmos essa postura dele. Aí entra o papel da população. A gente não tem boas informações do Gim quanto ao caráter. Para mim, não tem como recuperar.
BC – No debate promovido pelo Correio Braziliense, chamou a atenção uma denúncia do governador Agnelo de que o Rollemberg entrou no Senado sem concurso. Você tem informação de que o Reguffe foi assessor do então senador Arruda?
CR – Ele não foi assessor efetivado, foi um cargo comissionado. Eu trabalhei minha vida inteira como um cargo comissionado.
BC – O fundador de seu partido, Leonel Brizola, era comprometido com o discurso da educação. No DF, esta bandeira sempre foi defendida pelo senador Cristovam Buarque. Qual o compromisso da Célia Romeiro como deputada distrital para a educação?
CR – Nossa bandeira para a educação é o ensino integral. Só que os muitos que falam sobre ensino integral não desenham muito essa metodologia. Eu sou a prova de que isso dá certo – o esporte junto com a educação. Esporte é educação, esporte é saúde, esporte é cidadania.Você aprende que está mais forte quando está unido. Isso é cidadania.
BC – Uma coisa corriqueira na política são pessoas que adotam um discurso para se eleger e depois mudam a postura. O PT tinha minoria na Câmara Legislativa no início do governo Agnelo e em pouquíssimo tempo já contava com o apoio de 21 dos 24 distritais, vários deles eleitos por partidos de oposição. Se você for eleita e o Rollemberg perder, você vai aderir ao governo ou vai ficar na oposição? Ou, ao contrário, você pode estar defendendo hoje uma candidatura e, após eleita, passar para a oposição. Qual será sua postura como deputada?
CR – Adorei sua pergunta, porque isso vai me dar espaço para dizer o que penso sobre a Câmara Legislativa. Eu quero levar para meu gabinete um especialista em educação, um em segurança pública, um em saúde. Quero contar com especialistas em todos os serviços públicos prestados pelo governo. Quero que essas pessoas façam um estudo desses serviços prestados à cidade e quero que elas fiquem responsáveis por propor. Sou candidata porque quero melhorar minha cidade. E se eu quero melhorá-la, tenho que propor mudanças. Se eu posso contratar 25 assessores, não farei como o Reguffe. Quero esses 25 na rua, para saber o que está acontecendo nos quatro cantos do DF. Eu, Célia, não pretendo ser oposição e nem governo, mas sim uma defensora da população da minha cidade.
BC – Costumam dizer os mais experientes que político tem que ter lado, tem que ter cor. Lado ou é oposição ou é situação.
CR – O meu lado é o da cidade, o meu lado é o dessa população que está esquecida. A Câmara Legislativa, hoje, é um ambiente de classes. Lá tem representantes da Polícia Civil, da PM, dos Bombeiros, sindicalistas, empresários e servidores públicos. Já o cidadão comum não tem representante no parlamento. Eu serei a representante dessa população. Porque eu, com os meus assessores, vamos ter o desenho das demandas da cidade e vamos propor soluções. Com os estudos que faremos, é aonde vamos colocar as emendas parlamentares. Se eu quero melhorar a educação, é lá que vou colocar dinheiro.
BC – Mas você sabe que não é tão simples assim. Muitas vezes, o deputado apresenta o projeto e até aprova a emenda, mas o governo não repassa o dinheiro para a execução. Aí, passa a depender de um bom “diálogo” com o governho…
CR – Diálogo é uma coisa, já negociar é outra. O diálogo é fundamental na vida do cidadão. Nós temos que dialogar 24 horas por dia. É por meio do diálogo que conseguimos resolver nossas demandas e nossos anseios. Sou uma pessoa que tem uma relação boa com todo mundo. Por exemplo, se for eleito o Agnelo ou o Rollemberg e a proposta for boa para a cidade, terá o meu apoio. O que eu quero é o bem da cidade.
BC – Construção de um estádio como o Mané Garrincha é bom ou ruim?
CR – Como atleta, defendo o Mané Garrincha. Brasília sempre ficou distante dos grandes shows e dos grandes jogos. Agora, ele tem que ser utilizado.
BC – Você acha que os custos da obra ficaram dentro dos padrões?
CR – Acho que tem muita falação em torno disso e nada ficou comprovado. Falaram que foi o estádio mais caro, que o custo aumentou bastante. O nosso estádio é o mais ecológico do Brasil e o mais bonito. Porém, precisamos que ele seja mais utilizado, pois somos carentes de grandes shows e de grandes festas. Brasília é o centro do país. Se fizermos grandes shows e grandes jogos, temos condições de absorver o Brasil inteiro.
BC – UPAs, hospitais ou Saúde em Casa. Qual seria a sua política de saúde?
CR – Minha mãe tem 83 anos e é deficiente física. Gostaria muito que ela recebesse o médico em casa, porque, para ela, o deslocamento é muito difícil. Igual a ela, existem milhares de pessoas. Somos oito filhos, todos possuímos carro e condições de leva-la onde for necessário. E ela tem convênio médico. Imagina pessoas de baixa renda que estão na mesma condição dela, dentro de casa. O ideal é a gente recuperar essa relação boa entre médico e família, e trabalhar a prevenção. A prevenção tem que se iniciar desde o bebê e não pode ser interrompida.
BC – Como defensora do ensino integral, você acha que os professores estão remunerados a contento, as escolas estão estruturadas, tanto para receber esses alunos, quanto para dar aos professores as condições de trabalho necessárias para que se dediquem à profissão?
CR – De jeito nenhum. A gente sabe que é por isso que faltam professores.
BC – Qual seria a sua proposta para os professores?
CR – O professor tem que estar bem remunerado. Isso não se discute. Agora, ele tem que estar bem preparado. Eu sou favorável a que se tenha um professor e um ajudante em sala de aula. É impossível que um professor sozinho tome conta de uma turma de 35 a 40 alunos. Existe isso nos Estados Unidos e na Europa. Um professor não vai sozinho para a sala de aula. Deveria ter um estagiário remunerado da área da educação para fazer este auxílio.
BC – Brasília está com os padrões de segurança ideais? Na sua visão, melhorou ou piorou nos últimos anos? O que tem que ser feito para que se atinja o ideal?
CR – Se existem falhas, tanto no Governo do Distrito Federal quanto no brasileiro, elas estão, principalmente, na segurança pública. A impressão que eu tenho é que são acéfalos, pois ela praticamente não existe. É incrível como as pessoas foram para as ruas há um ano e três meses e uma das principais reivindicações foi essa. Hoje, não podemos sair de casa. Sou favorável que a cidade seja totalmente monitorada. Claro que não estaríamos trabalhando a prevenção, mas, a partir daí, estaríamos fazendo a leitura da situação real da cidade. Agora, médicos e policiais têm que sair dos escritórios. Médico tem que sair do hospital e policial tem que voltar para as ruas.
BC – Como você trabalharia o corporativismo da segurança, como a jornada de trabalho? O PM, hoje, trabalha 24h/72h. A mesma coisa ocorre na Polícia Civil e nos bombeiros. E o efetivo aproveita essas folgas para fazer bicos. Você brigaria, como deputada, contra esse corporativismo da segurança pública de Brasília?
CR – É uma das coisas que eu já falei aqui. A Câmara Distrital, hoje, se dividiu em classes e só quem perde com isso é a população. Eles se juntam, votam leis que beneficiam só aqueles grupos e a população vai ficando abandonada. Então, nós temos que voltar com esses policiais para a rua, porque o policial fala que tem uma carga muito puxada, mas, se você trabalhar de maneira efetiva e preventiva, você vai ter uma relação boa com a comunidade. Tem que aumentar a carga de trabalho e reduzir a folga.
BC – A pessoa que você contrataria para o seu gabinete seria orientada por você a propor medidas nesse sentido, para fazer um estudo para reformular essa jornada?
CR – Se for para o bem da população, eu faço.
BC – A droga é um problema de saúde ou de segurança pública?
CR – É um problema geral. É um problema de saúde, de segurança, de família, de educação, da falta do esporte. Acho que esse tema está bem atrasado, pois há dez anos já existia essa perspectiva de que iríamos perder o domínio. E nós perdemos. As famílias estão perdendo os seus filhos e seus irmãos. O número de viciados está muito grande e o custo para recuperar é muito maior. As fronteiras estão abertas. Temos que fiscalizar mais. As escolas estão abertas. Temos que fiscalizar os aeroportos. Precisamos fazer uma força-tarefa para tirar das ruas aqueles que já entraram na droga, mas, mais do que isso, temos que fazer uma força-tarefa para que novos jovens não entrem nesse mundo.
BC – Brasília precisa de obras estruturantes no campo da engenharia?
CR – Precisamos melhorar várias coisas. Dentro do que vem sendo feito nos últimos anos, ninguém pensa Brasília para o futuro. Hoje, abre-se uma pista para que se passe mais carro, mas ela acaba sendo obsoleta em menos de um ano. O que precisamos é de planejamento para a cidade, pois ela foi planejada para um número X de habitantes e esse número, hoje, é quatro vezes maior. Antes de chegar em um nível tão absurdo, já tinha que ter existido um grupo para planejar a cidade, mas ninguém se preocupou com isso. Isso é o que mais me dói. Nós estamos aqui há anos reclamando, vendo que a cada ano que passa,a cidade perde em qualidade de vida e ninguém fez nada. Todos os governadores que aqui passaram fizeram o mesmo tipo de trabalho. Até a recuperação do asfalto é feita da mesma maneira. Vai ali, tapa um buraco e está tudo bem. Ninguém chegou ali e disse: “chega de tapar todo dia o mesmo buraco, algo tem que ser feito para acabar com isso, pois precisamos de algo duradouro”.
BC – A solução seria mais metrô e trem?
CR – Metrô. Nós temos que copiar o que dá certo no mundo e o que dá certo é metrô. Menos poluente, mais barato e mais rápido.
BC – Qual é sua mensagem para as 15 mil pessoas que você espera que votem em você para lhe assegurar a cadeira de deputada?
CR – Eu sou uma cidadã como todos vocês, indignada e triste com o rumo que tomou nossa cidade. O que me fez sair do sofá foi querer entregar uma Brasília melhor para as futuras gerações. Nasci aqui, meus filhos e meus netos nasceram aqui Não posso me acovardar e continuar sentada. Tenho a obrigação de trabalhar e entregar uma Brasília melhor para as futuras gerações.