Ex-presidente da Câmara Legislativa (2006-2007), Alírio Neto exerceu o mandato de deputado distrital na mesma época do atual governador Rodrigo Rollemberg (PSB). E diz conhecer bem o ritmo de trabalho do chefe do Executivo. No ano passado, Alírio concorreu a deputado federal e teve 78.945 votos. Mas, devido à fraca coligação de seu Partido Ecológico Nacional (PEN) não atingiu o quociente eleitoral. Ainda briga pela vaga na Justiça, contra o peemedebista Rôney Nêmer. Aos 55 anos, ele está aposentado da função de delegado da Polícia Civil. Nesta entrevista ao Brasília Capital, Alírio cobra a abertura das contas do GDF para a população e a promessa de campanha de Rollemberg de fazer eleições diretas para administradores regionais. “Rollemberg é totalmente despreparado para exercer o cargo de governador. Tenho minhas dúvidas se ele conhece a diferença entre orçamento e financeiro”, dispara.
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BC –O governo Rollemberg já começou?
Alírio – A impressão é de que nunca começou. Ele só consegue falar do passado, parece um samba enredo nostálgico. Ele só sabe reclamar do que encontrou. E como vencedor das eleições ele tinha o período de transição e a obrigação de saber como estava a máquina pública nesse período. A legislação prevê isso. Ele teria que ter um projeto para enfrentar essa crise. E não pode ser só o aumento de impostos, como ele está fazendo. O governo não tem uma proposta para a crise financeira que ele diz que existe no Distrito Federal.
BC – Essa crise existe mesmo ou é só uma justificativa a inação do governo?
Alírio – É muito comum se falar na política que tem gente criando dificuldade para vender a facilidade. O DF teve um aumento de arrecadação de 11% nos quatro primeiros meses deste ano. Ou seja, quase R$ 580 milhões. Eles não abrem as contas para a população. Acredito que todo o Brasil vive uma crise econômica. Só não acredito na proporção da crise que o Rollemberg está vendendo. Ele está vendendo dificuldade, para abrir facilidade, aumentando impostos e pesando o bolso do contribuinte.
BC – A oposição garante que o GDF tem R$ 1,6 bilhão em caixa. O governador diz que esse dinheiro de fato está no caixa, porém ele é carimbado ou contingenciado para determinadas áreas. Isso existe? Não pode haver remanejamento?
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Alírio – Você tem dinheiro que vem do Fundo Constitucional que só pode trabalhar nas áreas básicas – saúde, segurança e educação. Mas é possível fazer manobras orçamentárias. Imagine que você é um trabalhador que ganha R$ 1 mil por mês e tem uma dívida de R$ 300 para pagar daqui a três meses. Então, você não precisa separar esse dinheiro do seu orçamento agora. Você pode separar R$ 100 todo mês. Ou pagar tudo depois. Ou seja, você não é obrigado a ficar com esse recurso parado. Essa é a vantagem da experiência e do conhecimento da máquina, de saber trabalhar e conhecer de gestão. O que ele, infelizmente, não conhece.
BC – O Rollemberg está preparado para exercer o cargo de governador?
Alírio – Ele é totalmente despreparado. Tenho minhas dúvidas se ele conhece a diferença entre orçamento e financeiro.
BC – Se isto ocorre, a equipe dele não poderia suprir essa deficiência?
Alírio – Na verdade, o que a gente tem no DF é um secretariado extremamente teórico, que entende muito de literatura, ficção científica e astronomia, mas não sabe nada de gestão pública. Não vemos uma proposta de solução para crise em Brasília, a proposta é de transferir para o contribuinte as despesas. Eu vivi uma situação parecida com essa quando assumi a presidência da Câmara Legislativa, em 2006. A Câmara estava há dez anos descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal e eu tive que enquadrá-la em um ano. Isso permitiu ao GDF obter empréstimos internacionais para investimentos aqui. Fiz um plano de enquadramento com redução dos salários dos servidores da Câmara em 10%, um plano de redução de contas de energia elétrica e de despesas com telefone. Com isso, consegui a Certidão do Tesouro Nacional. Não precisei, em nenhum momento, criar aumentos de contribuição do GDF para a Câmara ou de repasse do GDF para a Câmara. Pelo contrário, tive que me enquadrar com um plano orçamentário feito pelos técnicos reduzindo as despesas.
BC – Você acha que, diante desse cenário de desânimo, a sociedade já comece a pensar na sucessão do atual governador. Na semana passada, por exemplo, já surgiram especulações sobre uma eventual candidatura da presidente da Câmara, deputada Celina Leão…
Alírio – A sensação que eu tenho é de que a campanha nem terminou. Toda vez que escuto o discurso do Rodrigo Rollemberg parece que ele está no palanque fazendo promessa. Ele não entendeu que já está no período de trabalho. Eu quero que ele mostre isso. O que vemos hoje é que o governo trabalha com factóides, mas não cria soluções, muito semelhante ao que o César Maia apresentou na prefeitura do Rio de Janeiro. Por exemplo: ele vai a Santa Maria, entra no ônibus e desce na Rodoviária. Mas não apresentou uma proposta de solução para o transporte coletivo. Ele pega a bicicleta e dá um passeio de duas horas, mas não apresenta uma proposta para as ciclovias. Ou seja, isso tudo é marketing político, ou factóide. Isso faz com que tenhamos a sensação de que estamos em plena campanha, o que é péssimo para a gestão do Estado. Estamos com a economia da nossa cidade totalmente parada. Não tem um alvará de construção, não tem Habite-se, a construção civil está engessada por culpa do governo, o que gera inúmeros desempregos também no comércio de material de construção. O GDF não tem uma só licitação na rua neste momento, o que faz com que as empreiteiras fiquem paradas, gerando desemprego. Então, há sim um clima de busca de sucessão para esse governo.
BC – Quem seriam os candidatos?
Alírio – Eu apostaria em pessoas que entendem de gestão pública. Precisamos levar experiência para o governo. O deputado (Alberto) Fraga (DEM) que é um nome que se colocou bem, com uma votação expressiva. O ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), que tem um partido político muito forte e muita experiência administrativa. Isso não pode ser negado. O senador (José Antônio) Reguffe (PDT), que também veio muito bem nas pesquisas, embora precisemos analisar suas intenções de se candidatar.
BC – O Reguffe ajudou eleger o Rollemberg e está numa linha de cobrar do governador o cumprimento de alguns compromissos, como isentar os medicamentos dos impostos e não aumentar tributos…
Alírio – O Reguffe está numa situação delicada. Ele sempre foi contrário a esses aumentos de tributos, inclusive de remédios, e está apoiando o Rollemberg, que só fala em aumentar os tributos acima da inflação. O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) está saindo de 2 para 3, o que equivale a 50% de aumento. Ou seja, são 50% além do reajuste de mercado.
BC – E quanto à promessa de fazer eleição direta para administradores regionais?
Alírio – Novamente, o Rollemberg vai aplicar um estelionato eleitoral. Na eleição para deputado distrital, ele defendia a eleição para administrador. Quando ele foi candidato a deputado federal, falava que iria lutar pela eleição para administradores regionais. Quando foi eleito senador, falava que iria lutar pelas eleições dos administradores regionais. Agora governador, também fala, mas não providencia. Ele dizia que no seu primeiro dia de governo colocaria placas de outdoors na cidade dando transparência do valor que o governo estava arrecadando e quanto iria gastar. Nós já temos cinco meses e não vi nenhuma placa dessa. Ele dizia que daria senha para o contribuinte acompanhar as despesas do governo. Antes de sair da Câmara aprovei um projeto autorizando a senha e, no final, adivinha quem vetou? Rodrigo Rollemberg. Por que você não dá a senha para o cidadão acompanhar o orçamento do GDF? Por que o cidadão não pode acompanhar? Porque ele tem receio que saibamos como vem sendo gasto o dinheiro.
BC – Seu discurso não está afinado com a única representante de seu partido na Câmara, deputada Luzia de Paula, que faz parte da base aliada de Rollemberg. Como está sendo esse entendimento na sua casa?
Alírio – Eu era o presidente regional do PEN e hoje sou secretário nacional. Como no PEN regional havia um grupo, do qual fazia parte a deputada Luzia de Paula e outras pessoas, que acha que deveriam compor o governo por se tratar de um momento de crise, eu me afastei. Eu já conhecia o Rodrigo Rollemberg, pois fui deputado com ele. Não acredito nele. Não sou pessimista. Pelo contrário, sou muito otimista. Mas só posso trabalhar com a realidade daquilo que vivi. Diante disso, me afastei da presidência, para dar um tempo até junho, prazo combinado. Se houver o fruto e gestão que estão prometendo, com transparência, eficiência e competência, dou meu braço a torcer e apoio. A partir de junho, vamos reiniciar os debates internos do partido e vou mostrar a eles que os resultados que temos até agora é de uma população que foi enganada. Não só com promessas que precisem de dinheiro, pois você poderia dar transparência dando a senha do Siggo (Sistema Integrado de Gestão Governamental) para qualquer cidadão. Ele teve a oportunidade. Ele poderia fazer eleições nas administrações sem nenhum custo a mais. Ele tem a caneta. Era só escolher o mais votado e nomear. Nós vamos ter reuniões e debates intensos dentro do PEN para chegar à conclusão se permanecemos ou não na base do governo.
BC – Caso a decisão seja pela permanência na base, você pode sair do partido?
Alírio – Haverá um tendência muito grande do meu grupo sair. Estamos extremamente insatisfeitos. As pessoas que trabalham comigo, que são minhas aliadas e estão conosco há muito tempo, não estão nem um pouco satisfeitas com a posição do atual governo.
BC – Seu grupo sairia para fundar um novo partido ou iria aderir a uma agremiação já existente?
Alírio – É algo a ser pensado. Afinal, tenho uma real possibilidade de assumir o mandato de deputado federal, pois existe quatro ações contra o titular Rôney Nemer (PMDB), três delas conclusas para votação. Eu fui o quarto mais votado e tenho uma possibilidade de assumir o mandato. Portanto, não posso correr esse risco. Porém, acredito que o PEN terá juízo. Por exemplo, a Luzia de Paula indicou o administrador da Ceilândia, que é filiado do partido, mas não vejo resultado nenhum. Só tem 17 funcionários dela participando da gestão. Não vejo esse resultado, assim como não vejo no Plano Piloto e no Guará.
BC – O que você acha da Central de Aprovação de Projetos (CAP), criada pelo atual governo, e que tirou os poderes das administrações regionais?
Alírio – De fato, as administrações viraram cabides de emprego. Toda administração moderna está baseada na descentralização e desconcentração, e o Rollemberg fez exatamente o contrário. Isso é um atraso. Até entendo que algumas obras de grande porte poderiam vir para essa Central. Agora, um lote de 90 m² para construir uma casa, qual é a dificuldade de resolver os problemas dentro da própria cidade. Além disso, as pessoas que trabalham há muito tempo nas regiões administrativas já conhecem a legislação e as exigências, e têm mais facilidade para resolver. A burocracia no Estado brasileiro foi feita para ser compartimentada.
BC – E quanto à proposta de extinção de várias administrações?
Alírio – Sou favorável à extinção de algumas, mas, com certeza, sou contra a fragilidade administrativa dessas administrações. Algumas são exageradas e poderiam se transformar em subadministrações ou gerências. Mas enfraquecer e fazer dos administradores apenas cabides de emprego, sou contra. O administrador não emite mais alvará, Habite-se, não faz licitação de pequenas obras, não manda na limpeza, na saúde ou na educação. Ele é um despachante de processos de luxo. Um office boy de luxo. Brasília tem que entender que as cidades-satélites têm que ser menos satélites e mais cidade. Temos que entender que existe uma população que não está apenas no Plano Piloto, infelizmente. Infelizmente, o Rollemberg só pensa nesse lugar. Inclusive, colocou a marca Governo de Brasília. E o Sol Nascente, Água Quente, Lageado, Basevi e Buritizinho? São comunidades, que, se o Estado não estiver presente e não fizer a infraestrutura, teremos uma Baixada Fluminense muito forte na periferia da capital da República. E essas pessoas virão para cá cometer delitos. Se tem um momento em que o Estado do DF se ausentou da periferia é na gestão Rollemberg.
BC – E quanto à saúde, segurança e educação. Essas áreas estão sendo contempladas de que forma? Melhoraram ou pioraram?
Alírio – Pioraram muito. A segurança pública está em situação extremamente crítica. É feita uma maquiagem escancarada dos dados. Ocorre aumento de homicídios, aumento de roubos e furtos, e até caixas eletrônicos são explodidos. Nunca tínhamos visto isso em Brasília. As crianças não podem ir para a escola, pois os traficantes estão lá dentro. Nós tínhamos um projeto de prevenção que atendia 350 mil jovens e, nesse atual governo, não se teve um dia de projeto de prevenção em uma escola, com palestras e a conscientização. Não se combate as drogas sem prevenção e tivemos 3 mil pessoas internadas por dependência química nas comunidades terapêuticas e não foi aberta nenhuma vaga sequer nesses últimos seis meses. As creches que ele está inaugurando foram feitas no governo anterior. Antes, era possível tirar um passaporte em 15 dias. Hoje, gastam-se quatro meses. Ou podia tirar no Na Hora do Riacho Fundo, sem agendamento, o único lugar do Brasil que fazia esse serviço. E eles tiraram essa possibilidade. As crianças não podem ir à escola na Ceilândia, que estão tomadas pelos traficantes. Os professores não têm condições de trabalho.
BC – E a questão dos servidores públicos, que quase perderam o direito aos reajustes salariais conquistados em anos anteriores?
Alírio – O Rollemberg faz isso porque nunca fez um concurso público, não sabe o esforço que tem que ser feito, porque ele entrou pela janela. Nunca passou uma necessidade de sentar a bunda na cadeira para estudar, porque o pai dele arrumou uma vaga para ele no trem da alegria do Senado. E agora ameaça as pessoas. Ele queria trazer os servidores para o lado dele, ameaçando demitir se não se enquadrasse para poder aumentar os impostos. Esse é um governo que deixará uma marca terrível no Distrito Federal. Este ano é um ano perdido. A partir de agosto, se não tiver editais na rua, não haverá licitações, porque são necessários pelo menos de três meses, e em novembro não pode mais penhorar, porque não há empenho.
BC – Será que ele está fazendo caixa para os últimos três anos?
Alírio – Esta é a velha política de sempre. Acredito que ele não tenha uma equipe competente e está tentando fazer caixa para alguns projetos. Mas não são projetos dele. São projetos que já estavam desenhados e elaborados. Ele não sabe fazer uma licitação.
BC –Você não está sendo mais pessimista do que o próprio governo? Não daria para dar um pouco de esperança para o futuro da cidade?
Alírio – Com muita sinceridade, eu vejo que, principalmente após a entrevista do secretário de Saúde (João Batista de Sousa), que nós precisamos descansar bastante nesses três anos que ainda faltam e rezar para o tempo passar rápido. A situação não é fácil. O próprio secretário falou que só vai piorar. E ele é o gestor. Então, é importante aprender nessas crises que o voto não pode ser entregue por uma peça de marketing. O que vimos foi um sabão de coco em barra vendido como um sabão em pó da melhor qualidade. O marketing vende produtos. Precisamos de gestores com experiência administrativa e quadros que façam a cidade ter projetos, crescer, gerar empregos e qualidade de vida. O que não é o caso do senhor Rodrigo Rollemberg.
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