Adriano Mariano Strazzi (*)
O Brasil tem 215 milhões de habitantes e quase 150 milhões de eleitores. No País, 158,3 milhões estão com fome ou não farão todas as refeições hoje e nos próximos dias. Tocarão seus dedos nas teclas das urnas eleitorais de estômago vazio, estocando vento, que outrora fora apenas um meme divertido.
Os dados são do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan), desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), em parceria com diversas instituições.
Sem dinheiro para a comida, certamente não o terão para a condução até a zona eleitoral. Talvez a fome, desta vez, venha a ser motivo de abstenção recorde, sobretudo nas capitais e regiões metropolitanas.
Institutos de pesquisa, jornais, marqueteiros e toda sorte de profissionais tentam prever o sentimento dos eleitores perante as urnas. No dia 2 de outubro, 1º turno das eleições, grande parte dos brasileiros estará nas filas de votação com o sentimento físico e psicológico da fome.
Dia 16 de agosto começa oficialmente a campanha e a propaganda eleitorais. As pré-candidaturas de Lula e Bolsonaro concentram 75% das intenções de voto para presidente e dão o tom das demais campanhas, de deputados a governadores, das ruas às redes.
Com mais de 33 milhões de brasileiros com o devastador sentimento diário da fome, e mais de 125 milhões com o desespero psicológico constante da insegurança alimentar – colocando a sobrevivência primária, a de se alimentar, como a preocupação número um de seus dias – é natural que quem concorra à reeleição, com os recursos financeiros da máquina governamental, e suas benesses eleitorais imediatas, abocanhe milhões destas desesperadas intenções de voto, ao passo que antigos gestores, de tempos de políticas sociais mais acertadas, sejam símbolos da memória afetiva de outros milhões, que liga o passado do Brasil a melhores e menos impiedosos tempos.
Entre os outros candidatos, no limbo entre a disputa do benefício presente e o conforto emotivo do passado, estão os que tentam simbolizar a nova solução para os problemas de sempre, agora potencializados. A esses, na busca desesperada para serem notados e levados em consideração pelo eleitor, sobra a estratégia da publicidade nas mídias digitais.
Famintos e assustados, potenciais eleitores buscam entretenimento barato, abundante e efêmero, em vídeos curtos e variados. Nesses espaços, agências de publicidade, contratadas pelos candidatos da via alternativa, usam a equivocada estratégia dos celebrados digital influencers para seus clientes, que não os são nem nunca serão.
A classe política é mal vista no Brasil. Pressupor a boa vontade do eleitor, faminto e desempregado, em aglomerações controladas para vaidosos políticos em palco de eventos esvaziados de conteúdo, vídeos de cortes de podcast focados em frases de efeito, humanização forçada em músicas cantadas, dancinhas e caixas de texto com dedos apontando, são soluções provisórias, doces e fáceis para derrotas permanentes, amargas e difíceis.
Somente a comunicação – sobretudo a de estratégia equivocada – não é suficiente.
Aos políticos carentes de estratégia profissional de mobilização, equipes (treinadas semanalmente) de mobilizadores em bairros, cidade a cidade, diariamente coletando informações e acompanhando interações para as ações estratégicas do pré-candidato, divulgando projetos, propósitos e fortalecendo sua marca pessoal, seu símbolo de distinção entre os adversários, e, a partir daí, coordenando o sentimento do eleitorado com as agendas de visitas às cidades, eventos, falas públicas e publicidade em mídia, são ações imediatas que podem dar corpo e verdade à existência do pré-candidato no imaginário dos eleitores e, então, se traduzir em crescimento na intenção e consolidação de votos.
Pautar a mídia tradicional e nacional com sua marca em ações pontuais de grande repercussão, fazendo reverberar na audiência das redes sociais, é o desafio de todo candidato majoritário com pretensão real de vitória neste ano.
Entre a Máquina, a Memória e a Mídia, o eleitor ficará com quem simbolizar e credibilizar a imagem de ser o meio das soluções imediatas de sua miséria.
(*) Consultor Estrategista em Marketing Político Eleitoral