Carlos, Jefrão, Ignês, Alysson, Rodrigo, Manoel Messias. Todos motoristas de aplicativos, disputam clientes com mais de 30 mil profissionais no Distrito Federal. Contam histórias parecidas sobre vantagens e desvantagens de sobreviverem como “trabalhadores precarizados”, segundo definição dos economistas.
Eles veem a relação de trabalho oferecida por aplicativos, como Uber e 99, entre outros, como uma forma “moderna” e “libertadora” de garantir uma renda. Sem nenhum direito trabalhista e com uma jornada que, geralmente, ultrapassa as 12 horas diárias, quem se aventura na uberização sabe que nunca terá direito a aposentadoria, férias, descanso no fim de semana.
“A uberização faz a pessoa se sentir ‘empreendedora’, dona de um negócio. Mas não passa de um trabalhador precarizado, que não ganha o suficiente e não tem direitos que garantam uma velhice de qualidade”, afirma o engenheiro civil Jefrão Menezes, que, atualmente, é motorista de Uber.
Rodrigo Rodrigues, 24 anos, estudante, também é motorista. Ele alugou um carro em outubro de 2019 e o entregou agora, em janeiro, por causa de uma viagem. “Alguns dias, trabalhava 6 horas; noutras, não trabalhava, e, dependendo do movimento, num sábado, por exemplo, ficava até 13 horas ao volante”, conta.
Sem fazer conta – Com essa jornada inconstante, Rodrigo conseguia tirar R$ 1,8 mil por mês, líquidos, após descontar gasolina, aluguel do carro, percentual do aplicativo e outras despesas. “Isso porque sou displicente. Se a pessoa rodar a franquia dos 6 mil quilômetros, faz até R$ 4 mil por mês, com jornada de 10 horas por dia”, assegura.
Conhecido como Scooby Uber, o quiosqueiro Manoel Messias também trabalha como motorista de aplicativos. Diz que sua jornada é de 18 horas por dia. Quando não está no quiosque, está nas ruas, como motorista da Uber e da 99, nas quais se cadastrou em 2016.
Ele usa carro próprio e, como todo motorista de aplicativo, arca com todas as despesas e custeio da atividade e repassa 25% do que ganha para a Uber. Scooby não tem ideia do quanto ganha e gasta por mês. “Não faço esse cálculo nem no quiosque. Não tenho paciência para isso”, diz. Lembra, porém, que foi assaltado enquanto trabalhava como Uber e a empresa não o ressarciu, alegando não haver essa política.
Mesmo assim, reitera que nunca houve problemas trabalhistas com a Uber. “Não somos funcionários, somos parceiros. Não temos vínculos empregatício”. Esse é o retrato de quem trabalha como motorista de aplicativo.
Nova classe empobrecida
O economista e professor da Universidade de Campinas, Márcio Pochmann, diz em seus estudos que a chegada a Uber no Brasil é a consolidação de uma nova classe trabalhadora que surgiu nos anos 1980, com o início da desindustrialização do País.
“Cada vez mais, a nova classe trabalhadora de serviços se torna exposta aos experimentos do uberismo na organização e remuneração da força de trabalho, o que faz com que a regularidade do assalariamento formal e a garantia dos direitos sociais e trabalhistas tendam a se reduzir drasticamente”, afirma.
A Uber já está presente em 65 países, tem mais de 18 mil funcionários precarizados pelo mundo e registra, em média, 15 milhões de viagens por dia. No Brasil, a empresa opera em mais de 100 cidades e tem 75 milhões de usuários cadastrados. O aplicativo 99 só existe no Brasil e não forneceu mais detalhes à reportagem.
No filme Sorry We Missed You (leia A Arte retrata a realidade), a realidade se confunde com a ficção e a uberização do trabalho é tratada em um drama britânico-francês-belga, lançado em 2019, dirigido por Ken Loach, escrito por Paul Laverty e produzido por Rebecca O’Brien. Relata a atual precariedade do trabalho, uma alternativa para aqueles que fogem, desesperados, do desemprego e o empobrecimento da população das pequenas classes médias no Reino Unido.
A arte retrata a realidade
O filme inglês Sorry We Missed You – uma ironia que se refere ao aviso deixado nas caixas do correio quando não é possível fazer a entrega da encomenda a um destinatário ausente – é um libelo contra a uberização do trabalho que varre o mundo do trabalho nos países ricos e pobres.
Lançado em 2019, o filme relata a atual precariedade do trabalho na Inglaterra, uma alternativa para trabalhadores que fogem, desesperados, do desemprego e mostra o empobrecimento da população das pequenas classes médias do Reino Unido. A semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
“Isso acontece nas melhores famílias inglesas”. Esse é um ditado que corre no Brasil há centenas de anos quando alguém quer dizer que, se uma situação ruim ocorre na alta Corte britânica, não tem nada de mais acontecer no Brasil, um país de terceiro mundo com pouca significância econômica, cultural e política entre a elite hegemônica.
Se o ditado, geralmente, é fruto da observação e traz uma situação recorrente no mundo, a arte retrata a realidade. É o caso do cinema, que vem mostrando a precarização do trabalho e o surgimento de novas formas de relacionamento trabalhista que têm causado o empobrecimento generalizado no mundo. Mergulhados nessa realidade, longe das telas cinematográficas, está a chamada “uberização do trabalho”.
Como atuar no aplicativo sem carro
Quem não tem carro, tem de alugar o automóvel e, além dos descontos do aplicativo, paga a locadora e toda a despesa do veículo. Rodrigo Rodrigues conta que foi na Localiza que encontrou o melhor preço.
“Eles estavam dando desconto de 15% pela parceria Uber e Localiza, saindo por R$ 1.280, com 6 mil Km para rodar no mês, ou 1.500 km por semana. Para alugar é necessário o pagamento de R$ 915 (não é caução), que depois é devolvido em conta corrente após encerramento do contrato”, informa Rodrigues.
O carro, geralmente, é entregue quase novo, com poucos quilômetros rodados, e não fica mais do que 30 mil Km na mão do motorista parceiro. Também na Localiza, o contrato pode envolver uma cobrança semanal do motorista (se autorizado por ele) dos ganhos diretos da plataforma, ou seja, R$ 320 por semana, descontados diretamente da plataforma Uber, não tendo o motorista que pagar em dinheiro ou cartão.
UNIDAS – A Unidas oferece 6 mil Km mensais por R$ 1.450, mas tem uma caução mínima, que deve ser bloqueada no cartão do usuário. Na Movida, segundo Rodrigues, era com 5 mil Km mensais e R$ 1.500, também com caução. Porém, tem uma vantagem: Na Movida, os carros disponibilizados para Uber têm película, e isso é considerado, pelos motoristas, um cuidado a mais do aplicativo. “Porém, são mais caros e com menos quilometragem para o motorista”.
Regras para ser parceiro
. Não ter antecedentes criminais.
. Ser maior de 21 anos.
. Possuir seguro do carro.
. Ter um smartphone.
. Fazer uma vistoria anual no veículo.
. Adicionar EAR (exerce atividade remunerada) na CNH = R$ 270.
. O motorista deve manter uma boa avaliação por parte dos usuários, dentro da média de sua cidade.
. O carro deve ter 4 portas e ar-condicionado.
. Ano-modelo: 2008 ou mais novo (UBER-X), 2012 pra frente (UBER BLACK).
. Em nenhuma categoria são aceitos carros com placa vermelha, pick-ups, vans e caminhonetes. Também não são aceitos veículos adesivados, plotados, sinistrados e com alteração no sistema de suspensão/freios.
Jornada – Não há uma quantidade mínima de horas exigidas para trabalhar na Uber. O pagamento sempre é depositado na conta cadastrada e é realizado semanalmente. Em caso de pagamento em dinheiro, a Uber desconta dessa conta o valor referente a porcentagem dela e o motorista fica com o dinheiro recebido na corrida.
Vantagens
. Rede Original: Desconto mínimo de R$ 0,10 em todos os valores de tabela em gasolina comum, aditivada ou etanol. Válido para qualquer forma de pagamento (débito, crédito ou dinheiro).
. Desconto na manutenção dos veículos na loja SERMEC.
. Desconto de 5% na compra de pneus Michelin e BF Goodrich na VITESSE PNEUS.
. Desconto para lavar o carro na AGENDE LAVE.
. Desconto para consultas médicas com a VALE SAÚDE SEMPRE.