Filomena Madeira
Quarenta e oito mortes confirmadas, 2.500 desabrigados, dezenas de desaparecidos, estradas obstruídas. O cenário no litoral Norte de São Paulo desde domingo (19), após as fortes chuvas que atingiram a região nos últimos dias, é de terra devastada e luto. Em São Sebastião, a cidade mais atingida, as pessoas sofrem com o desalento de assistir seus bens sendo destruídos pela onda de lama e detritos.
As cenas de terror são o novo episódio de uma tragédia mais do que anunciada, chamada ocupação precária de encostas. Seja em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Paraná ou no Amazonas, morar nessas áreas é viver sob risco iminente, visto que é natural a terra se movimentar e deslizar durante episódios de chuvas acima da média, como a que ocorreu nos últimos dias (de acordo com informações do governo estadual, em menos de 24 horas o acumulado de chuva ultrapassou os 600 mm em áreas específicas do litoral).
O perímetro mais afetado fica entre São Sebastião (627 mm) e Bertioga (683 mm), um dos maiores índices pluviométricos já registrados no País, considerando que as chuvas não foram consequência de um ciclone tropical. Esses deslizamentos, que são observados em menor escala em áreas com cobertura vegetal preservada, têm seu poder de destruição amplificado nas encostas com ocupações urbanas precárias, visto que a retirada das árvores permite que a água se desloque com mais intensidade.
Atitude de chefe de Estado
O resultado é sempre o mesmo: em minutos, casas destruídas, pessoas soterradas, horror, mortes de famílias inteiras. A única diferença que se pode observar é o comportamento do chefe de Estado diante de um desastre dessa magnitude. Talvez aí resida toda a diferença do mundo.
Em dezembro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) não considerou as inundações que ocorreram na Bahia, com dezenas de mortos e mais de 75 mil desabrigados, motivo forte o suficiente para interromper os passeios de jet ski durante as suas férias em Santa Catarina.
Já este ano, o presidente Lula, ao ser notificado das ocorrências no litoral norte paulista, suspendeu imediatamente a sua folga no feriado de carnaval e se deslocou para São Sebastião.
“Nós estamos juntos. Ele [Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo] tem obrigação de governar o estado; este aqui [prefeito de São Sebastião] tem obrigação de governar a cidade, e eu tenho obrigação de governar o Brasil. Se cada um ficar trabalhando sozinho, nossa capacidade de rendimento é muito menor. É por isso que precisamos estar juntos, compartilhar as coisas boas e as ruins. Juntos seremos muito mais fortes”
ressaltou Lula durante a visita.
Parceria em prol da população
Além da empatia com o sofrimento de tantos (além de cumprir a sua obrigação como Presidente da República), Lula também mostrou que para ser um bom governante, é preciso deixar as diferenças políticas de lado. Em sua fala, frisou a necessidade de união para trabalhar pelo país, e lembrou que ele, o governador e o prefeito de São Sebastião são de grupos políticos diferentes.
“Essa parceria é uma fotografia boa para nosso país. Se cada um trabalhar sozinho, nossa capacidade de rendimento é muito menor”
Na quarta-feira (22), o governo federal anunciou a liberação imediata de R$ 7 milhões somente para atender o município de São Sebastião, além de ter designado pessoal, viaturas, aeronaves e produtos essenciais para auxiliar os municípios atingidos. Bem diferente da postura de Jair Bolsonaro, que à época das inundações até editou uma medida provisória para designar R$ 200 milhões para áreas atingidas em todo o país, mas destinou apenas R$ 80 milhões para atender ao Nordeste inteiro. Reflexo da antipatia com a região do país onde ele teve menos votos no pleito de 2018. Depois de quatro anos de tanta mesquinharia, é um alento saber que pode se esperar empatia e senso de humanidade do responsável por conduzir os caminhos do nosso país.