Você chega em casa cansado e convida sua filha para lanchar. Na lanchonete, é atacado por um desconhecido. Ele lhe xinga e tenta lhe agredir fisicamente. Você quer sair dali para evitar confusão e poupar a menina do constrangimento. Você é Ricardo Viana.
Você é um sujeito “esquentado”. Não leva desaforo para casa. Já se envolveu em muita confusão. Curte um baseado e odeia preto. Essa raça está mais para macaco do que para gente. Se cruzar com um, vai “pegar” na porrada. Você é Pedro Henrique Martins Mendes.
Você é uma pessoa que, embora sem antecedentes criminais, cometeu delitos. Se envolveu com uma turma barra pesada, praticou assaltos, acabou preso e vai a julgamento junto com a gangue. Você se chama Natan Vieira da Paz.
Você nasceu em família rica. Descendência europeia. Estudou nas melhores escolas. Fez concurso para juíza. Atua numa Vara Criminal. Para você, negro tem maior grau de periculosidade do que branco. Você se chama Inês MarchalekZarpelon.
Ricardo é delegado da 3ª DP do Cruzeiro. Quebrou barreiras sociais para chegar onde está. Mora no Lago Sul de Brasília. No sábado (8), reagiu aos ataques e deu voz de prisão ao agressor. No dia seguinte, desabafou pelas redes sociais, “não como delegado, mas como negro, cidadão e pai de duas filhas negras”.
Pedro Henrique, apesar dos quase 40 anos de idade, não fala por si. Vacilão, se esconde atrás do pai e do irmão até para pedir desculpas. Preto, para Pedro, é “macaco” ou “viado”. Preso após ofender o delegado, pagou fiança de R$ 3 mil. Usou o advogado para escrever uma “nota de arrego”. Vai responder processo.
Inês usa a capa preta para agravar a pena dos pretos que julga. Se negro praticou delito junto com branco, vai ficar 7 meses a mais na cadeia “em razão da raça”. Mas Pedro caguetou a juíza e a advogada dele vai acionar o Conselho Nacional de Justiça, o de Direitos Humanos e o de Igualdade Racial, além de pedir à OAB que apure a conduta da magistrada.
Inês, como Pedro, não dá a cara a tapa. Divulgou nota dando o dito em sua própria sentença por não dito. “Em nenhum momento houve o propósito de discriminar qualquer pessoa por conta de sua cor. O racismo representa uma prática odiosa que causa prejuízo ao avanço civilizatório, econômico e social”.
Bom seria se as desculpas esfarrapadas de Pedro e Inês fossem sinceras. Que a atitude deles fosse exceção e não a regra no Brasil. E que nossos Ricardos e Natans não sofressem discriminação e “em razão da raça”.
Que tenhamos raça para lutar contra as Ineses e os Pedros Henriques!