Acuada diante do agravamento da crise que se seguiu na Petrobras às revelações da Operação Lava Jato, e diante de uma base governista desarticulada e a cada dia mais rebelde, a presidente Dilma Rousseff se reúne nesta quinta-feira, em São Paulo, com seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo do encontro é tentar acertar os ponteiros com seu principal conselheiro e reverter a imagem de que está isolada – e que suas decisões solitárias teriam resultado em inúmeras e repetidas derrotas no Congresso. No alto escalão petista, consolida-se a tese de que a presidente às vezes age da forma oposta à esperada justamente para demonstrar poder diante do partido e de seu mentor.
O mais recente caso do tipo se deu na indicação do novo presidente da Petrobras, na semana passada. Na véspera do anúncio de que Aldemir Bendine foi escolhido para o cargo, o ex-presidente queixava-se a aliados da falta de disposição de Dilma em dialogar e ouvir seus conselhos. Lula sugeriu os nomes do ex-presidente do Banco Central Henrique Meireles, do executivo Antonio Maciel Neto e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Dilma não aceitou e, no dia seguinte ao desabafo de Lula, confirmou a tese ao nomear um nome que desagradou o corpo de funcionários da companhia e não fora aventado em momento algum. O ex-presidente, que pretende se lançar candidato novamente em 2018, sabe que o agravamento da crise do atual governo pode prejudicar seus planos para a próxima eleição. Mas não quer forçar um rompimento que pode ser prejudicial ao partido.
A reunião com Lula deve se dar durante um almoço, e não está na agenda oficial da presidente. Também nesta quinta ela realizará exames de rotina, no hospital Sírio-Libanês, mesmo local onde fez tratamento de um câncer no sistema linfático, diagnosticado no início de 2009 e curado no mesmo ano. Dilma evita colocar em sua agenda oficial encontros com Lula e compromissos que considera privados, como a realização de exames.
O encontro de Dilma e Lula vinha sendo tratado sob sigilo pelo governo. A presidente queria evitar a interpretação de que ela mais uma vez pedia socorro ao padrinho político. Tanto que tentou transferir a agenda com o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que seria realizada na sexta à tarde, em Brasília, para esta manhã, na capital paulista. Assim, quando terminasse a reunião, Dilma sairia para o encontro com Lula, sem que fosse necessário incluir o compromisso na agenda.
Congresso – O governo também definiu uma série de ações no Congresso para tentar diminuir a crise. Uma primeira articulação ocorreu com o PRB e mais oito partidos nanicos, que, juntos, somam 39 deputados. O bloco ficou na órbita de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) durante a campanha para a presidência da Câmara. Foram oferecidos a eles cargos no Ministério do Esporte, comandado por George Hilton (PRB). A iniciativa irritou os presidentes das legendas. \”(O governo) ofereceu cargos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica para o bloco. E agora o PRB está oferecendo para estes deputados participarem do bloco cargos no Ministério do Esporte\”, disse Levy Fidelix, presidente do PRTB.
Também foram acertadas reuniões de ministros e até da presidente com os partidos. A primeira deve ocorrer no dia 24 e terá como tema a discussão das medidas provisórias que tratam de alterações em regras trabalhistas, assunto que tem enfrentado ampla rejeição na base, na oposição e até mesmo no PT. A expectativa é de que Dilma participe deste encontro. Líderes da base também terão reuniões semanais com ministros e, uma vez por mês, Dilma também deve encontrá-los.