Em entrevista exclusiva ao Brasília Capital o vice-governador Renato Santana (PSD) considera que não há o que comemorar no que diz respeito à aprovação das mudanças na previdência dos servidores do Distrito Federal – projeto considerado de suma importância pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Para Santana, houve açodamento na discussão da matéria.
O que você acha da proposta do Iprev aprovada na CLDF nesta semana?
Eu não participei em nenhum momento da construção da proposta. A proposta enviada ao governador foi formulada pela equipe de governo e planejamento. É óbvio que não vamos fazer a consciência do momento complexo que Brasília ainda vive.
O Sr. é favorável ao teor do projeto?
Sou servidor público há anos 25 anos. Meu posicionamento é o divulgado em nota pelo PSD, favorável à construção de uma proposta alternativa focada na não atração do problema para o futuro. Não apresentar uma proposta de solução momentânea, que nos anos vindouros traga o assunto de volta à mesa com uma carga maior. Não sou favorável ao “deixa que lá na frente se revolve novamente”.
Foi isso que aconteceu?
Este não é um tema para se resolver açodadamente. E nem quero dizer se foi ou não feito assim. É Um tema para ser amplamente debatido, sobretudo para quem é dono do recurso, que somos nós, servidores – aqueles que contribuíram e os que ainda contribuem.
Então houve açodamento?
Sou favorável à discussão e não vejo motivos para não se fazer isso com a Câmara Legislativa, com o Tribunal de Contas, o Judiciário e demais órgãos envolvidos. Essa solução não é de uma só pessoa. Temos que acabar com esse ranço de partidarizar as coisas que não são de partidos.
A quem mais interessa o assunto?
É um tema da cidade. Brasília tem 240 mil servidores, entre ativos e inativos. A nossa economia é feita a partir dessa base. A sustentação da economia é o serviço público. Em uma conta boba, temos de 1 milhão a 1,5 milhão de pessoas que dependem dessa economia. Quanto melhor estiver o servidor, melhor estará a cidade.
O GDF tem excesso de servidores?
Vejo alguns comentários de que o orçamento no Distrito Federal previsto para 2018 é de R$ 44 bilhões, dos quais R$ 22 bilhões serão consumidos com servidor. Isso não é consumo, não é gasto. É orçamento. Quando você paga salário, uma parte disso já fica retida na fonte, na condição de imposto de renda e previdência. A outra parte, bate e volta.
Como assim?
Quando você compra um veículo, tem imposto. Quem arrecada? O Estado. O pagamento de salário não pode ser encarado como despesa em uma cidade que nasceu administrativamente e a nossa maior indústria é o governo. Não temos indústria de grande porte e Brasília não nasceu com essa vertente. Até que se descubra uma nova vertente, esta é a base da nossa economia. Não podemos comparar Brasília com nenhuma outra cidade no mundo.
Como vice-governador, o Sr. não acha que deveria ter participado dessa discussão?
Não precisava. Agora, há que se ter a abertura para recepcionar sugestões. Não sei se isso aconteceu.
A mudança na previdência dos servidores é, de fato, a solução para a crise, como tem comemorado o governo?
Não vejo nenhum tipo de ambiente para se comemorar absolutamente nada. Basta ir no pronto-socorro de Taguatinga. Governo não tem que fazer festa, comemorar e nem soltar foguete, tem que trabalhar. Todo dia você resolve um problema, surgirão outros. Isto não é jogo de futebol.
É um jogo político?
Num ambiente de gestão pública, estamos falando de vidas. Quando ganha, pode estar salvando vidas. Temos que sair deste ambiente de queda de braço. Será que o governador e o vice estão namorando? As pessoas não querem saber disso. Enquanto estivermos nesse ranço da política, das cores e das bandeiras, vidas podem estar indo pelo ralo.
Como solucionar esse ranço?
Essa busca de solução tem que ser conjunta. Enquanto buscarmos culpados, sempre estaremos encontrando soluções meia-boca. É essa, por exemplo, que vira uma judicialização. O servidor se vê fragilizado, acha que um direito dele adquirido foi retirado e as coisas vão se arrastando no universo da judicialização e a solução não aparece.
E o Sr., o que tem feito para amenizar os problemas da cidade?
Tenho passado boa parte do meu dia na rua, onde as demandas são legítimas, porque quem nos traz são pessoas que pagam os impostos. Quando você paga imposto, você compra serviço.
Com a aprovação do projeto do Iprev, a Luos tem mais chances de passar na CLDF? O Sr. participa desta discussão?
Iprev tem uma vertente e Luos tem outra. Essa avalanche de puxadinhos que foram nascendo na cidade vinha sendo tratada de forma isolada. A Luos veio resolver tudo em um pacote. Tem muitos conflitos aí e cada cidade tem sua particularidade.
Cite algumas…
Tem conflitos no Gama, por exemplo, como o Setor de Indústrias. O desenvolvimento o Gama está travado por conta de interpretação ou de leis que foram declaradas inconstitucionais. A mesma coisa no Setor de Indústrias de Taguatinga. Tem a área do Taguaparque que pode ser um grande complexo de lazer, esporte e cultura. Já vai completar uma década que falamos disso.
O Sr. acha que o governo pode perder capital político com esses dois temas? Como vê a aliança do PSD com o PSB em 2018?
Essa discussão de 2018 é precoce, mas já acontece em algumas rodas em Brasília. Ela ocupa os bastidores de quem não está trabalhando. Quem está trabalhando não quer discutir 2018. Estou trabalhando em busca de resultados para a cidade.
Mas o Sr. pensa em voltar a compor a chapa majoritária novamente?
No meu caso, falar de 2018 seria muita pretensão da minha parte. Não fui eleito, junto com o Rodrigo, em 2014, para tratar da eleição vindoura no exercício do nosso mandato. Temos que apresentar resultados. Tenho a impressão de que a população não está satisfeita. E não é uma impressão que recebo dentro de uma sala, no ar-condicionado. É o que recebo e respiro na rua, chão de fábrica.
Como resolver a insatisfação da população?
Trabalhando. Só assim poderemos melhorar a avaliação que a população faz de todos nós. Quem tem a responsabilidade de discutir eleições futuras são os partidos políticos. Nós, agentes desses partidos, temos que nos conter para não discutir eleição futura durante o mandato, deixando de cumprir as metas e programa de governo escolhido pela população. Isso não é legal. Em Brasília, somos 35 eleitos, e temos que nos atentar com os compromissos que assumimos em 2014, até para não passar pelo vexame de, lá na frente, estarmos falando das mesmas coisas quando já tivemos a oportunidade de fazer. Sou pé no chão e mundo real.
O PSB está costurando uma aliança majoritária com o PDT nacional de Ciro Gomes. Pode acontecer o mesmo com o PSD? Todas as alianças partidárias nascem e vão surgindo a partir das alianças majoritárias. Isto é uma premissa. Tenho minhas convicções e o presidente do meu partido, deputado Rogério Rosso, tem as dele. Comungamos da convicção de que a aliança maior é com a população. Será que efetivamente estamos ‘aliançados’ com quem, efetivamente, tem legitimidade para cobrar, que é o eleitor? Tenho a impressão que não, quando vejo pessoas com o semblante de angústia e intolerância a nós, classe política.
Em 2014, o Sr. dizia que não era político…
Não vou afirmar que não sou político. Se estou na política, eu sou. Tenho que fazer a aliança a população. Não enxergo êxito em fazer aliança partidária e não estar ‘aliançado’ com a população. Não enxergo uma eleição de sucesso para quem está traçando cenários trancado numa sala, no ar-condicionado, enquanto o eleitor não está nesse jogo das alianças partidárias.