Apesar de ser um marco para o desenvolvimento e a integração do Brasil, Brasília nunca foi uma unanimidade. Esse sentimento, ainda nutrido muitos, é nocivo para a cidade. Os mineiros defendiam a mudança da Capital, mas sonhavam que ela fosse para Minas Gerais. Estudos técnicos chegaram a ser feitos no Triângulo Mineiro. Paulistas não queriam o Rio de Janeiro, mas nunca defenderam a transferência para o Planalto Central. Tanto que a migração de paulistas não foi das mais expressivas.
Passados quase 60 anos, Brasília já com mais de três milhões de habitantes, esse sentimento perdura e contamina autoridades de outros estados que os brasilienses passaram a hospedar. Foi assim com Fernando Henrique Cardoso. De uma hora para outra houve quase um retorno ao Rio. Órgãos como o Departamento Nacional de Combustíveis, via sua nova personalidade, Agência Nacional do Petróleo, tiveram suas sedes mudadas para a antiga capital. Outras estatais tiveram a mudança para Brasília paralisada. Nem os incêndios, em 2004 e 2017, que destruíram a sede da Eletrobrás, no Rio, foram fortes suficientes para que a nova sede fosse em Brasília.
Em governos mais recentes, foi aventada a possibilidade de a matriz do Banco do Brasil se mudar para São Paulo, o que certamente geraria um impacto no desemprego brasiliense, já que nem todos os bancários teriam condições de se mudar. Ideias dessa natureza, vira e mexe, são apresentadas por aqueles que ou não compreendem o papel de Brasília no concerto da Federação, ou são contra a cidade.
As mais recentes investidas passam por parlamentares querendo retirar uma fatia do Fundo Constitucional do DF, que, dentre outras tarefas, assegura o custeio da segurança pública de quem tem missões de outros Estados. Trata-se de uma proposta mesquinha. Retirar recursos do FCDF em nada alterará a realidade financeira das outras unidades da Federação, mas debilitará a Capital, que já vivencia um desemprego de 320 mil pessoas.
Aqui estão representações diplomáticas de quase 200 nações, órgãos internacionais dos mais variados. A cidade é porta de entrada e saída de autoridades estrangeiras. Brasília tem sua importância estratégica diferenciada. Por isso, requer medidas igualmente diferenciadas.
No atual governo, a má vontade para com Brasília é nítida. Não houve apoio à constituição da nossa Região Metropolitana, que poderia mitigar problemas sócio-estruturais do Entorno. Míseros R$ 3,5 milhões foram negados, para que o trem regional começasse a operar entre a Cidade Ocidental e o Plano Piloto. O Palácio do Planalto sentou em cima da Medida Provisória que concede o reajuste da Polícia Civil, sem correção há dez anos. E agora ameaça cortar 30% do custeio da UnB. São R$ 38,2 milhões a menos no orçamento.
Desse total, R$ 33,6 milhões são destinados ao custeio da manutenção dos campus. É com essa verba que se paga água, luz, segurança e limpeza, por exemplo. Mantido o garrote, quem se prejudica na ponta é a CEB, a Caesb – empresas já deficitárias – e gente simples, como serventes e vigilantes. Perdem, ainda, a construção civil, as empresas de informática, eletrônica e fornecedores de equipamentos. R$ 4,5 milhões seriam para investimento. Verba que não circulará mais por aqui, que não movimentará a economia local.
A UnB, criada por João Goulart em 1962, é a universidade de todos os brasilienses, sejam alunos, professores, servidores ou simplesmente moradores da cidade. Até pelo fato de o DF não possuir uma universidade estadual, é necessário que todos se unam em defesa da UnB. Assim estaremos defendendo Brasília.
O governador Ibaneis Rocha tem que assumir o papel de defensor de Brasília. Ao lado da bancada de senadores e deputados – que, por sinal, com raríssima exceção se calou diante da agressão à UnB –, nossos distritais, sindicatos, empresariado, intelectuais, religiosos, jovens (universitários ou não), a comunidade em geral deve ir para a Esplanada dos Ministérios e fazer um grande ato de desagravo à Universidade.
A UnB, assim como Brasília, é um patrimônio do Brasil. Aqui há um dos mais importantes centros de pesquisa da cura da malária. A universidade tem a nota mais alta concedida pelo próprio Ministério da Educação. Está entre as dez melhores do Brasil e as 20 melhores da América Latina. Não podemos deixar que a “balbúrdia” governamental destrua um patrimônio científico que levou mais de meio século para se materializar.Brasiliense, está na hora de defender a sua cidade e as suas instituições!