Se for mesmo candidato à reeleição, o governador Ibaneis Rocha (MDB) tem tudo para estar no segundo turno. Pesquisas realizadas em 2021 mostram que Ibaneis lidera as intenções de voto, embora com rejeição alta e baixos índices espontâneos e estimulados, considerando-se estar no exercício do cargo.
Ele, porém, pode melhorar seu desempenho nos próximos meses e dificilmente não estará entre os dois mais votados no primeiro turno. Agnelo Queiroz (PT) é um dos casos raros de governador que perde a reeleição na primeira volta eleitoral.
A questão é quem será seu adversário no segundo turno. Partindo do princípio de que a federal Flávia Arruda (PL) não será candidata ao Buriti, muitos apostam no senador José Antônio Reguffe (Podemos), que ocupa do segundo ao quarto lugar nas pesquisas realizadas em 2021 – lembrando que ele venceu, com expressivas votações, as eleições para deputado federal, em 2010, e para o Senado, em 2014.
Indefinição atrapalha
Não é tão simples, porém. Primeiro, porque estamos em janeiro, a campanha começa em agosto e a eleição é em outubro. Nenhuma eleição se decide tantos meses antes. O cenário político ainda não está totalmente construído, muitos pré-candidatos declarados ou não poderão desistir ou não se viabilizar.
Reguffe é um candidato forte, mas sem o peso que teve em eleições anteriores ou que era mostrado nas pesquisas em 2018. Seu mandato no Senado teve pouca visibilidade, muitos eleitores jovens nada sabem sobre ele e há dúvidas sobre seu desempenho em uma campanha eleitoral acirrada e competitiva.
Além disso, Reguffe terá de tomar duas decisões que vem adiando há meses: se será candidato ao governo ou à reeleição de senador e por qual partido disputará. Parece estar aguardando a definição de quem serão os candidatos ao Senado para se decidir, e principalmente se Flávia Arruda será candidata.
Direita congestionada
O Podemos ter o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro como candidato à presidência da República impede que Reguffe receba apoio de partidos de centro-esquerda e de esquerda, e o coloca à direita no espectro político brasiliense — na mesma faixa não só de Ibaneis como do senador Izalci Lucas (PSDB) e das deputadas Flávia Arruda (PL) e Paula Belmonte (Cidadania), possíveis candidatas.
Diante disso, Reguffe tem conversado com dois partidos à esquerda: PDT e PSB. Mas em ambos continuará tendo um problema: quer ser um candidato a governador acima dos partidos e de seus candidatos a presidente, para somar apoios. Como o PDT tem candidato (Ciro Gomes) e o PSB deverá apoiar Lula, do PT, dificilmente esses partidos aceitarão ter um candidato a governador isentão. Mesmo que aceitem, o PT não aceitará apoiar alguém que não se manifeste claramente por Lula.
Adversário virá da federação
O quadro político no DF está se encaminhando para que Ibaneis tenha outro adversário, e não Reguffe, no segundo turno: o candidato da federação que está sendo montada para reunir PT, PSB, PCdoB e PV, talvez em coligação com outra federação, que está sendo articulada pelo PSol e pela Rede. Aparentemente, com candidato mais frágil eleitoralmente, mas só aparentemente.
As pesquisas mostraram que o eleitorado brasiliense se divide, hoje, praticamente em partes iguais, entre as candidaturas de Bolsonaro (foto) e Lula e a rejeição a ambos. Como a chamada terceira via não dá sinais de que apresentará uma candidatura única, a tendência é que os votos dos que não querem nem Lula nem Bolsonaro se dispersem, sem possibilidade de um de seus candidatos chegar ao segundo turno.
Capitalizar a polarização
A polarização entre Bolsonaro e Lula deverá se repetir em Brasília. A federação de centro-esquerda (PT, PSB, PCdoB e PV) tem potencial para chegar ao segundo turno, ainda mais se seu candidato fizer boa campanha e souber capitalizar o voto em Lula (foto) e a rejeição a Bolsonaro e a Ibaneis. Papel que Reguffe não fará, pois nunca se posicionou como opositor ferrenho ao presidente e ao governador.
Se conseguir reunir outros partidos que provavelmente estarão com Lula, como o PSol e o Solidariedade, a candidatura da federação será ainda mais forte, com mais condições de chegar ao segundo turno. E, como se sabe, segundo turno é uma nova eleição.
Mas quem?
Três dos partidos que provavelmente vão constituir a federação de centro-esquerda já lançaram pré-candidatos. No PT, a sindicalista Rosilene Correia, diretora do Sinpro, que tem o apoio de dois terços do partido, e o ex-deputado Geraldo Magela.
O PSB lançou Rafael Parente, que foi secretário de Educação de Ibaneis, mas o professor Acilino Ribeiro promete disputar com ele na convenção. O PCdoB apresentou seu presidente regional, João Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango.
Uma via para Grass
No PSol, o sociólogo Raphael Sebba apresentou-se como pré-candidato, mas o partido ainda não se decidiu. E a Rede lançou o deputado distrital Leandro Grass. Como a candidatura de Grass não está recebendo apoio da direção nacional de seu partido, está em andamento a ida do distrital para o PV, que, assim, passaria a ter também um pré-candidato ao governo, ou para o PSB, caso Parente desista de ser candidato.
A candidatura de Grass é vista com simpatia por dirigentes de todos os partidos, e poderá ser a opção da federação e, talvez, de outros partidos que se coligariam. O DF não está entre as unidades federativas prioritárias para o PT, que tende a priorizar a candidatura da deputada federal Erika Kokay ao Senado e a eleição de um deputado federal. Isso abre espaço para o PV ou para o PSB.
Pouco espaço para outsiders
Os levantamentos dos institutos também mostram uma certa frustração com os candidatos que se apresentaram como não-políticos – a renovação nos parlamentos federais e estaduais superaram os 50% em 2018. Para 2022, a tendência é de que o eleitorado opte por concorrentes mais experientes.
Assim, candidatos outsider – como era o governador Ibaneis Rocha na eleição passada – terão poucas possiblidades de êxito. Mas isto não significa que eles não apareçam. Um nome que circula no setor produtivo do DF é o do vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), Sebastião Abritta.
Mesmo considerando pequenas as chances de se lançar na disputa, Abritta tem dito a amigos próximos que um líder com carisma, que passe confiança na geração de empregos e renda, iria longe na política local.