Léo Matos é um idealista. Um professor daqueles que não se vê no Congresso Nacional desde os tempos em que Darcy Ribeiro liderava os debates em defesa da educação. Aos 36 anos, o jovem nascido em Ceilândia, que dá aulas de informática desde os 22 anos, se apresenta como pré-candidato a deputado federal. Gestor dos cursos Espaço Campus e Estúdio Aulas (este online), preparatórios para concursos públicos, Léo Matos não por coincidência filiou-se ao PDT, partido fundado por Darcy e Leonel Brizola.
“A educação move o mundo, muda a pessoa.É a base de tudo. A educação levada a sério pode mudar completamente uma pessoa, como mudou a minha vida”, diz Léo Matos, que estudou em escola pública até passar no vestibular da Universidade Católica. Além de sua própria história, ele se baseia no exemplo do pai, Luís Matos, falecido há um mês, que começou a vida como servente de pedreiro e chegou a diretor do Sindicato dos Hoteleiros do DF e juiz classista da Delegacia Regional do Trabalho (DRT).
Casado com Amanda e pai de Leandro, de 14 anos, e Ithan, de seis, este morador de Águas Claras quer chegar à Câmara dos Deputados para liderar a Bancada da Educação. “Se elegermos um parlamentar com esse compromisso em cada estado da Federação, já faremos barulho pela reforma do ensino no Brasil”, aposta. Nesta entrevista ao Brasília Capital ele revela que espera contar com o apoio dos mais de 100 mil alunos que teve nos últimos quinze anos, e que usará as redes sociais para apresentar seus projetos aos 100 mil seguidores que acompanham suas aulas e palestras pela internet.
O que move um jovem professor de 36 anos,nascido em Ceilândia, a tentar se eleger deputado federal? – Coragem demais para enfrentar mais um desafio e indignação com o cenário político atual.Desde a minha infância em Ceilândia passei por muitas dificuldades. Assumir o desafio de ser candidato é ter a coragem que muitos não têm.Todo mundo quer mudar o país, mas não tem coragem de correr atrás disso.
Qual será sua bandeira como político? – Sem dúvida, a bandeira da educação.A educação move o mundo, muda a pessoa.É a base de tudo. A educação levada a sério pode mudar completamente uma pessoa, como mudou a minha vida.Nasci na Ceilândia, não tive muitas condições, estudei em escola pública.
Hoje, com o crescimento das redes sociais, você se tornou uma referência nacional como professor de informática para concursos. Como foi isso? – Os meus seguidores nas redes sociais são exatamente pelo meu trabalho em cursinhos preparatórios para concursos públicos. Trabalho com isso há 15 anos.Mais de 100 mil alunos já passaram pelas minhas aulas. Nas redes sociais tenho cerca de 50 mil seguidores no Facebook, 23 mil no Instagram e 30 mil no YouTube.
Quantos desses seguidores são de Brasília? – A metade deve ser daqui do Distrito Federal.
Caso se eleja, você pretende negociar cargos no Executivo ou vai cumprir integralmente o mandato? – O objetivo de ser deputado federal é representar a população.E a função do deputado é legislar e fiscalizar.Não teria essa mudança. Tenho interesse em continuar no cargo do início até o final do mandato.Não tenho interesse em cargos do Executivo ou de fazer esse troca-troca.O objetivo é propor e votar leis que favoreçam a educação.
No Congresso existem as bancadas evangélica, da bala, ruralista…Qual seria a sua? – Meu objetivo é criar bancada da educação, que é o que falta na Câmara Federal.Estou levantando uma bandeira, fazendo pré-campanhas para outros deputados em nível nacional que também são ligados à educação.Se o povo se unir e eleger alguém da educação em cada estado, a gente cria essa bancada e começa essa reforma que a educação tanto precisa.
Faltam investimentos em educação no Brasil? – Na verdade, o Brasil investe muito em educação. Só que investe de maneira errada.É aquela coisa: Você vai comprar um carro. Se investir no carro errado terá prejuízo. O Brasil, hoje, investe 5,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação e ocupa o 53º lugar no PISA, que é o programa internacional de avaliação de alunos.Ou seja, proporcionalmente, investe mais que os Estados Unidos,que estão numa posição muito superior à Brasil, em 17º lugar.Então, se a gente for analisar, o Brasil é um dos que mais investe, mas é um dos que têm menos retorno.
A que você atribui esse fenômeno? – O Brasil não tem um programa de capacitação de professores, quesão desmotivados pela falta de um bons salários.A gente pode mudar isso melhorando o salário dos professores. Claro, dentro da realidade do país. Tem que saber de onde tirar para fazer esse investimento.
Qual seria sua proposta para esta questão? – Já estamos nesse processo de qualificação dos professores.O professor hoje passa em concurso público e simplesmente é jogado na sala de aula.Não tem uma estratégia de ensino, não tem um projeto capacitação profissional. Entra sem saber nem como começar a preparar uma aula.Por isso que a qualidade do ensino no Brasil está tão baixa.
Muitos candidatos, antes mesmo de eleitos, anunciam que vão destinar suas emendas para determinadas áreas. Você enviaria todas as suas emendas para a educação? – Na verdade, muitos deputados usam as emendas parlamentares como forma de manter o apoio político.Eles destinam para aquela bandeira que levantam.As minhas emendas serão destinadas ao que for necessário e urgente. Se precisar reformar um hospital, manda para lá.Se precisar reformar uma escola, manda para lá.Não necessariamente para uma área específica, mas para aquelas que necessitam naquele momento.
Conhecedor das necessidades dos moradores da periferia de Brasília, o que você faria, como deputado, para melhorar a qualidade dessa população? – Se você olhar para as áreas mais carentes, verá que o pai começa a trabalhar muito cedo. Com isso, pode ser que a criança fique muito tempo sozinha e não tenha um apoio pedagógico e familiar adequado. Por isso, acho que eu me esforçaria muito para construir creches, reformar escolas. Creio que todos os esforços seriam no sentido de não deixar as crianças na rua, na casa do vizinho, e assim por diante.A reforma política tem que começar do ensino infantil até o ensino superior.
É esse cenário de crianças na rua que você vê na periferia da Capital da República? – Sem dúvida. As escolas na Ceilândia naturalmente têm uma demanda muito alta por reforma, melhorias na infraestrutura. Eu acredito que todo esse projeto de reforma do sistema educacional já beneficiaria muito a galera da Ceilândia também. Mas na Ceilândia falta muita creche. Nessas cidades mais carentes eu acho que tem que ter mais creches exatamente pelos pais terem uma necessidade maior de deixar seus filhos para irem trabalhar tranquilamente.
Ao se eleger, o parlamentar, muitas vezes, perde o contato com as pessoas. Como você faria continuar tendo esse sentimento de povo, de rua? – Claro que não posso falar de uma realidade que não conheço. Mas hoje, se for comparar, eu sou gestor cinco empresas.Tenho cinco escolas na área concurso público.Dou aulas, porquesou professor do curso.Não fico só na parte do canetão e do carimbo. Eu sinto na pele o mesmo o que o professor sente. E mesmo assim consigo visitar minha família,ir a alguns eventos da comunidade. Então,quando assumir o mandato, a gente tem que sentir na pele a agenda da Câmara para saber o que pode ser feito.
Qual a sua visão sobre o Fundo Constitucional do DF? –Lutaria pela manutenção.E melhor:Até pela ampliação. O Fundo Constitucional é muito importante. Brasília faz parte de um todo.Se a gente batalha para reformar o sistema educacional, e foi por isso que eu escolhi ser pré-candidato a deputado federal, foi não só lutar por Brasília, mas lutar em nível nacional,porque Brasília está incluída aí.Se você faz uma reforma política nacional, tudo isso vai refletir em Brasília. E aqui a gente tem o deputado Reginaldo Veras, que é um deputado distrital já defendendo a bandeira da educação.Só que ele não consegue fazer muita coisa, exatamente porque a educação é mais da legislação federal.Por isso a gente optou por disputar esse cargo.
Em uma entrevista ao Brasília Capital, o deputado Reginaldo Veras falou que uma andorinha só faz verão. Ele, na Câmara Legislativa, conseguiu mudar muita coisa, inclusive a cabeça dos colegas… – Como o Reginaldo falou:Uma andorinha pode fazer verão.Ele fez muita coisa sim, mas realmente ainda tem muito para ser feito. Se tivesse uma bancada – distrital e federal – as coisas mudariam.
O PDT acaba de lançar candidatura própria ao GDF. Você defende uma aliança com outras legendas? Qual a sua preferência? Ou seria pela chapa puro-sangue? – Toda campanha política precisa de uma coligação.Até mesmo pelo coeficiente eleitoral. O PDT está procurando essas coligações.Mas o que eu gosto de deixar claro é que às vezes você pode estar se coligando com pessoas do mal, que não têm uma história tão boa na cidade.Então, mesmo que ocorra essas coligações – eu já andei conversando com o Reginaldo Veras e outros do PDT –, que eu quero ficar um pouco mais livre para apoiar quem eu quiser para os cargos majoritários.Até mesmo para não influenciar também na minha história de vida.Eu não vou apoiar alguém que não tenha o nome limpo.Não vou apoiar alguém que não tenha projetos viáveis.Tem gente que vai falar de projeto na educação e não tem responsabilidade para avaliar se realmente o orçamento dá, de onde vai tirar, etc.O nosso objetivo é fazer uma campanha séria, com objetivos reais e com participação mesmo da sociedade.
Como será feito isso? – A gente vai fazer reuniões com a sociedade para ver o que as pessoas podem dar de opinião.Os professores que estão à minha volta também são especialistas em suas áreas.A gente vai fazer projetos viáveis e que sejam realmente alcançáveis.
Então já existe uma plataforma dos projetos que você vai defender como parlamentar? – Exatamente. Já tem essa plataforma em andamento. Não podemos publicar nada agora, até mesmo porque sou só pré-candidato. Mas quando começar a pegar no batente, vamos anunciar e mostrar que há viabilidade.
Qual a sua mensagem para Brasília? – Uma mensagem de esperança. Ainda existe possibilidade.A renovação política deve ser feita. Nós podemos deixar de acreditar. Pode ser que a gente não consiga usufruir dessa mudança, porque ela é em longo prazo.Mas a gente tem que começar.Eu acredito na educação.Acredito que a educação pode mudar a vida das pessoas.Vamos criar uma bancada da educação na Câmara Federal.E se possível também na Câmara Legislativa, apoiando o nosso deputado Reginaldo Veras.