O Eixo Rodoviário, o Eixão, cruza o Plano Piloto de ponta a ponta, formando a principal sustentação das Asas concebidas por Lúcio Costa. Embora seja um elemento de interligação da cidade de Norte a Sul e de Leste a Oeste, é um obstáculo para a integração desses dois setores, principalmente para pedestres. Ele opera quase como uma trincheira, com seis faixas de rolamento, onde veículos trafegam a 80 Km por hora. Isto quando respeitam o limite de velocidade.
O pedestre tem duas opções: ou se arrisca nesse perigoso corredor, ou na travessia das quase sempre insalubres e inseguras passagens subterrâneas. Mas a realidade poderia ser outra: há onze anos, o GDF guarda nas gavetas um projeto de remodelação dessas passagens, fruto de um concurso público nacional.
No ano passado, num período de quinze dias em novembro e dezembro, foram contabilizadas 25.147 pessoas atravessando o Eixo Rodoviário O levantamento é fruto da pesquisa Travessias do Eixão, realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), em parceria com colaboradores da Universidade de Brasília e da Associação Andar a Pé.
Desse total – a travessia pela Galeria dos Estados, entre os setores Comercial e Bancário Sul não foi computada –, 94% se valeram das passagens subterrâneas, aí incluídas as existentes nas estações de metrô, tidas como mais higiênicas e seguras. Os moradores do Entorno e de fora do Plano Piloto são os que mais atravessam de um lado a outro (82%). Em termos de gênero, as mulheres são maioria (56%).
Maioria prefere as passagens subterrâneas
O resultado da pesquisa traz dois dados surpreendentes. Primeiro, a imensa maioria preferir as passagens subterrâneas, quando o senso comum leva muitos a crer que o risco de atravessar o Eixão em meio aos carros seria a preferência popular. Segundo, o baixo volume de pedestres atravessando de Leste a Oeste, e vice-versa.
Essa segunda constatação se mostra mais expressiva quando consideramos que o metrô só circula do lado Oeste e os ônibus intermunicipais regressam ao Entorno apenas pelo Eixo Leste.
Estaria o Eixão dificultando também o acesso a outros modais de transporte? Seria de se esperar um maior fluxo de pessoas atravessando o Eixão, deixando ou buscando o transporte público. Isso se reforça quando constata-se que a maioria dos transeuntes (13.410) usou as passagens do metrô.
Trincheira rodoviária
A pesquisa revela que precisamos estimular mais o uso das passagens subterrâneas, inclusive pelos moradores do Plano Piloto, que parecem separados pela trincheira rodoviária. Para tanto, a travessia precisa ser segurança e salubre.
E para isso o GDF não precisa queimar muito a cabeça. Basta tirar da gaveta o projeto selecionado por ele mesmo, em 2012, em concurso público realizado em parceria com o Instituto de Arquitetura do Brasil. Mais do que revitalizar as passagens, a proposta vencedora pretendia transformá-las em elemento bucólicos de integração dos lados Leste e Oeste da cidade.
De autoria dos arquitetos Gustavo Partezani, Daniel Maeda, Diogo Esteves, Guilherme de Bivar, Ingrid Ori e Rafael Costa, o projeto propõe a transformação delas em novos espaços de convivência.
Seriam pequenas praças, onde haveria cafés, pequeno comércio e uma ciclovia de 13,5 Km interligando as dezesseis passagens. Um novo elemento de integração das Asas, essas praças seriam integradas às antigas paradas de ônibus dos Eixinhos, ainda hoje utilizadas pelo transporte intermunicipal.
Tapume – A primeira delas, entre a quadra do Hospital de Base e o Banco Central, chegou a ganhar tapume e placa de construção, no final do governo Agnelo Queiroz. Na atual pesquisa, a quantidade de pessoas que atravessa entre o SHMS e o SBS chega a 21% do total de transeuntes ao longo dos 14 Km do Eixão.
A edificação dessa passagem seria um belo laboratório referente à reação das pessoas em conquistar mais o espaço público, tomar para si a cidade em que vive, a exemplo do que ocorre no Eixão do Lazer, nos domingos e feriados. E o principal: garantindo a mobilidade ativa segura. Inclusive para cadeirantes e ciclistas, que praticamente não fazem tal travessia atualmente.
Cada passarela custaria R$ 10 milhões
Agnelo não foi reeleito e o projeto foi para a gaveta nos governos Rodrigo Rollemberg e Ibaneis Rocha. Procuradas, a Novacap e a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) não responderam aos questionamentos desta coluna.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Seduh) dispunha de uma cópia do projeto arquitetônico, mas não sabia informar o motivo de a obra não ter tido continuidade, nem seu custo estimado.
A não implementação do projeto teria sido decorrente do seu custo, R$ 10 milhões por passagem, considerado elevado à época. Há uma discrepância quanto à informação se ele chegou a ser licitado. No GDF, há quem diga que não, embora o canteiro de obra tenha sido instalado por Agnelo.
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