Paulo Miranda (*)
Nas escolas da Finlândia, aprender a identificar notícias falsas e desinformação é tão importante quanto ciências ou matemática. O país europeu, que tem 5,5 milhões de habitantes, incluiu a disciplina “alfabetização midiática” no currículo escolar desde as séries primárias. Entre as atividades, professores pedem aos alunos que editem seus próprios vídeos e imagens – uma forma de fazê-los perceber como é fácil manipular informações. Eles também aprendem sobre o funcionamento dos algoritmos e como ler notícias.
Na Finlândia, os especialistas apresentam e discutem os principais aspectos relacionados com a política: contexto das notícias, processo de preparação, principais objetivos e implementação da política. Por falta dessa educação midiática, Brasília lotou a Esplanada dos Ministérios e favoreceu o golpismo midiático, botou o golpista Temer no poder e depois o genocida Bolsonaro. A prisão de Lula foi o auge da encenação do analfabetismo midiático para ser exibida ao povo brasileiro e ápice da orgia das notícias falsas nas redações das empresas jornalísticas.
Mas o mundo também viu outras vítimas dessa magnitude. O Brexit, que tirou a Inglaterra da Europa, e a tal primavera árabe na Tunísia e no Egito. Nas salas de aulas no Distrito Federal, tenho dó de um professor ou de uma professora que tentar discutir o letramento midiático na escola. Com certeza, o educador ou a educadora será denunciado por algum aluno e o pai dele taxará o profissional, no dia seguinte, de comunista, com amplo apoio das redes sociais especializadas em fake news.
Ao invés de educação midiática, o Governo do DF implementou a militarização de várias escolas, com militares a ensinar Moral e Cívica e a bater continência. Teve diretor militar que se gabou de expedir 48 advertências por dia dentro de uma única escola. Em outubro, o analfabetismo midiático levou a melhor nas eleições no DF. Com exceção da Asa Norte, o genocida Bolsonaro venceu disparado. E a mulher da goiabeira foi eleita senadora.
Para barrar este analfabetismo midiático, é preciso, com urgência, seguir o modelo da Finlândia. Lá, alfabetização midiática é a política séria. É uma política nacional de educação midiática, coordenada pelo Centro Nacional de Educação Midiática do Ministério da Educação e Cultura. Além da visão, objetivos principais e ações propostas, a política visa esclarecer o campo da educação midiática e descrever os pontos fortes, valores e princípios da educação para a mídia.
Os esforços das escolas da Finlândia têm dado resultados. O país ficou em primeiro lugar em resiliência contra a desinformação entre as 41 nações da Europa. Com um dos melhores sistemas educacionais do mundo, a Finlândia se destaca pelo quinto ano consecutivo.
Brasília e o Brasil não podem ficar submetidos apenas a uma discussão sobre a regulamentação das redes sociais, que não nos pertencem, pois seus donos são os oligarcas nacionais e internacionais da mídia, os denominados barões midiáticos. Seus poderes dentro do Congresso Nacional, para onde elegeram suas maiorias, os tentáculos da ditadura financeira midiática são enormes, extremamente atuantes e poderosos. E antes que venham novos golpes midiáticos, que venham a educação e a alfabetização midiática.
(*) Jornalista, presidente da TV Comunitária de Brasília