O interesse público, missão maior de todo governo, deve ser o norte a ser perseguido pela administração. Ações afirmativas, neste sentido são sempre esperadas por aqueles que dedicam seus votos a um ou outro candidato.
Mas, para além de saciar a ânsia pela garantia dos direitos compreendidos e defendidos pelo conjunto da sociedade, o papel de um bom gestor é identificar as reais necessidades desses grupos. É aí que habita o verdadeiro significado do “servir ao bem comum”.
Iniciamos este editorial com a clareza de que, embora a sociedade tenha muita consciência do que, por direito, é seu, falta ainda alguma compreensão do que de fato é necessário em alguns aspectos. Na primeira quinzena da gestão Ibaneis Rocha, segmentos de Brasília ficaram em polvorosa com a possibilidade de encerramento do projeto Orla Livre.
Vários veículos de comunicação exploraram declarações mal colocadas pelo governador de que a população suja o lago. É incontestável que o uso desordenado acaba nisso e, em consequência, em danos ao nosso reservatório-cartão-postal. Nessa fala espontânea, um tanto casual, Ibaneis teve a coragem de dizer o que poucos querem escutar: a grande maioria dos problemas ambientais é ocasionada por ações antropomórficas, ou seja, de origem humana.
Talvez, o que o governador não tenha conseguido dizer, nas poucas palavras reproduzidas à exaustão pela imprensa, é que, acima do uso para o lazer, está a preservação do nosso reservatório de água. O que tem mais valor: o direito constitucional de garantir qualidade ambiental e acesso a água de qualidade ou o uso liberado de espaços que, na verdade, precisam ser preservados?
A fala de Ibaneis, seguida das manifestações de outros entes do GDF, reforça que atitudes imperativas no sentido de preservar o meio ambiente como patrimônio e direito constitucional será o tom na resolução deste dilema. Os espaços destinados ao lazer, à contemplação e à prática de atividades diversas em harmonia com o meio ambiente serão defendidos pelos gestores. Mas de forma organizada, orientada e ordenada.
Talvez, por mera suposição, Ibaneis esteja menos preocupado com o marketing advindo de ações de derrubadas que também criaram tensões na área de preservação ambiental. Afinal, goza do prestígio de quem foi eleito com 70% dos votos dos brasilienses, e está, de fato, preocupado com os impactos que se acumulam com o uso inadequado de áreas de proteção ambiental.
A agenda ambiental do DF ainda não parece clara. Se tivemos, nos últimos anos, intensos investimentos em recuperação de parques e implantação de novas unidades de conservação, desocupação irregular e combate à crise hídrica, ainda parece cedo para cobrar dos ex-ministros do meio ambiente Sarney Filho e Edson Duarte, à frente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e do Instituto Brasília Ambiental, respectivamente, uma posição mais assertiva sobre qual será o tratamento da pasta para questões históricas do DF. Vamos aguardar o avançar do tempo.
O chefe do executivo parece ter dado uma centelha de luz para a questão da preservação dos recursos naturais. Ainda de forma prematura, a condução de Ibaneis, legalista por profissão, parece conduzir tais questões sob a luz da letra fria da lei, inclusive em se tratando de demandas ambientais. A sociedade precisa entender que direitos e obrigações devem ser equilibradas na balança da gestão.
O caminho não é, de forma alguma, inviabilizar o acesso, mas construir, em parceria com a população, um trajeto diferente do que havia previsto Rollemberg. Liberdade sem ordem é prejudicial. E os danos ambientais, na maioria das vezes, não têm volta.