O professor Antônio Kubitscheck, que elevou em teste a funkeira Valesca Popuzada a “grande pensadora”, conversou com o Brasília Capital sobre as consequências da polêmica prova
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Após criar polêmica nacional depois de classificar a funkeira Valesca Popuzuda de “grande pensadora contemporânea”, o professor de Filosofia do Centro de Ensino Médio 3, de Taguatinga, Antonio Kubitschek, foi até a Universidade de Brasília (UnB) conversar com estudantes do mestrado do curso de Filosofia. Mais uma vez, o professor que colocou a filosofia na boca do povo chegou como vilão e saiu como herói. Mestres, doutores, mestrandos e doutorandos o aguardavam com argumentos que poderiam derrubar a tese de que Vaslesca Popozuda é uma grande pensadora. Em vão. Todos saíram rindo e com uma nova lição: a filosofia tem que se aproximar do povo. Antônio Kubitschek conversou com o Brasília Capital e contou um pouco mais sobre o caso e o que tem acontecido depois dele.
BC – Em levantamento que fizemos na redação, a última vez que a filosofia havia aparecido na mídia foi quando Joaquim Barbosa citou um pensador em uma das demoradas sessões de julgamento do mensalão. O senhor se sente com a sensação do dever cumprido quando vê a filosofia sendo tão discutida no Brasil?
É meio assustador dizer que tenho a sensação de dever cumprido. A coisa tomou uma proporção inimaginável. Qualquer perspectiva de polêmica imaginada foi por água abaixo. O que aconteceu foi muito mais além. A mídia participou disso, ela se sentiu provocada e tentou dar uma resposta. Foi positivo no sentido de a mídia passar a tratar positivamente as questões filosóficas. Nesse sentido, me sinto satisfeito com relação às respostas.
Quem é a próxima Valesca da filosofia?
O próximo é o Chico Buarque com a música da Geni, não é? Acho que não causaria tanta polêmica.
A escola há muito tempo é algo distante da realidade dos alunos no dia a dia. Atitudes como a sua visam aproximar a vida dos estudantes com o conteúdo acadêmico. Você acha que essa deveria ser uma ferramenta mais usada pelos professores?
Existe um conteúdo chamado erudito ou qualificado e existe um conteúdo chamado popular, ou acessível, em que a agente abordaria o contexto social dos alunos, o que está na cabeça deles, o que eles estão ouvindo e vendo. E é necessário que as escolas associem o conteúdo erudito ao dia a dia dos alunos. E isso tem que continuar sendo feito. Principalmente no ensino médio. O aluno precisa desta formação e deve ter à sua disposição professores que ensinem como aplicar o conteúdo qualificado na realidade de cada um. Acho que isso ainda vai longe. Vamos continuar fazendo. Já são muitos professores fazendo isso. Tomara que, cada vez mais, apóiem a idéia.
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BC – Que dia a Valesca vem a Brasília? Ela vai desfilar em carro aberto e parar Taguatinga? Vai ter beijinho no ombro na escola?
(Risos). Já falei que se ela quiser promover um encontro, este deve acontecer na escola. Tudo aconteceu na escola. É mais interessante o encontro dela com a escola do que o encontro dela comigo. Eu recusei encontros com ela em auditório porque eu não acho que seja importante eu encontrá-la, e sim, os alunos.
BC – O que você acha da resistência das pessoas com relação ao título de “grande pensadora contemporânea” dado a uma funkeira bonita?
A resistência imposta à Valesca é a mesma que resiste à idéia de que a escola pública possa construir um pensamento. É tão absurdo ter filosofia na escola pública quanto ver uma funkeira como pensadora. A sociedade – ou melhor, quem dita alguns padrões morais de nossa sociedade – tem um preconceito com isso e trata como aberração.