Já transitava no palco da vida como repórter, quando conheci o grupo musical Jovem Guarda, formado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e uma mineira bonita chamada Vanderléia, que passaram a fazer sucesso desde o primeiro show, em junho de 1965, na TV Record de São Paulo.
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Como o tempo é inclemente e não perdoa nem mesmo os ídolos, hoje as figuras dos três cantores estão muito longe de lembrar os então artistas de boa aparência: Wanderléia, aos 67 anos, graças à maquillage, ainda consegue disfarçar. Roberto e Erasmo, ambos com 73 aninhos, nem tanto: o capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, entronizado pelo povão como “Rei”, tinge de preto a ex-vasta cabeleira e já enfrentou bisturis dos melhores cirurgiões plásticos do País.
Quanto ao carioca da Tijuca, cognominado de Tremendão, a julgar pelas rugas ostensivas, nunca recorreu à plástica e também jamais pintou os cabelos, que se transformaram num amontoado de algodão tipo neve, que lhe dá o semblante de um velho de 90 anos.
Do trio que já encheu auditórios de fãs aloprados (Roberto ainda mantém forte audiência), Erasmo Carlos é o mais sofrido, apesar de já ter vendido mais de 100 milhões de cópias em CDs, nos 50 anos de carreira. Começou que sua primeira esposa, conhecida como Narinha, com quem teve um filho, cometeu suicídio em 1995.
Para reavivar a cicatriz deixada pela tragédia, o primogênito dessa primeira união, que se tornara músico e cantor com o pseudônimo de Alexandre Pessoal, faleceu na noite do último dia 14 deste mês de maio, em acidente de moto, aos 40 anos de idade. Toda a imprensa documentou o enterro de Alexandre, também conhecido como Gugu, quando os fotógrafos caracterizaram, em closes sugestivos, a expressão de dor no rosto de Erasmo.
Nove dias depois do acidente fatal de Gugu, Erasmo Carlos foi convidado pela apresentadora Fátima Bernardes para participar de seu programa diário matinal, de forte audiência na TV Globo. Mesmo visivelmente abatido, o cantor aceitou. E quando indagado se tinha condições de apresentar um de seus sucessos musicais, Erasmo empunhou o microfone e cantou, segurando as lágrimas:
– “Quem espera que a vida / Seja feita de ilusão / Pode até ficar maluco / Ou morrer na solidão. / É preciso ter cuidado / Pra mais tarde não sofrer. / É preciso saber viver / É preciso saber viver…”
É isso aí, amigo leitor. Erasmo Carlos tem toda razão: é preciso saber viver!
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