Precisamos falar e nos interessar mais sobre desigualdades sociais no Brasil. Somos um dos países mais desiguais do mundo, notadamente pelo enorme abismo entre ricos e pobres. E esses níveis extremos são incompatíveis com uma sociedade democrática.
Sem uma redução drástica das desigualdades, continuaremos a ser um protótipo de democracia inacabada que, ao contrário da linda sinfonia inacabada de Schubert, é bem feia. Sem a mitigação severa das desigualdades não poderemos nem sonhar com uma sociedade harmônica e pacífica. Para construirmos um país com mais justiça social e menos desigualdades, precisamos enfrentar as causas estruturais como pobreza, racismo, sexismo, exclusão democrática, entre outras.
A Oxfam, entidade internacional presente em mais de 90 países e no Brasil, que atua na busca de soluções para o problema da pobreza, desigualdade e injustiça social, estabeleceu 10 medidas prioritárias para o combate às desigualdades, para ser monitoradas nos primeiros 100 dias do governo Lula. São as seguintes:
1)-Garantia da diversidade de gênero, raça e região na composição do primeiro e segundo escalões do governo federal; 2) Restabelecimento de uma política nacional de participação social; 3) Aprimoramento do Bolsa Família; 4) Plano de Enfrentamento da Fome; 5) Valorização real do salário-mínimo; 6 – Demarcação de terras indígenas e titulação de quilombos e territórios agroextrativistas; 7) Taxação extraordinária de super-ricos; 8) Adoção de medidas de transparência e responsabilidade com o orçamento federal; 9) Enfrentamento do trabalho análogo à escravidão e precário no campo; e 10) Retomada dos compromissos climáticos e das políticas ambientais.
Na análise dos primeiros 30 dias do governo, constatou a entidade que, das 10 ações listadas, sete estão em andamento e três ainda não foram iniciadas, Confira aqui as ações.
As ações ainda não iniciadas são: Demarcação de terras indígenas e titulação de quilombos e territórios agroextrativistas; Taxação extraordinária de super ricos; e Enfrentamento do trabalho análogo à escravidão e precário no campo. As demais estão recebendo atenção satisfatória, com destaque para a retomada dos compromissos climáticos e das políticas ambientais.
Dentre as medidas prioritárias do novo governo, a entidade deixou de listar uma de grande importância: adoção de medidas de combate da desigualdade de inclusão democrática, consistente em ações governamentais voltadas à motivação, incentivo e conscientização dos segmentos mais vulneráveis da sociedade, visando incluí-los na democracia.
Só um gigantesco esforço para a formação de uma sociedade verdadeiramente democrática, consciente da importância do voto, da política e da democracia, mobilizada e organizada para a participação poderá qualificar a representação política e superar o Centrão.
Sem isso, os espaços de participação e representação continuarão ocupados por oportunistas e corruptos, preocupados apenas em acumular riqueza e poder, os quais não demonstram quaisquer interesses pelo País e pelo povo.