Talvez você não saiba, mas eu mudei de endereço. E não sei se você conseguirá me encontrar. Foi uma tarefa difícil sair. Percebi que, dentre tudo que eu guardava, muito pouco já me supria. E abandonei tudo que não preenchia, até algumas roupas que nunca tive onde usar. Doei alguns objetos. Coisas que sempre ocuparam espaço e eu nunca soube direito onde deveria colocar.
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Os porta-retratos eu aumentei. Mas diminui as pessoas das fotografias. Substitui algumas por mais momentos com outras que mereceram ficar. Arrastei todos os móveis. Eu precisava encarar o pó que estava retido. Limpei o chão, e descobri que a vida tem acúmulos que a gente nem percebe juntar. Deixei tudo mais próximo, não queria espaço. Não adianta fugir dos tropeços, a gente tem que saber onde caminhar.
Talvez você não saiba, mas tracei algumas linhas no meu coração. Agora tudo está organizado onde deve ficar. Não retirei ninguém, ainda não sei controlar esse entra e sai dentre as batidas. Mas percebi que a bagunça impede que a gente sobreviva, e quando a gente vê, o que faz sorrir fica perdido se a gente não souber procurar.
Organizado, eu permito que as coisas coincidam. Organizado, eu sei que há um lado que dói. Mas sei que há o outro que faz bem. E compreendi que amar é deixar as portas dos lados do coração abertas, e que não adianta discutir com o lado que a pessoa insiste em ocupar.
Não estou amando menos. Não me interprete mal! Nunca fui de amar pouco. Mas tenho filtrado tudo que quer chegar. Fiz um acordo com a serenidade e apenas me enlaço naquilo que preserva minha paz. Talvez você não saiba, mas uma casa que requer paz, não é bem-vinda para quem não faz questão de ficar. E o coração sabe que amor de mãos dadas com a paz é uma raridade, e não é qualquer sentimento que ele vai deixar passar.
Talvez você não saiba. Mas mudei de endereço. E organizei meu coração. Não estranhe quando bater na porta. Você vai perceber que ir atrás de mim não é suficiente para me encontrar.