Em 2019, nosso país será dirigido por um
novo representante: Jair Messias Bolsonaro, ex-deputado federal e capitão
reformado do Exército. Com o resultado das urnas, diversas análises são feitas,
a fim de descrever cenários e traçar perspectivas. E, como eu já ouvi muito
sobre a português do futuro presidente, resolvi falar sobre o assunto.
Na noite do dia 27 de outubro, Bolsonaro
fez dois discursos – um lido e outro espontâneo. O primeiro foi muito bem
redigido, com uma mensagem otimista. Pouco importa quem linguisticamente
elaborou o texto: qualquer pessoa notável está rodeada de assessores, e isso é
necessário! Ninguém sabe de tudo e, quando preciso, deve contar com o suporte de
profissionais, para que a mensagem chegue ao receptor com clareza. No segundo –
devido à espontaneidade –, não há o mesmo rigor gramatical. Todavia, isso
acontece com qualquer pessoa, seja ela brasileira ou não! A velocidade entre o
que se pensa e o que se fala é muito alta, e isso compromete o monitoramento
linguístico.
É notável também que o presidente eleito
possui alguns vícios de pronúncia, como, por exemplo, não pronunciar B quando
este não é seguido de vogal (como em “obviamente”). Todavia, sobre a ortoépia e
prosódia do futuro presidente, deixo a você, leitor, um questionamento: vamos,
novamente, cair no erro de avaliar competência por meio do modo de falar das
pessoas? Fizemos isso com Lula e Dilma; chegamos a supervalorizar Temer e suas
mesóclises e outros arcaísmos. Em um país do tamanho do nosso, com as
dificuldades educacionais que temos e com uma história da língua atípica,
considerar pronúncia um critério de valorização ou demérito significa colocar a
nós mesmos nessa esteira avaliativa, uma vez que todos nós temos os nossos vícios.
Sempre que esse incauto pensamento povoar as suas ideias, lembre-se de Mateus
7,3: por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que
está no teu? Pronúncia não mede educação; educação não mede competência.
Vale também falar sobre as influências
linguísticas advindas dessa circunstância. Para alguns, por metáfora, Mito;
para outros, por paronomásia e trocadilho, Bozo. O processo de derivação
sufixal anuncia que estamos à beira de um novo período – o bolsonariano – ao passo que o processo de derivação prefixal indica
uma nova formação do poder executivo, com os superministérios (e o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
recomenda essa grafia). As hashtags –
que, muito em breve, devem ser analisadas em futuras pesquisas acadêmicas –
invadiram as nossas discussões (tanto escritas quanto orais, uma vez que,
quando necessário, fazemos # com os dedos): #BrasilAcimaDeTudo,
#DeusAcimaDeTodos, #EleNão, #EleNunca.
Independentemente disso tudo, cabe a nós,
eleitores vencedores ou vencidos, fiscalizar as ações de Jair Bolsonaro. O
nosso Brasil merece um futuro feliz! E, para fechar, quero relembrar os versos
de Humberto Gessinger:
Ao encontro de
De encontro a
Seja o que for
O bom português
Não vai nos salvar.