O debate político brasileiro está dominado por duas visões maniqueístas: uns não percebem os custos institucionais da derrubada de uma presidente eleita, mesmo dentro da Constituição, nem os riscos dos anos seguintes, mesmo com novo presidente; outros ignoram o esgotamento da credibilidade do atual governo e sua presidente, desmoralizada por falsas promessas, incompetência na gestão da economia e contaminação pela corrupção ao redor.
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Ambas as visões não percebem os riscos de o Brasil ingressar em um período de decadência, seja em função da continuidade de um governo que já nasceu condenado por seus erros, seja devido a um governo com um nome novo mas sem novidade para os rumos do Brasil.
Este debate imediatista está custando ao Brasil não enfrentar os grandes desafios de um país que, mais uma vez, perde a chance de usar seu maior recurso – sua população educada – para fazer-se uma nação eficiente, justa, democrática, com protagonismo no cenário mundial.
No lugar de avançar, entendendo a realidade do mundo global (economia baseada no conhecimento, limites ao crescimento, cooperação entre o setor público e o privado, fontes alternativas de energia, responsabilidade fiscal), continuamos no velho modelo — protecionismo fiscal à indústria, desprezo à inovação, consumo em vez de poupança e investimento, ocupação depredadora do território, antagonismo entre Estado e setor privado, governos quebrados.
Em consequência, no lugar de enfrentarmos a crise, estamos caminhando para uma decadência histórica. As indicações dessa decadência estão na violência generalizada que já começa a desagregar o tecido social brasileiro; está em uma política sem partidos, sem propósitos, sem ética, onde a juventude não vê políticos como líderes admirados, mas como aproveitadores de recursos públicos.
A decadência está em uma economia que se desindustrializa, sem dar os passos para um PIB baseado na alta tecnologia, sem competitividade, produtividade e capacidade de inovação; está nas finanças públicas condenadas pela própria Constituição a gigantescos déficits provocados por gastos com o passado: os pobres que não emancipamos, um sistema de aposentadoria insustentável, uma dívida financeira impagável; um país sem recursos financeiros para construir seu futuro.
Cada um destes problemas exige reformas profundas, mas todos eles dependem de educação de qualidade para todos. Por isso, ao assistirmos ao debate atual entre impeachmistas e antiimpeachmistas, vale a pena lembrar o que disse James Carville, chefe da assessoria do então candidato Bill Clinton, ao interromper a discussão entre assessores sobre qual era o principal problema dos EUA: “É a economia, estúpido!”.
A continuação ou a interrupção do mandato da presidente Dilma não será suficiente para trazer saída à crise e evitar a decadência, se não entendermos que, para o Brasil: “É a educação, gente!”.
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