Em quase quatro horas de depoimento na Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista tentou explicar que não recebeu orientação do ex-procurador Marcelo Miller para gravar o presidente Michel Temer (PMDB). Afirmou, ainda, que levar a sério os novos áudios apresentados à PGR por engano é como acreditar em uma “conversa de bêbados.”
Joesley afirmou aos procuradores que conheceu Marcelo Miller antes dele ser exonerado da PGR, porém, ele teria se apresentado apenas como advogado e dizendo que já tinha pedido exoneração do Ministério Público – o que só ocorreu, de fato, em abril.
Segundo Joesley disse aos procuradores, Miller não trabalhou no acordo de delação nem quando deixou oficialmente o Ministério Público. Ele afirmou, no entanto, que conversou superficialmente com o ex-procurador sobre o acordo de delação. Na mesma época em que fez os contatos com Miller, Joesley buscava um nome para assumir a área de compliance e combate à corrupção da JBS.
Além de Joesley, ainda prestarão depoimento Ricardo Saud e o advogado da empresa, Francisco de Assis. Os três delatores foram convocados para esclarecer o teor das conversas gravadas em novo áudio entregue à PGR na última semana.
Nos diálogos, os executivos citam políticos, ex-ministros e até ministros do Supremo Tribunal Federal. Eles também chegam a afirmar que o ex-procurador Marcelo Miller, que participou do acordo de delação, atuou para beneficiar os executivos.
A PGR suspeita que Miller tenha atuado como agente duplo. O depoimento do ex- procurador está marcado para amanhã (8).
Após receber os áudios, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou investigação para apurar as suspeitas e anunciou que reveria o acordo de delação premiada assinado com os executivos.
Uma das possibilidades é que, após ouvir os executivos, Janot suspenda os benefícios da delação premiada. Entre os principais benefícios, eles não seriam indiciados criminalmente pelos crimes relatados. Janot pode pedir também a prisão dos delatores se entender que eles mentiram na delação. Em coletiva de imprensa no início da semana, Janot afirmou que, mesmo cancelado o acordo, as provas obtidas têm validade.
A tese foi rebatida pelo advogado do presidente Michel Temer, Antônio Cláudio Mariz. A decisão final da validade das provas deve ficar com o Supremo Tribunal Federal.
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