O distinto leitor lembra que prometi escrever sobre as três datas significativas deste mês de maio: o Dia do Trabalhador, o Dia das Mães e o Dia da Libertação dos Escravos. Como já foi publicado neste cantinho de página, comentei dois eventos. No primeiro, perguntei: “Comemorar o quê?” –, argumentando que não havia jeito para mascarar a realidade de um país que tem o vergonhoso salário mínimo de 724 reais, inferior aos países mais pobres da América do Sul. Quanto à segunda promessa, o Dia das Mães, exaltei merecidamente a figura dessas santas mulheres, que sacrificam tudo em favor dos filhos, educando-os e protegendo-os sob o manto sagrado do amor materno, mesmo nas piores circunstâncias de sobrevivência.
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Mas como águas passadas não rodam moinho, meu comentário se transfere agora para a terceira e última data: 13 de maio, terça-feira, que, até pela irrelevância, sequer foi feriado nacional. A “comemoração”, restrita ao calendário convencional do Ano Domini, registra que a 13 maio de 1888 a regente princesa Isabel assinou um documento de nome bonito, batizado de Lei Áurea, que ficou caracterizado como a Libertação dos Escravos. Traduzindo: a partir daquela data, os negros escravizados ficariam livres das chibatadas dos capatazes brancos e que, por qualquer falta cometida, eram amarrados nus nos pelourinhos, quando geralmente morriam à míngua. Isto porque, à época, morrer mais um ou menos um negro não significava nenhuma perda numérica. Afinal, o Brasil tinha sido o país que mais importara escravos da África nos navios negreiros: cerca de cinco milhões, quase três vezes mais do que os Estados Unidos.
Vamos, então, dar vivas à generosidade da princesa Isabel? Como aprendi a contar até dez, o meu voto é contra. Essa senhora de sangue azul (?) nada mais fez do que mandar abrir os cadeados das senzalas e despedir os trabalhadores escravos. Em seguida, contrataria agricultores na Itália para preencher as vagas, principalmente nas plantações de açúcar e café.
Quanto aos ex-escravos, então libertos, ficaram pastando nas ruas, sem lenço e sem documentos. O pior: analfabetos. E foi assim que nasceu a marginalidade em nosso País, tendo como vítimas os brasileiros de pele escura, descendentes de uma raça forte e de sangue bom, que continuam sendo discriminados até hoje, disfarçadamente.