Com a crescente facilidade para compra e uso de drones, a fotografia atravessa uma revolução silenciosa. A nova perspectiva, de cima para baixo, revela mundos que o olhar ao nível do solo não consegue alcançar e oferece opções artísticas e comerciais para todos os gostos e bolsos. A transformação profissional de quem tira o sustento com as lentes é tema da segunda reportagem especial do Brasília Capital sobre as tendências inovadoras do mercado de trabalho, iniciada na edição 727 com a matéria “A manicure do século 21”.
Para Daniel Costa, 34 anos, que tem uma década de experiência como fotógrafo e filmmaker (profissional de audiovisual responsável pela produção de filmes, desde a concepção da ideia até a finalização), o avanço da tecnologia representa “uma nova maneira de contar histórias”. Ele enfatiza que o drone não é apenas um brinquedo. O equipamento oferece um ponto de vista diferente para retratar algo ou alguém. “A narrativa muda completamente. Você passa a trabalhar com ângulos, padrões e movimentos que o solo não proporciona”, afirma.
Já Cristiano Costa, veterano da fotografia, de 47 anos, acredita que os apetrechos mais modernos deram mais liberdade ao seu estilo. “Com o drone, a gente consegue fazer o que antes exigia um helicóptero. Era um voo complexo e caríssimo, que agora ficou ao alcance de todos. É uma nova maneira de trabalhar, quase como se estivéssemos tentando voar junto”, explica. Aos colegas da velha guarda que ainda torcem o nariz, Cristiano ressalta que o drone é uma necessidade. “Na fotografia imobiliária, ele é quase exigido. Na cobertura de determinados eventos, ele proporciona ângulos que ninguém consegue pelo solo. Veio para ficar, com certeza”, defende.
Foto: Cristiano Costa
Adriano Teixeira, 37 anos, trabalha no mercado desde 2010 e se especializou em fotografia aérea em 2012, quando passou a perceber o valor estético que o drone proporciona. “É como se Brasília, com toda sua geometria, tivesse sido feita para ser fotografada do alto”, compara. Mas uma coisa, segundo ele, não mudou: o olhar apurado. “Com o tempo você passa a saber exatamente como mover o drone para chegar ao resultado que quer, tal qual um cineasta tentando o melhor take (trecho de uma cena)”, explica.
Se o resultado final costuma encher os olhos dos clientes, o caminho até lá não é simples. Os profissionais que manuseiam drones combinam habilidade para pilotar, coordenação motora aguçada e, principalmente, cumprimento às regras estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em virtude da burocracia, Cristiano opta pelo uso de drones que pesam até 250 gramas, porque exigem menos autorizações e permitem trabalhar em espaços aéreos que outras aeronaves não alcançam. “Isso me proporciona mais liberdade para focar na criatividade”, diz.
Para Adriano, o piloto precisa ir além de apenas saber decolar e pousar. “É preciso preparar o voo, checar o clima, o espaço, saber o que quer dizer cada luz no controle. Tudo tem que ser mapeado para minimizar riscos”, alerta. “Para mim, que sempre joguei muito videogame, o controle ficou quase instintivo. Mas para usar de forma profissional, você precisa de muito mais que instinto. É indispensável estudar e se preparar para imprevistos”, acrescenta.
Ainda que a alma do trabalho seja o olhar de cada artista, a inteligência artificial tem sido uma aliada na pós-produção, etapa posterior ao registro bruto. “Ainda prefiro dar o meu próprio tratamento às imagens, mas a IA me proporciona velocidade para trabalhar”, confessa Cristiano. Daniel acrescenta que outros recursos, como estabilização automática e tratamento de luz, têm mais funcionalidade. “Se você quer um resultado autêntico, precisa ter o seu estilo, a sua expressão. A IA é apenas uma parceira”, completa.