Nathália Guimarães
A pressão arterial considerada normal para os brasileiros mudou. Elaborado em conjunto pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), de Nefrologia (SBN) e de Hipertensão (SBH), uma nova diretriz passou a classificar como pré-hipertensão valores entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9.
O documento, lançado no 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Belo Horizonte (MG), acompanha a tendência internacional. Em 2024, o Congresso Europeu de Cardiologia já havia colocado a pressão de 12 por 8 na faixa de risco.
A hipertensão responde pela maioria dos infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) no Brasil. Dados da SBH revelam que 27,9% dos adultos convivem com a doença, e apenas um terço mantêm a pressão realmente controlada.
GUIA – Em entrevista ao Brasília Capital, a diretora do Departamento de Hipertensão Arterial da SBN e coordenadora da diretriz, Cibele Isaac Saad, explica que a ideia é oferecer um guia prático e aplicável para médicos e enfermeiros da rede básica.
“Isso ajuda a reduzir desigualdades regionais e a melhorar o controle da pressão em todo o país. A meta única para todos os pacientes com hipertensão, que era de 14×9 passa a ser abaixo de 130×80 mmHg, independentemente da idade, sexo ou comorbidades. Essa unificação facilita a prática clínica e reduz o risco de complicações cardiovasculares e renais”, informa.
Saad destaca que o documento foi feito pensando na realidade brasileira. Por isso, pela primeira vez, um capítulo é dedicado exclusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS), já que aproximadamente dois terços dos pacientes com hipertensão são acompanhados na atenção básica.
Segundo ela, a adaptação das recomendações ao SUS inclui priorizar medicamentos disponíveis na rede pública, fortalecer protocolos de acompanhamento multiprofissional e estimular o uso de exames.
Diagnosticado pelo SUS
O estudante Guilherme Passos Pinheiro, 24, morador de São Paulo (SP), descobriu que tem hipertensão pela rede pública – foi diagnosticado aos 16, após crises de dor.
“Eu sentia muitas dores de cabeça e nos olhos, e recebi o diagnóstico ao ir no posto de saúde. Desde então, reduzi a quantidade de sal em todas as refeições, uso o aparelho de medição diariamente, mantendo um registro da minha pressão, e uso medicamento todas as manhãs”, explica.
Para ele, a mudança na diretriz pode até assustar algumas pessoas, mas acredita que isso ajudará a prevenir casos como o dele, de hipertensão em idade jovem.
Guilherme Passos Pinheiro: “Reduzi a quantidade de sal em todas as refeições, uso o aparelho de medição diariamente e uso medicamento todas as manhãs.” Foto: Arquivo Pessoal
MULHERES – Outro ponto de atenção da diretriz é a saúde feminina. O texto orienta medir a pressão antes da prescrição de anticoncepcionais, acompanhar de perto gestantes com hipertensão e oferecer opções seguras de tratamento nesse período.
O documento também reconhece a vulnerabilidade de fases como peri e pós-menopausa, além da necessidade de seguimento prolongado para mulheres que tiveram hipertensão na gravidez, como é o caso da comerciante Joana D’Arc Ramos, de 49 anos.
A brasiliense descobriu a hipertensão após sofrer pré-eclâmpsia na segunda gravidez, em 2009, aos 33 anos. “Eu ficava muito inchada, e meu filho nasceu prematuro, com 1,3 Kg”.
Depois disso, Joana fez exames e consultou um cardiologista, que a diagnosticou como hipertensa. Ela começou o tratamento, tomando remédio, mas relaxou, achando que estava bem.
“Contudo, voltei a passar mal e descobri que estava passando pela menopausa, Por isso, tive que voltar com o tratamento com a nova diretriz e redobrei os cuidados. Fui ao nutricionista e estou seguindo uma dieta e vou começar a frequentar a academia. Tenho que me cuidar para não passar por coisa pior”.
Causa e Prevenção
A cardiologista do Hospital Anchieta de Taguatinga, Débora Duarte, informa que a hipertensão arterial é uma condição multifatorial, que pode ser influenciada por genética, envelhecimento, obesidade, sedentarismo e até fatores ambientais e socioeconômicos.
“O impacto para os pacientes é significativo. A hipertensão é silenciosa, muitas vezes sem sintomas, mas é um dos principais fatores de risco para infarto, AVC, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e até demência. Em outras palavras, controlar a pressão é uma das medidas mais eficazes para aumentar a expectativa e a qualidade de vida”, destaca.
Para Caio Simões, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês, a Diretriz Brasileira de Hipertensão coloca a prevenção no centro do cuidado com a saúde. “Esse paciente está num nível de pré-hipertensão. É um momento que a gente tem que caprichar ainda mais no estilo de vida saudável, fazer atividade física, perder peso, comer menos sal. Não é necessário mudar a medicação. É apenas um alerta para que as pessoas se cuidem mais”.
O presidente da SBH, Nelson Dinamarco, reforça que a prevenção inclui acompanhamento contínuo e medidas simples no dia a dia: “É importante implementar mudanças no estilo de vida, procurar orientação regular com o serviço de saúde e, em especial, implementar hábitos de redução de estresse, reduzir o consumo de sódio e alimentos industrializados e bebidas alcoólicas”.
Pagodeiros indicam 5 formas de cuidar da saúde
Em Brasília, a banda de pagode Doze por Oito entrou na onda da nova diretriz brasileira de hipertensão. Formada por Eric Vianna (cavaquinista), Hugo Mondadori (vocalista), Thiago Miranda (percussionista) e Gustavo Choairy (percussionista), o grupo busca trazer a “pressão ideal” do pagode.
Nas redes sociais, a banda publicou uma série de vídeos bem-humorados, com a legenda: “Manter a pressão ideal é coisa séria, tá? Siga as nossas orientações prazerosas e mantenha sua pressão sempre no batimento ideal!”.
O post incluiu cinco formas de cuidar da saúde antes do evento “Pagode dos Prazeres”: hidratação, ouvir a playlist do Doze por Oito no volume máximo, corrida leve, meditação ouvindo a voz de Thigas e ensaiar coreografias do grupo no espelho.
O conteúdo gerou comentários divertidos de internautas, como: “Novo nome da banda: 11 por 7”, fazendo referência ao novo patamar de pré-hipertensão da população brasileira.