Apresentado com pompa em fevereiro deste ano, o “Artificial Intelligence Action Plan”, projeto de US$ 500 bilhões voltado ao fortalecimento da inteligência artificial nos Estados Unidos, enfrenta dificuldades antes mesmo de sair do papel. Idealizado pelo presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, o plano foi lançado com apoio de representantes de big techs como Oracle, Microsoft e Nvidia, além de parlamentares republicanos influentes.
A proposta previa um amplo pacote de medidas para impulsionar a competitividade dos EUA frente à China, incluindo investimentos em infraestrutura digital, centros de supercomputação, incentivos fiscais e parcerias estratégicas com universidades e empresas. Porém, 5 meses após o anúncio, o plano encontra obstáculos para avançar.
Parte significativa dos recursos anunciados ainda depende de aprovação no Congresso e, paralelamente, uma disputa por protagonismo entre governo federal, legisladores e líderes do setor privado tem retardado a implementação de medidas concretas.
A criação de um novo Escritório Nacional de Inteligência Artificial, vinculado diretamente à Casa Branca, provocou desconforto inclusive entre aliados republicanos, que veem risco de centralização excessiva.
GEOPOLÍTICA – As dificuldades também se refletem nos bastidores corporativos, e um dos principais impasses envolve as negociações entre dois protagonistas do consórcio responsável pelo projeto: OpenAI e SoftBank.
O grupo japonês, responsável por parte dos investimentos, tem exigido maior controle sobre a estrutura dos centros de dados, informalmente chamados de “Stargate”, enquanto a OpenAI defende uma governança mais aberta e descentralizada.
A tensão reflete, além de interesses econômicos, uma disputa geopolítica velada entre Washington e Tóquio. Há, ainda, divergências entre empresas norte-americanas sobre as prioridades do plano. Nvidia, por exemplo, tem pressionado por mais investimentos em semicondutores, enquanto Microsoft e Oracle defendem foco em nuvem e plataformas digitais.
A falta de consenso sobre áreas estratégicas contribuiu para o impasse. Críticos apontam a baixa participação de universidades, entidades científicas e organizações civis no desenho da política. Pesquisadores têm manifestado preocupação com a ausência de mecanismos claros de transparência, controle público e governança responsável.
Apesar dos entraves, Trump segue defendendo a proposta como central para reposicionar os EUA na corrida global por tecnologias emergentes. Em eventos recentes, tem reiterado que o país precisa “liderar a revolução tecnológica”, embora ainda não tenha apresentado evidências de avanço concreto na execução do plano.
Por ora, o projeto revela os dilemas de um cenário em que o Estado tenta coordenar políticas de alta complexidade em meio a pressões do mercado, interesses externos e disputas internas. A corrida por soberania digital, antes tratada como bandeira consensual, tornou-se palco de tensões típicas da era da inteligência artificial.