Nomes simpáticos, logomarca com paleta de cores vivas e crucificação da “velha política”. Assim vêm travestidos os políticos autointitulados “novos” na campanha eleitoral de 2018.
No caso do Partido Novo – que adota as cores laranja e azul claro em sua logomarca, se vangloria de não usar dinheiro público em suas campanhas e usa o slogan “um jeito de mudar” –, a retórica e a propaganda não condizem com a prática.
Para driblar a nova legislação eleitoral, que proíbe doações de empresas aos partidos políticos, o Novo adotou a estratégia de receber dinheiro de executivos de grandes instituições financeiras, a exemplo do Itaú Unibanco e da Porto Seguro.
A manobra da legenda laranja e azul foi descoberta pelo Brasília Capital a partir do cruzamento dos nomes das pessoas que fizeram doações para o Novo e de seus Cadastros da Pessoa Física (CPFs) – conforme preconiza a lei eleitoral, estas informações precisam constar ao lado do valor de cada doação a partido ou candidato.
A maioria dos nomes que bancam o Novo com grandes repasses de dinheiro gira em torno do Itaú Unibanco. A começar pelo candidato à presidência da República, João Dionísio Amoedo, que aplicou R$ 4,5 milhões no partido – correspondente a aproximadamente 1% de seu patrimônio declarado à Receita Federal, superior a R$ 400 milhões.
Porto Seguro – João Amoedo foi conselheiro de administração do Itaú Unibanco até 2008. Em 2002, era presidente da financeira do banco BBA, quando a empresa foi vendida para o Itaú por R$ 650 milhões.
O Itaú tem canalizado grandes volumes de recursos para campanhas eleitorais. Em 2014, a instituição aplicou mais de R$ 10 milhões em vários candidatos, segundo consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na prestação de contas de Amoêdo, a segunda maior cota foi doada por Fernão Bracher, fundador do banco de atacado BBA (atual Itaú BBA). De acordo com TSE, ele aplicou R$ 50 mil em Amoêdo. E já havia investido outros R$ 50 mil para tirar o Novo do papel.
Para a fundação do partido também colaboraram Fábio Barbosa, presidente da Fundação Itaú Social e ex-presidente do Santander Brasil, e Israel Vainboim, presidente do Unibanco.
O bom trânsito de Amoêdo com o alto escalão do sistema bancário privado também lhe rendeu o apoio de Anis Chacur Neto, presidente do banco ABC Brasil, e de José Eduardo Cintra Laloni, sócio do ABC, que juntos doaram R$ 80 mil.
Nas contas do Novo ainda aparecem doações de R$ 250 mil do fundador e acionista da Porto Seguro, Jayme Garfinkel, outra empresa na qual o Itaú Unibanco tem participação, e da gestora de investimentos Cecília Sicupira Giusti, filha de Carlos Alberto Sicupira, sócio do 3G Capital.
Fundo Partidário – A principal fonte de Amoêdo, no entanto, é o financiamento coletivo, que lhe rendeu mais de R$ 300 mil. O Novo tem direito a R$ 98 mil mensais do Fundo Partidário, dinheiro que diz se recusar a receber, uma vez que, segundo suas regras internas, campanha eleitoral não deve ser feita com recursos públicos.
Entretanto, os líderes da agremiação desistiram de devolver os valores depois de serem informados de que o dinheiro seria redistribuído entre os demais partidos. Optaram, então, por doar a quantia à Polícia Federal. Mas enfrentaram entraves legais. Assim, a maior parte do dinheiro é depositada numa conta para ser usado, posteriormente, numa campanha pública contra o Fundo Partidário.
Crescimento – Pesquisa do instituto FSB para o BTG Pactual mostrou crescimento de Amoêdo. Em alguns cenários, o presidenciável do Novo já encosta em concorrentes tradicionais, como Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e até Marina Silva (Rede).
Na declaração espontânea de voto, Amoêdo recebeu 3% das intenções, e 4% na estimulada, praticamente dobrando os índices anteriores. Seu eleitorado se concentra majoritariamente na faixa dos que recebem mais de cinco salários mínimos, e a maioria é da região Sudeste.
Apesar do crescimento, o Partido Novo é considerado um projeto a longo prazo. E os seus poderosos financiadores sabem disso. O foco da divulgação de suas propostas é na internet. Até porque a legenda tem pouco espaço na propaganda televisiva, com apenas dois blocos de cinco segundos cada e uma inserção de sobra com trinta segundos.
Para se ter ideia do quanto é pouco, Geraldo Alckimin (PSDB), por exemplo, tem dois blocos diários de 5 minutos 32 e segundos cada. Nestas eleições, o Novo busca vagas no Legislativo.
Na corrida pelo Planalto, pretende chegar à frente de do candidato governista Henrique Meirelles (MDB) – economista como Amoêdo – apoiado pelo presidente Michel Temer e também muito influente entre os banqueiros, setor do qual é oriundo profissionalmente.
Em Brasília, a legenda lançou o empresário Alexandre Guerra na disputa pela sucessão do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Herdeiro da rede de lanchonetes Giraffa’s, Guerra declarou à receita um patrimônio de R$ 1,18 milhão, e avisou à Justiça Eleitoral que já investiu R$ 20 mil na própria campanha, tornando-se o principal financiador do projeto.