Da Redação
O Brasil tem mais de 4,6 milhões de pessoas portadoras da doença de Chagas (Trypanosoma cruzi), transmitida principalmente pela picada do barbeiro, inseto comum no interior do Brasil e nas regiões da floresta amazônica.
A doença é considerada endêmica em 21 países do continente americano. Para aumentar a conscientização sobre o problema, negligenciado pela maioria da população e pelos governos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu, em 2020, a data de 14 de abril como o Dia Mundial da Doença de Chagas.
Especialistas estimam que 90% dos infectados desconhecem essa situação, por falta de diagnóstico, o que leva a um baixo índice de registros (são apenas 38.500 novos casos relatados por ano).
Assim, são muitas gerações de pessoas vivendo sem saber que sofrem de Chagas, por não terem sido sequer diagnosticadas e, portanto, alheias às possibilidades de tratamentos existentes. Nos últimos dois anos houve queda do registro de novos casos, provavelmente devido à pandemia da covid-19.
Em Goiás, controle é feito nas UBS
Em 2020, em apenas cinco meses o Brasil registrou 1.746 mortes que tiveram como causa básica a doença de Chagas. Uma amostra deste cenário nacional é o estado de Goiás, onde houve 168 notificações naquele ano somente no Hospital das Clínicas da Universidade Federal (UC-UFG). Em 2021, os registros caíram para 140, que, mesmo sendo um número expressivo, pode indicar subnotificação.
O controle da doença de Chagas em Goiás é feito a partir das Unidades Básicas de Saúde (UBS). “As ações voltadas para o diagnóstico e tratamento da doença são extremamente importantes e, apesar das dificuldades, devem ser enaltecidas”, diz a presidente da Associação Goiana de Portadores de doença de Chagas (AGPDC), professora Nilva Belo de Morais.
“A doença mata 750 pessoas por ano somente em Goiás. É importante as pessoas saberem que o tratamento é gratuito pelo SUS. Defendemos que a informação é tudo, pois a doença de Chagas, além de negligenciada, é carregada de preconceitos.
Não existe cura
Moradora do distrito de Olhos d’Água, em Alexânia, a 100 quilômetros de Goiânia, Nilva Belo, 42 anos, descobriu que tinha Chagas há nove anos, quando sentiu muita dor de cabeça, febre e vômitos, alguns dos sintomas clássicos da doença.
Desde então, passou a tratar-se. “Não existe cura nem vacina, mas se a pessoa tiver o acompanhamento correto e seguir as indicações médicas e, principalmente, descobrir o problema precocemente, é possível levar uma vida praticamente normal”, atesta ela. Por isso, segundo a presidente da AGPDC, o objetivo da entidade é mapear e mobilizar os portadores e sensibilizar os gestores públicos e a sociedade para abraçar a causa e proporcionar o acesso ao tratamento e uma qualidade de vida para os portadores.