Ironia ou não, foi um dos pioneiros do humorismo político, Apparício Torelly, o Barão de Itararé, quem escreveu a seguinte frase: “de onde menos se espera é que não sai nada”. E, mesmo sem a certeza de que o governador Rodrigo Rollemberg seja, talvez, um grande fã do jornalista e escritor, me arrisco a dizer que a frase é um dos mantras no alto escalão do Buriti. Nós, servidores, e também a população, não esperamos mais nada do atual governo. E, de lá, nada sai. A não ser que seja em benefício próprio: como o desmonte da saúde e, como suposta consequência, a privatização do SUS-DF.
O primeiro passo do Programa de Governo Não Oficial de Rollemberg e sua equipe foi abandonar todo e qualquer investimento nas unidades de Saúde do DF. Hospitais, UPAs e centros de saúde: todos sem insumos básicos, medicamentos, com déficit de profissionais e extensas filas para atendimento.
Talvez seja por isso, quem sabe, que alguns gestores estão abandonando seus cargos. Não aguentam a pressão do “nada”. Não suportam a regra do “desmonte”. Mas, entenderam (alguns deles) que o objetivo final é lucrar em cima de toda essa inércia. O “arranjo jurídico” chamado Instituto Hospital de Base (IHBDF) é prova disso.
Enquanto, efetivamente, o governo não pode transformar o Hospital de Base em instituto, já que existem leis e normas para isso, o abandono da unidade fica mais evidente a cada dia. Pelo menos quatro serviços foram suspensos no maior hospital do DF, entre cirurgias cardíacas de alta complexidade e tratamentos oncológicos. E os problemas não param. Há também o déficit de profissionais, o bloqueio de leitos, a falta de medicamentos e muito mais. O HBDF é, hoje, o resumo do “nada” de Rollemberg. E, por isso mesmo, deve sustentar a narrativa de que é preciso privatizar.
E assim ele segue o plano sem nada ter feito nos últimos dois anos e oito meses de governo, Rollemberg assiste, provavelmente sentado, ao caos se espalhar por todo o Distrito Federal. Agora, ele confirma o escalonamento de salários. O que fez, no entanto, para evitá-lo? Nada. Também anuncia o corte de R$ 500 milhões do orçamento de 2017: com certeza, porém, sem incluir os gastos com publicidade. Alguma dúvida? Foram R$ 20 milhões em propaganda no primeiro trimestre deste ano. Afinal de contas, haja marketing para convencer a população de que Brasília está “no rumo certo”.
Mas, como diria também Barão de Itararé, o provável escritor preferido do governador, “tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.”