Agência UniCeub de Notícias (*)
O Distrito Federal ocupa a décima colocação geral na lista de órgãos transplantados no ano de 2016, com 795 órgãos. A lista é liderada pelo estado de São Paulo (adepto do mês Setembro Verde) com mais de oito mil transplantes realizados no último ano.
Mas mesmo com os bons números logrados pelo Brasil no ano passado, a situação de quem espera por um transplante é a mesma. Além das longas filas e da demora, a falta de um diagnóstico preciso também é um empecilho, retardando ainda mais o já demorado processo. É o que conta o comerciante Darley Adriano, de 48 anos, que só conseguiu realizar o transplante de fígado três anos depois da primeira consulta. “Em novembro de 2013 fui no hospital para exames e me disseram que teria que retirar minha vesícula. Não sendo bem acompanhado, acabei passando por várias intervenções cirúrgicas, sendo que em março de 2016 fui encaminhado para o transplante de fígado.”, relatou o paciente.
Em outros casos a espera não chega a ser tão longa. A estudante de engenharia Clara Toffoli, de 21 anos, diz que assim que soube da necessidade de um transplante viajou para o Paraná, onde fez a cirurgia em que recebeu um rim doado pro sua mãe. Clara sofre de Glomeruloesclerose Segmentar e Focal (GESF), uma doença renal rara marcada pelo endurecimento e esclerose dos glomérulos renais, e impedindo que os capilares filtrem o sangue e removam substâncias danosas por meio da urina.
A estudante é apenas uma das 108 pessoas que receberam um rim no ano passado. Segundo o Ministério da Saúde, o órgão ocupa apenas a sexta colocação na lista das maiores demandas que é liderada pelo tecido ocular da córnea, com 14.461 transplantes realizados em 2016.
Muito além dos órgãos sólidos
Especialistas entendem que muitas pessoas, quando pensam em doação, acabam se lembrando apenas dos chamados órgãos sólidos (rim, coração, fígado, etc.). No entanto, transplantes de medula também são muito comuns e podem ser feitos mais de uma vez. “Cada um de nós tem na sua medula óssea, centenas de milhões de células-tronco para cada quilo de peso, com uma capacidade de regeneração que é infinita (…) então nesse caso, se pode doar várias vezes que não há nenhum prejuízo para quem está doando”, afirma o médico Jorge Vaz Pinto Neto, coordenador-geral do Hemocentro de Brasília, um dos pontos da capital em que se pode cadastrar para doar.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, o Brasil possui o terceiro maior banco de dados de medula óssea do mundo com 4,4 milhões de pessoas cadastradas. O hematologista afirma que “depois de dois milhões de cadastros, a chance de encontrar um doador é muito grande”. Isso, entretanto, não significa celeridade nos casos. O médico ressalta que o transplante de medula óssea não é considerado um procedimento de urgência e por causa disso a logística para a realização da operação acaba sendo retardada em função de outros casos que precisam de ser resolvidos mais rapidamente, já que não há leitos nem médicos suficientes para a demanda.
Levando em consideração apenas o Distrito Federal, o Ministério da Saúde informa que 111 transplantes de medula foram realizados em 2016. O número pode parecer baixo, mas o médico Jorge Vaz lembra que deve se levar em consideração a população da Unidade Federativa. “Para o atendimento das necessidades da população, a gente pode dizer que todas as nossas necessidades estão sendo atendidas”. O problema, segundo ele, esbarra na etapa anterior ao procedimento. “É possível que pessoas que não tiveram acesso a um diagnóstico adequado, não puderam ser submetidas ao transplante”, comenta.
No quesito conscientização, o coordenador do Hemocentro comemora o engajamento da população brasiliense. Ele comenta que mais de 200 mil doadores do Brasil são provenientes do Distrito Federal e diz que datas com o intuito de chamar a atenção para uma causa, são muito bem-vindas. “Uma coisa importante nessas datas é a utilização do espaço que se tem (em jornais) para informar do que se trata, qual a importância disso para os pacientes e também informar qual é a realidade brasileira”.
Outro lado
Cirurgias de transplante de órgãos têm alta taxa de sucesso com alguns procedimentos chegando a lograr êxito em mais de 90% das vezes. O Ministério da Saúde evita comentar detalhadamente os números para não desestimular a operação e prefere apenas observar que dependendo da gravidade, a estatística pode mudar. Nessa tentativa de não assustar a população, os poucos casos de fracasso acabam não sendo ouvidos. O de Ivete Basileu é um deles.
Atualmente trabalhando no apoio pedagógico do Centro Educacional da Asa Norte – CEAN, a antes professora, conta que a cirurgia de transplante de córnea para acabar com o ceratocone (condição em que o a córnea se curva para fora) foi muito tranquila, mas as complicações vieram depois. “Demorou muito a cicatrizar e quando estava próximo à cicatrização, o olho furou e tive que fazer uma sutura novamente e por conta disso a córnea esbranquiçou. Pelo excesso de medicação eu desenvolvi catarata e nisso eu deveria repetir o transplante, mas ainda não tomei a decisão”, conta. Ela atribui a dificuldade de cicatrização que sempre teve ao problema ocorrido. Comenta ainda que o irmão sofreu do mesmo problema e dois meses após a cirurgia ele já estava bem.
Ivete diz ter muito medo de refazer o procedimento mesmo com acuidade visual de 20/400, que significa baixa visão severa, e a expectativa de que algum dia fique totalmente cega. “Eles (os médicos) me dão 1% de chance. Não tem garantia nenhuma”.
Por Victor Fuzeira
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