Gutemberg Fialho (*)
No mês de prevenção e combate ao HIV/Aids, o Distrito Federal pouco tem a comemorar. Com maior prevalência entre os jovens de 19 a 29 anos, a capital do País enfrenta a desinformação, o medo da falta de insumos para tratamento e, desde o início do ano, uma transferência sem data marcada do Núcleo de Testagem e Aconselhamento (antigo CTA) da Rodoviária do Plano Piloto para a 508 Sul.
No dia 1º de dezembro, ativistas e representantes de entidades que atuam na promoção e defesa dos direitos humanos de pessoas vivendo com HIV/Aids no DF chegaram a protestar contra a transferência do Núcleo de Testagem para o antigo Hospital Dia. Isso porque, segundo eles, a Rodoviária é um ponto estratégico, que amplia o atendimento para pessoas de todas as regiões do DF. Agora, segundo eles, há queixas de pacientes “de um lado para o outro”, sem saber para onde ir.
Atualmente, segundo dados da Secretaria de Saúde, o antigo CTA da Rodoviária atende 50 pacientes por dia e aproximadamente 1 mil por mês. O trabalho é fundamental, em especial diante da queda no diagnóstico da doença: menos 15% em 2021 se comparado a 2020. Importante lembrar que, em algumas pessoas, a infecção pelo HIV não causa nenhum sintoma. Por isso, o diagnóstico antes de desenvolver AIDS, na fase inicial, é tão importante: no início, o vírus ainda se encontra em baixa concentração no organismo, sendo mais fácil de controlar com medicamentos.
O Núcleo de Testagem e Aconselhamento realiza testes laboratoriais de hepatites B e C, de HIV, sífilis e teste rápido de HIV, além de atender pacientes que necessitam fazer a PrEP (profilaxia pós-exposição), por exemplo. Por isso, alertam os pacientes, a volta do funcionamento pleno do espaço, no centro de Brasília, é tão importante.
Hoje, no DF, há mais de 16 mil pessoas em tratamento com antirretrovirais distribuídos pela rede pública. E essas pessoas estão preocupadas, também, com a queda do orçamento no combate e tratamento ao HIV/Aids. Segundo o boletim de Monitoramento do Orçamento da Saúde, do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e pela Umane (associação civil sem fins lucrativos), o corte nos recursos será de, pelo menos, R$ 407 milhões em 2023. Mais retrocesso no combate à doença.
Por isso, campanhas de combate ao HIV/Aids devem ser permanentes e constantes, para falar, em especial, sobre prevenção. O uso de preservativo nas relações sexuais é o principal aliado no combate ao vírus do HIV/Aids e a outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Além disso, este é o método mais acessível.
Até novembro do ano passado, a Secretaria de Saúde do DF registrou 581 infecções e 76 mortes de pacientes pelo vírus HIV/AIds. De 2016 a 2020, foram diagnosticadas, em média, 701 ocorrências por ano e 306 novos casos de Aids. Para uma doença que tem prevenção, os números são altos e, desconfio, até subnotificados, tanto pela ausência de testes quanto pela baixa procura pós-exposição. O que pode estar relacionado a outro problema: o preconceito.
Neste Dezembro Vermelho, fica aqui o alerta: é preciso lutar de verdade contra o HIV/Aids. Por meio da conscientização, de informação e de políticas públicas que não podem ser interrompidas, como o Núcleo de Testagem e Aconselhamento da Rodoviária.
A Aids mata. E você, cidadão, pode fazer sua parte simplesmente se protegendo durante o sexo. Seja consciente. E, sobretudo, vamos banir o preconceito. Ele ainda é uma barreira. Falar abertamente sobre o tema é necessário, sem estigmas ou medo. A ignorância e a negligência matam mais do que a doença.
(*) Presidente do SindMédico-DF