Quando vi a imagem de Dona Marina, de 63 anos, ensanguentada e deitada no asfalto em Taguatinga, perguntei a Deus do Céu: \”Por que tamanha judiação?\”.
Nordestino que se preze gosta de São João. E se emociona com Luiz Gonzaga. Na casa da minha vó Elza, o mês de junho tinha gosto de canjica, e os dias eram coloridos pelos retalhos que ela tirava da gaveta para enfeitar nossas roupas de quadrilha.
Foi assim durante toda a minha infância e de meu irmão Júlio. Desde o tempo dos estalinhos até a época das paqueras na festa do Marista, em Taguatinga Sul.
Nessa mesma escola, nessa mesma festa, um carro arrastou Dona Marina no último sábado (15) por 100 metros. Ela vendia balões e chegou a oferecer um desconto para o motorista e sua passageira.
Os balões custavam R$ 15, ela aceitara vender por R$ 10. No fim da negociação, os balões quase lhe custaram a vida. O casal tentou levá-los à força. A passageira puxou os balões e o motorista arrancou com o carro, cujo valor (R$ 220 mil) daria para comprar 22 mil balões – já com o desconto prometido pela vendedora.
Minha avó não vendia balões, mas passava horas atrás do balcão do armarinho contando botões e medindo fitas. Ali fez amigos e enfeitou a calça de muita gente.
Taguatinga é lugar de gente boa, como minha saudosa vó Elza. Com certeza, no Céu, ao lado de São João e Santo Antônio, no sábado ela chorou por Dona Marina.
É em nome de minha vó e de todas as pessoas de bem de Taguatinga que pedimos: desculpa, Dona Marina!Ps.: Dona Marina, além de vender balões, é diarista. Devido aos ferimentos, não está conseguindo trabalhar. Ela precisa de dinheiro para pagar o aluguel. Ajude-a por meio da vaquinha virtual: http://voaa.me/marina-baloes